...KAYLA...
Assim que chegamos em casa, me joguei no sofá sem nenhuma preocupação, largada de qualquer jeito, sentindo como se meu corpo estivesse feito de pedra. A primeira coisa que fiz foi chutar os sapatos para longe, sem nem me importar onde eles iriam parar.
"É impressão minha ou tá tudo girando?" murmurei, minha voz arrastada enquanto olhava para o teto. Minha cabeça parecia flutuar, e o resto do meu corpo estava mole e pesado, como se eu fosse afundar no sofá para sempre.
"Eu *avisei* pra você não beber demais, mas você nunca escuta," Yuna disse, me lançando aquele olhar maternal que ela sempre fazia questão de usar nessas situações. Ela cruzou os braços, balançando a cabeça enquanto me observava praticamente desmaiada no sofá.
"Desde quando ela *escuta* alguém, Yuna?" Sophie completou, passando por mim com o tom sério de sempre. Ela tirava o casaco que tinha colocado assim que saímos do evento, sem nem me dar muita atenção.
"Ah, qual é, gente! Nós ganhamos! *Nós ganhamos, porra!*" gritei, jogando os braços para o alto, mesmo sem forças para me levantar. "Por que vocês têm que ser tão caretas? Tipo, nós vencemos! Isso não acontece todo dia! Vamos continuar festejando! Que tal uma balada, hein?" sugeri, ainda jogada no sofá, meio tonta, mas cheia de energia. Ou, pelo menos, tentando parecer que tinha energia pra isso.
"Que tal um banho?" Yuna rebateu com firmeza, já se aproximando de mim com aquele olhar decidido que só ela tinha. Antes que eu pudesse protestar, senti suas mãos firmes nas minhas costas, me ajudando a levantar com cuidado.
"Banho?" perguntei, tentando focar meus olhos nela, mas ainda meio zonza. "Sério?"
"Sim, festeira," ela respondeu, me guiando com paciência, como se eu fosse uma criança que se recusava a ir para a cama. Ela colocou uma das mãos nas minhas costas e segurou meu braço com a outra, garantindo que eu não tropeçasse pelo caminho.
"Eu só queria dançar um pouco..." murmurei, meio derrotada, enquanto deixava Yuna me levar.
"Só queria te tirar do sofá antes que você desmaie," ela respondeu, com um sorriso travesso, mas ainda firme.
Atrás de nós, ouvi Sophie bufar baixinho enquanto pegava as nossas coisas e as colocava no lugar. "Essa noite ainda vai ser longa..." ela disse, como se já soubesse o trabalho que teria pela frente.
Enquanto Yuna me empurrava para o banheiro, não pude evitar um sorriso. Tudo bem, talvez eu tivesse exagerado um pouco – ok, muito –, mas a sensação de vitória ainda estava pulsando no meu peito. Não importava o quanto elas reclamassem, eu sabia que, no fundo, elas estavam tão felizes quanto eu.
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Entro no chuveiro e deixo que a água quente me envolva, como um abraço acolhedor. O som da água caindo é quase hipnótico, e eu me permito um momento de tranquilidade. Com as mãos, aplico o sabão sobre meu corpo, sentindo a espuma deslizar suavemente pela pele, enquanto o aroma fresco e limpo me envolve.
Apoio-me contra a parede fria, buscando estabilidade enquanto a água escorre em cascata. A pressão do dia a dia parece se dissipar a cada gota que toca meu corpo. Fecho os olhos e abaixo a cabeça, permitindo que a água escorra pelos meus cabelos, puxando-os para baixo com força. Sinto cada fio se soltar, como se estivesse me livrando de um peso invisível.
"Ganhamos mais..." A frase ressoa em minha mente, um eco de conquistas e momentos compartilhados. Mas, mesmo com essa lembrança, uma sensação de vazio persiste, como uma sombra que não consigo afastar completamente.
Com um suspiro profundo, me lembrando dos lugares dos acentos vazios perto do palco.
"Esqueça isso, Kayla..." murmuro para mim mesma, enquanto pego uma toalha e a envolvo em torno do meu corpo. O tecido macio e quente me traz um pouco de conforto, mas o peso do álcool ainda persiste. Sinto a leveza da água escorrendo, mas a sensação de embriaguez ainda me acompanha, como uma sombra que não quer me deixar. Sei que amanhã essa sensação vai me consumir por completo, mas, por agora, não me importo.
Caminho até a cama, cada passo um lembrete do álcool. Sento-me na beirada, sentindo o colchão afundar sob meu peso, como se ele estivesse me acolhendo após um longo dia. Meu olhar se dirige ao meu celular que repousa sobre o lençol, um objeto inanimado, esperando por um sinal de vida. Com um toque hesitante, aperto o botão para ligá-lo, meu coração acelerando levemente na expectativa de ver alguma notificação. Mas, ao olhar para a tela, percebo que não há nada. Claro, pensei, um sorriso involuntário surge em meus lábios.
Pego o secador de cabelo, ligando-o e deixando o som do vento quente preencher o espaço ao meu redor.
...SOPHIE...
"Será que ela está bem?" Minji pergunta, sua voz carregada de preocupação enquanto abre a geladeira, o som metálico das prateleiras se movendo ecoando na cozinha. Ela busca uma garrafinha de água, mas sua expressão revela que a sede não é a única coisa que a inquieta. O brilho da luz fluorescente reflete em seu rosto, acentuando as sombras que se formam sob seus olhos.
"É a Kayla, com certeza. É só mais um pouco de drama e tals," respondo, tentando desviar a atenção do que realmente importa. Meus olhos permanecem fixos na tela da TV. Ao meu lado, Yuna e Haley estão imersas na trama, mas a inquietação de Minji é palpável, como uma sombra que se estende sobre nós.
"Eu também estou preocupada..." Yuna concorda, interrompendo o fluxo do filme ao pausar a tela. Ela volta seu olhar para Minji, que agora segura a garrafa de água como se fosse um objeto precioso. A tensão no ar é quase tangível.
"Meninas, vocês conhecem ela..."Digo, Yuna me olha, e o olhar de Minji se une ao dela, ambas com expressões sérias que falam mais do que palavras poderiam. A preocupação delas é evidente, e eu não posso ignorar isso, mas a verdade é que não sei como lidar com a situação de Kayla.
Ela tem os seus altos e baixos e ambos são demais para eu acompanhar..
"Sophie... você sabe que..." Minji começa, sua voz firme, mas eu não quero ouvir. Viro-me para frente, tentando evitar uma discussão que sei que não levará a lugar algum. O filme continua a tocar, mas a tensão entre nós é mais intensa do que qualquer cena na tela.
"Eu sei, ok..." respondo, a frustração transparecendo em minha voz. Termino a frase e me viro de costas para elas, buscando um momento de silêncio, um espaço onde eu possa processar tudo isso.
Kayla, na verdade, tem andado mais animada do que o habitual. Seu tom de voz, embora vibrante, parece um pouco forçado, como se estivesse tentando convencer a si mesma de que tudo está bem. Algo mudou em seu jeito de ser; há uma energia quase frenética nela, como se quisesse se meter em confusão ou chamar a atenção, como se já não fizesse isso o suficiente. Essa nova faceta dela me deixa inquieta, uma sensação de que por trás do sorriso, algo mais profundo está se escondendo.
"Bem... se tem algo errado com ela, não acham que ela iria nos contar se quisesse?" digo, tentando trazer um pouco de lógica à situação. Minhas palavras atraem a atenção de todas, e o ambiente se torna mais sério, como se a leveza do filme tivesse sido interrompida por uma verdade incômoda.
"É, você tá certa..." Minji concorda, juntando-se a nós no sofá e tomando um gole da garrafinha de água que havia buscado. O gesto dela é quase automático, mas a expressão em seu rosto revela que ela também está refletindo sobre o que eu disse.
"Ótimo," digo, pegando o controle remoto e despausando o filme.
" Sério? Vocês nem me esperaram!?" A voz de Kayla surge de repente. Ela sai de seu quarto e se joga ao meu lado no sofá, fazendo com que eu a encare. "Foi mal," ela diz, com uma expressão de inocência que parece quase exagerada.
Ela parece ótima, não estão vendo?
Noto os seus cabelos loiros, ainda um pouco úmidos, como se ela tivesse acabado de sair do banho. A camisola de costume, uma camiseta branca larga, contrasta com a calça de moletom azul que combina perfeitamente com os seus olhos. É uma combinação simples, mas que combina com ela.
"Podemos voltar" Minji sugere, pegando o controle da minha mão com um movimento rápido.
Ei..
"Não precisa, sei muito bem como vai acabar essa história," Kayla responde, cruzando as pernas de maneira descontraída e olhando para a tela com um sorriso travesso. "Eles ficam juntos, casam e têm uma renca de filhos." Ela termina a frase com um tom de desdém, e Minji ri, divertida com a certeza de Kayla.
"Kayla, você é mesmo anti-romances, né?" Haley comenta, e Yuna sorri, concordando com a afirmação.
E uma pegadora sem coração, tem mesmo o direito de criticar o que considera clichê?.
"Pensando alguma coisa de mim, né, Sophie?" Kayla diz, virando-se para mim com um olhar curioso. "Tá na sua cara." ela aponta pra mim.
"Dá pra ficar quieta e assistir?" respondo, tentando ignorar a provocação e dando um sinal para Minji continuar o filme.
"Tá bom..." Kayla choraminga ao meu lado.
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Yuna abre a boca pela terceira vez enquanto o filme ainda continua passando, e eu já sei o que vem a seguir. "Eu acho que vou indo," ela diz, colocando a mão na boca como se estivesse se preparando para soltar mais um bocejo.
"Eu também," Haley diz , encarando-as enquanto se levantam do sofá. Elas trocam olhares cúmplices e, com um sorriso travesso, se dirigem para o quarto de Yuna, sem a menor cerimônia.
"Vocês nem disfarçam mais, né?" comento, tentando manter um tom de brincadeira, mas a verdade é que não consigo evitar um sorriso ao ver a ousadia delas.
As duas se viram para mim, sorrisos maliciosos nos rostos, e antes que eu possa dizer mais alguma coisa, elas fecham a porta atrás de si com um estalo.
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Atualizado até capítulo 24
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