Prólogo

O Primeiro Verão

O telhado do prédio abandonado na Rua das Amendoeiras era o lugar mais alto que Jungkook já tinha alcançado na vida. Com seus nove anos mal completos, subir até lá era como chegar ao topo do mundo – o cimento áspero sob seus pés, seus joelhos arranhados, o vento quente do verão soprando em seus cabelos desalinhados, a vista de toda a vizinhança se estendia diante dele como um mapa de tesouro. 

Foi lá que ele encontrou Jimin pela primeira vez. 

O garoto estava sentado na beirada do terraço, as pernas balançando no vazio como se o abismo de três andares abaixo não lhe dissesse respeito. Usava uma camiseta listrada vermelha e branca, tão larga que deixava um ombro à mostra, e tinha no colo um pacote de bolinhas de goma que ele mastigava com dedos sujos de terra. 

— Você vai cair — Jungkook disse, parado a três passos de distância, as mãos suadas enfiadas nos bolsos do shorts. 

Jimin virou-se devagar, como se já soubesse que ele estava lá. Seus olhos eram estreitos e brilhantes, como os de um gato observando algo interessante. 

— Eu não caio — respondeu, como se fosse o fato mais óbvio do mundo. E então, esticando o pacote de gomas: — Quer uma? 

Jungkook hesitou. Sua mãe sempre dizia para não aceitar doces de estranhos. Mas Jimin não parecia um estranho – parecia alguém que ele já devia conhecer há muito tempo. 

Jungkook se aproximou e sentou-se ao lado dele, seus tênis encostando no vazio, e pegou uma bolinha vermelha. Era doce e azeda ao mesmo tempo, o gosto explodia em sua língua como uma festa. 

— Eu sou Jungkook. 

— Eu sei — Jimin respondeu, jogando uma goma para cima e pegando com a boca. — Você mora na minha rua. Eu te vejo andando de skate todo dia. 

Jungkook arregalou os olhos. 

— Você me observa? 

Jimin riu, um som claro que se misturou com o barulho dos pássaros no céu da tarde, e os sons de carros buzinando lá embaixo. 

— Todo mundo te observa. Você é o único que cai do skate três vezes e levanta quatro. 

Era verdade. Jungkook tinha os joelhos ralados para provar. Mas ninguém nunca tinha reparado antes. 

— Eu sou Jimin — o garoto disse finalmente, esticando a mão como um adulto faz quando quer parecer sério. Tinha terra sob as unhas e um Band-Aid no dedo indicador. — Se você quiser, a gente pode ser amigos, e virmos aqui todo dia. 

Jungkook olhou para aquela mão estendida, depois para o sorriso de Jimin – faltava um dente, o que o fazia parecer ainda mais jovem do que era. 

— Todo dia? 

— Todo dia — Jimin confirmou, balançando os pés novamente. — Até o verão acabar. 

Jungkook apertou sua mão. Era menor que a dele, mas mais áspera, como se já tivesse vivido mais coisas. 

— E quando o verão acabar? 

Jimin pensou por um momento, os olhos seguindo o voo de um pombo que passava sobre eles. 

— Aí a gente inventa outra coisa. 

O sol da tarde pintou o telhado de dourado naquele momento, e Jungkook soube, com a certeza absoluta que só as crianças têm, que aquele era o começo de algo importante. 

E foi. 

Porque no dia seguinte, ele voltou. E no outro. E no outro. 

E o verão nunca acabou.

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