Entre os muitos pequenos milagres que formavam a vida de Noah e Helena, estava a paixão que dividiam por um hobby que os transportava para fora da rotina: a fotografia analógica. Não se tratava de câmeras digitais modernas ou de filtros instantâneos, mas do ritual lento e cuidadoso de capturar a luz em filmes antigos, de revelar imagens em um quarto escuro que cheirava a químicos, e de esperar a magia acontecer.
Era um projeto que começou por acaso. Helena encontrou uma câmera antiga, de seu avô, empoeirada no sótão. A curiosidade os levou a pesquisar sobre o processo, e logo estavam frequentando cursos, comprando rolos de filme e transformando o pequeno banheiro do apartamento em um laboratório improvisado nas noites de sábado. Para Noah, que era um artista de traços, a fotografia era uma extensão natural de sua visão; para Helena, era uma forma de eternizar a beleza efêmera do mundo, algo que ela sempre buscou em seus livros.
As saídas fotográficas eram uma aventura. Eles exploravam a cidade com olhos novos, buscando a luz perfeita na fachada de um prédio antigo, a expressividade em um rosto desconhecido, ou a geometria de uma folha caída. Noah adorava capturar a espontaneidade de Helena quando ela se perdia em uma paisagem, enquanto ela se encantava com a forma como ele enquadrava o mundo, sempre encontrando um ângulo inusitado para o que parecia comum.
No quarto escuro, a magia se intensificava. O silêncio era preenchido apenas pelo gotejar dos líquidos e pela ansiedade da espera. Quando a imagem começava a surgir no papel, a alegria em seus rostos era palpável, uma cumplicidade que ia além das palavras. Era um momento de triunfo compartilhado, a materialização de uma visão conjunta. Eles passavam horas analisando os detalhes, discutindo as cores, a luz, a sombra, cada foto um pedaço de sua alma traduzida em imagem.
Esse hobby era mais que um passatempo; era uma metáfora para a construção de seu amor. Assim como revelavam as imagens em um processo meticuloso, eles também revelavam um ao outro, camada por camada, encontrando beleza nas imperfeições e na espera. Era nesses momentos de criação compartilhada que Noah e Helena se sentiam mais conectados, não apenas como amantes, mas como parceiros em uma jornada de descoberta e de eternização de um amor que, assim como uma fotografia analógica, era para ser guardado e apreciado com o tempo.
Todo grande amor tem uma trilha sonora, e para Noah e Helena, essa melodia era encapsulada em uma única canção. Não era um hit de rádio ou uma balada romântica clichê, mas uma composição obscura de um artista independente que eles descobriram por acaso, numa tarde de domingo chuvosa, navegando por playlists aleatórias. A letra falava sobre encontrar a paz em meio ao caos do mundo, sobre a simplicidade de um olhar e a promessa de um lar que se construía em outro ser humano.
A primeira vez que a ouviram, Helena estava deitada no colo de Noah, e o som preencheu o pequeno apartamento com uma doçura melancólica. Quando a voz do cantor começou a ecoar, Noah sentiu a mão dela apertar a sua. Helena ergueu os olhos e o encontrou olhando para ela, um sorriso de puro reconhecimento se formando nos lábios de ambos. Era como se a música tivesse sido escrita apenas para eles, traduzindo sentimentos que eles ainda não sabiam como expressar em palavras.
Desde aquele dia, "A Canção Deles" tornou-se um ritual. Tocava nos momentos de quietude, enquanto cozinhavam juntos, ou nas viagens de carro para nenhum lugar em especial. Quando Helena estava estressada, Noah a colocava para tocar baixinho, e observava a tensão em seus ombros relaxar. Quando Noah se sentia um pouco perdido, ela o abraçava e cantarolava os primeiros versos em seu ouvido.
Havia uma parte em particular que sempre os tocava: "Na tua calma, encontro a minha tempestade silenciada". Essa frase era um espelho da forma como um acalmava o outro, como suas presenças se complementavam. Em aniversários ou datas especiais, em vez de presentes caros, eles preferiam passar um tempo juntos, ouvindo "A Canção Deles" e relembrando os momentos que ela os ajudou a tecer. Era a prova de que a maior riqueza que possuíam estava nos sentimentos, nas memórias e na melodia que os unia.
Aquela canção era mais do que notas e palavras; era o hino de seu amor, um refúgio para seus corações e um lembrete constante da beleza simples e profunda de sua união. Ela os acompanhava como uma aura, presente em cada risada, em cada silêncio, em cada novo dia que parecia uma promessa de eternidade.
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Atualizado até capítulo 31
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