Depois do café, enquanto Helena dobrava os guardanapos com uma precisão quase artística e Noah enxaguava as poucas louças, um silêncio confortável pairava no ar, repleto de lembranças não ditas. Era uma dança diária de pequenas tarefas, cada movimento um eco do primeiro instante em que seus mundos se cruzaram. Noah a observava, um sorriso leve nos lábios, e de repente, a imagem dela sentada naquela cafeteria, há anos, invadiu sua mente com a nitidez de um filme recém-assistido.
Ele se lembrava de cada detalhe: a luz alaranjada do fim de tarde que banhava o lugar, o cheiro de café e livros, e Helena, alheia ao burburinho ao redor, completamente absorta nas páginas de um romance de capa gasta. Ela usava um cachecol de tricô, mesmo sendo primavera, e os óculos de leitura escorregavam um pouco pelo nariz. Noah estava ali para encontrar um amigo que se atrasaria, e antes que percebesse, seus olhos haviam se fixado nela. Não era apenas a beleza que o prendeu, mas a intensidade com que ela vivia aquele momento, a forma como a testa se enrugava em concentração e os lábios se moviam silenciosamente, como se ela estivesse murmurando as palavras junto com o autor.
"No que está pensando?", a voz de Helena o trouxe de volta. Ela já tinha terminado com os guardanapos e agora o observava com um olhar curioso e doce.
Noah sorriu, virando-se para ela. "No dia em que te conheci. Aquele cachecol de tricô... você ainda o tem?"
Helena gargalhou, um som claro e descontraído. "Tenho, claro! Está guardado para os dias mais frios. Eu estava tão nervosa para aquela prova de literatura que nem percebi que estava calor lá fora." Ela se aproximou, e o aroma de baunilha de seus cabelos envolveu-o. "E você, com aquele jeito de quem não queria nada, mas não parava de me olhar."
"Eu estava estudando a forma como você se tornava a personagem principal do seu próprio mundo", ele provocou, e ela lhe deu um tapa leve no braço.
Eles reviveram a cena, como tantas outras vezes. Ele, fingindo ler um jornal para disfarçar o olhar fixo. Ela, que finalmente levantou os olhos e o pegou no flagra, e em vez de desviar, ofereceu um sorriso tímido. O convite para o café, a conversa que se estendeu por horas, revelando paixões por viagens, por músicas antigas e pela quietude das manhãs de domingo. A descoberta de que ambos acreditavam que a felicidade estava nas coisas pequenas e imperfeitas.
Naquele dia, o mundo de Noah havia, de fato, ganhado cores mais vívidas. Não foi um raio, nem um trovão, mas uma melodia suave que começou a tocar em seu peito e nunca mais parou. Era a melodia do reconhecimento, da certeza de que havia encontrado não apenas um amor, mas um lar. E enquanto ele secava o último prato, o toque de Helena em seu braço o fez sentir que cada um daqueles fragmentos do passado se encaixava perfeitamente, construindo a fortaleza inabalável que era o amor deles.
A rotina de Noah e Helena era um mosaico de pequenos ritos, um balé silencioso de gestos quase imperceptíveis que, juntos, compunham a grandiosidade do amor que sentiam. Não eram as grandes declarações ou os presentes caros que definham a relação, mas sim a forma como o cuidado se manifestava nas minúcias do dia a dia.
Quando Helena estava imersa em suas leituras no sofá, Noah não precisava perguntar se ela queria chá; ele simplesmente aparecia com uma xícara fumegante de seu blend favorito, sem açúcar, do jeito que ela gostava. E ela, por sua vez, sempre deixava um bilhetinho preso na porta da geladeira nos dias em que Noah saía mais cedo para o trabalho, lembrando-o de não esquecer o guarda-chuva ou desejando um "bom dia, meu sol". Eram sussurros de carinho, lembretes de que um estava sempre na mente do outro.
Certa vez, Noah estava lutando com um nó em seu cadarço, frustrado, quando Helena se ajoelhou sem dizer uma palavra, os dedos ágeis desfazendo o emaranhado com uma paciência que ele jamais teria. Não houve sermão ou risada; apenas a gentileza de um ato, que falava mais alto que qualquer palavra. Da mesma forma, quando Helena passava horas tentando montar um quebra-cabeça complexo e parecia prestes a desistir, Noah sentava-se ao lado dela, não para resolver por ela, mas para oferecer sua presença silenciosa e ocasionalmente apontar uma peça que ele achava que se encaixava, sempre com um "talvez, meu amor?".
Nos dias de chuva, quando o apartamento parecia pequeno demais, eles se enroscavam no sofá, um cobertor partilhado e um filme antigo na televisão. Helena repousava a cabeça no ombro de Noah, e ele sentia a leve pressão dos dedos dela desenhando padrões abstratos em sua mão. Em cada toque, em cada respiração conjunta, havia uma promessa tácita de cumplicidade e abrigo.
Eles sabiam a música favorita um do outro, o tipo de chocolate que preferiam, a forma como cada um dobrava a roupa limpa. Conheciam os medos bobos e as ambições secretas. Eram um universo de dois, construído tijolo por tijolo com a argamassa de pequenos gestos de amor. Era essa constância, essa presença atenta, que fazia com que o amor deles não fosse apenas um sentimento avassalador, mas um porto seguro, um lar onde cada detalhe era uma confirmação da promessa de eternidade que viviam.
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Atualizado até capítulo 31
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