Capítulo 03
Capítulo 03 — O Despertar do Passado.
O sol ainda nem tinha nascido direito quando Akira jogou a mochila no chão e entrou na loja de conveniência com o capuz cobrindo parte do rosto. Como costumeiro, caminhou o percurso inteiro até chegar lá.
Takashi trabalhava naquela loja há uns dois anos. Mas porque era o único lugar que o aceitava com aquele histórico escolar manchado e os rumores de delinquente.
Ele estava ali por obrigação e pelo dinheiro. Precisasse dele. Não poderia depender do seu irmão mais velho e dinheiro sujo das corridas, pelo resto da vida.
Tanabe
Chegou cedo hoje.
*falou sem nem erguer os olhos da prateleira abaixo*
Akira Takashi
Não consegui dormir.
*respondi, jogando o corpo atrás do balcão, o cansaço escorrendo pelos ombros*
A loja era pequena, meio escondida entre dois prédios baixos de concreto gasto, e cheirava a café velho e desinfetante.
O rádio tocava alguma balada genérica, e a luz fluorescente era cruel demais para quem passou a madrugada com o coração batendo como motor em marcha alta.
A corrida de hoje o estava a deixar afobado.
Tanabe
Parece perturbado.
*diz, ajeitando os óculos tortos no nariz*
Tanabe
O que foi, se encontrou com algum namoradinho antigo?
Akira Takashi
Eu não.
*trava o maxilar*
Maldito velho, ele sabia só de olhar para mim cara.
Tanabe
*encostou-se ao balcão do outro lado, braços cruzados*
Sabe que não adianta mentir, né?
Houve um momento de pausa. O rádio chiou, tentando buscar sinal, e uma brisa gelada entrou pela porta automática mal fechada.
O moreno ignorou a pergunta olhando o chão. Depois pegou a toalha e começou a limpar o balcão, mas a mente já estava longe — nas montanhas, no ronco dos motores, nos olhos embriagantes de Riku.
Tanabe
*pegou um cigarro da caixa e acedeu*
Sabe quando você apareceu aqui pela primeira vez, pensei querer assaltar a minha loja.
Tanabe
Um homem todo vestido de preto, coberto de tatuagens e piercings...
Tanabe
Fiquei surpreso quando disse que queria trabalho.
Tanabe
Tinha cara de quem só sabia correr, brigar e quebrar coisas.
*soprou a fumaça*
Akira Takashi
E não é isso que eu faço?
*franze o cenho em dúvida*
Tanabe
Agora você sabe passar um café no ponto também.
*gargalhou*
Akira Takashi
Só eu sei fazer esse café magnífico.
*brincou convencido*
Tanabe
Seja o que for que lhe perturba filho, só tem que seguir em frente.
Tanabe
Isso é o que homens de verdade fazem.
*dá uns tapinhas no seu ombro*
Tanabe
E coloca esse corpo para trabalhar mais rápido, desperdício.
*ordenou, saindo*
Aquilo foi inspirador de certa forma, apesar de parecer mais uma bronca disfarçada de conselho.
Ainda assim, o expediente seguiu como costumeiro.
E depois de bater o ponto Akira soltou o avental e jogou a mochila nas costas.
O dia estava abafado, o céu encoberto e a cidade fazia aquele barulho constante de motor, passos e vozes, como se nunca desligasse.
Takashi enfiou as mãos no bolso do casaco e caminhou sem pressa. A cabeça ainda estava pesada. Pensava no carro. Pensava na curva. E, claro, pensava em Riku.
E Como se o destino ama-se pregar peças consigo.
Dobrou a esquina da loja de conveniência e entrou na rua dos comércios.
Tinha uns estudantes rindo em frente à papelaria, um carro com som alto demais, e um cheiro forte de fritura vindo de uma barraquinha de takoyaki.
Riku estava parado do outro lado da rua. Encostado casualmente num poste, com o celular na mão e um cigarro entre os dedos. Ao lado dele, um dos caras da equipe que apareceu na noite passada.
Um loiro alto de expressão cínica, que Akira lembrava bem por ter feito piadinhas sobre sua, fama antiga.
Akira Takashi
Que droga, logo eles tinha que aparecer? já não bastava ter que ver a cara dele mais tarde na corrida!
*murmurou pra si mesmo*
Akira Takashi
Puta que pariu.
Por um instante, Akira pensou em desviar. Fingir que não viu. Mas era tarde demais.
Riku ergueu os olhos como se já soubesse que ele estava ali.
Comments