Em meio ao desespero que o roubo causou, uma ideia sombria, mas aparentemente eficaz, começou a tomar forma na mente de Saskia. Com a geladeira vazia, a energia cortada e a humilhação ainda latente daquele jantar desastroso, ela sentiu que precisava de uma solução imediata, não importa o custo. A agiotagem, um tabu em seu bairro, tornou-se a única saída visível. Melhor do que se vender, afinal.
Com o coração apertado, Saskia procurou por contatos e, após algumas conversas estranhas e olhares desconfiados, conseguiu um empréstimo com juros exorbitantes. A quantia era pequena, apenas o suficiente para o essencial, mas permitiu que ela comprasse um celular mais simples e um chip novo. O aparelho em suas mãos era mais do que um meio de comunicação; era sua ferramenta de sobrevivência.
Com o novo celular, Saskia decidiu mergulhar de cabeça no universo que Gregory havia lhe apresentado. Ela criou novos perfis em aplicativos e grupos especializados em lactação adulta e fetiches relacionados. Achando que desta vez, não haveria timidez. Ela seria direta e explícita sobre sua condição, anunciando abertamente o que poderia oferecer. A vergonha que sentiu no encontro anterior havia sido substituída por uma fria determinação, de quem estava cansada de ser rejeitada nas entrevistas de emprego.
A caixa de entrada de suas mensagens começou a encher rapidamente. Homens de diferentes idades e perfis, alguns com propostas detalhadas envolvendo se.xo e outros mais curiosos, manifestavam interesse. Saskia lia cada mensagem com um olhar calculista, avaliando as ofertas e os possíveis riscos. Ela não buscava romance ou conexão; buscava apenas o dinheiro que a tiraria do fundo do poço.
Seus dias se transformaram em uma sucessão de conversas online e agendamentos discretos, esperançosa para encontrar Gregory. Colocou na cabeça que cada encontro era uma transação, uma troca fria de seu tempo e de seu corpo (se.ios) por notas que garantiriam sua subsistência.
O primeiro encontro foi em um shopping, ela foi com o mesmo vestido florido surrado, dessa vez, sem maquiagem, deixou os cabelos presos, não queria passar a ideia de que pretendia transformar aquilo em um encontro romântico ou sex.ual.
O combinado era de se encontrarem na praça de alimentação, ela iria até o espaço reservado para mães e seus bebês, esgotar os sei.os com a bomba extratora, colocar em um copo com canudo, e levar para ele.
Os dois se encontraram, se cumprimentaram com beijo no rosto, ele era baixinho, um pouco acima do peso, disse ter vinte e seis anos, parecia bastante careta, sem tatuagens, usava roupas clássicas simplórias, sentaram alguns minutos, ele lhe ofereceu um lanche, suco, disse que preferia tomar direto da fonte, mas que não tinha muito dinheiro para mudar o acordo.
Ele foi incrivelmente educado, simpático, enquanto Saskia só ficava rindo e balançando a cabeça, que sim ou não, se sentindo muito nervosa, ela disse que preferia seguir com o acordo, recusou o lanche e tudo mais, mesmo estando faminta.
Ela fez o que combinaram, quando voltou com o copo cheio, ficou constrangida, com a sensação de que todos lá estavam sabendo de tudo, saiu às pressas, após ele degustar pelo canudo, e fazer a transferência de trezentos reais.
A sensação foi de vazio, frustração, diferente da outra experiência. Alguns dias depois, uma empresa a chamou para fazer uma entrevista, e só por isso ela estipulou encontros, só para obter o dinheiro do agiota.
O segundo encontro foi marcado em um clube, esse rapaz era todo desenrolado, tagarela e bonito. Victor mandou fotos até do p.au, deixou claro que queria o pacote completo, disse que não tinha dinheiro para estar pagando ela, mas que poderiam fazer um treino experimental só de curtição, tomar um lanche, usar a piscina, por conta dele. Ele era lindo e a proposta tentadora: forte, tatuado, moreno.
Saskia estava carente, em uma maré de azar, aceitou o convite, gastou dez reais com o ônibus, foi com uma calça legging transparente velha, bem maquiada, regata sem sutiã, com um body por baixo. Achou que poderia usar o body de maiô na piscina. Ao chegar na frente do clube, Victor ficou esperando, ela chegou usando sandálias rasteiras, ele a beijou no rosto, cumprimentou.
Perguntou se ela tinha levado o tênis para treinarem. Ela não tinha entendido muito bem, ficou desconcertada, nervosa, pediu desculpas. Ele foi simpático, disse que iriam precisar ocupar o tempo de outra forma, fazer outros exercícios cardiovasculares. Ele era sócio, a levou para os armários, ficou reparando nela, que parecia pobre, simplória. Enquanto guardavam as coisas, ele perguntou se ela era do "job". Saskia ficou sem reação, incrédula, o olhando.
Disse que não era do "job", e que só foi lá para ter algo casual, ficou nitidamente nervosa.
Ele tentou contornar a situação, a chamando para ir à sauna. Com um sorriso gentil, disse que queria um tempo a sós com ela, logo. Saskia se sentiu completamente sem jeito, a vontade de desistir era enorme, mas ele a chamou para ir na piscina com uma gentileza inesperada. Ela, ainda hesitante, aceitou. Se trocaram em silêncio e seguiram para a área da piscina. Victor, com seu corpo esculpido e tatuagens que dançavam pela pele morena, era de uma beleza quase irreal.
Sentados à beira da piscina, ele pediu um suco e, com um olhar atencioso, ofereceu a ela qualquer coisa da lanchonete. Mas Saskia estava completamente retraída, seu coração batia forte no peito, uma mistura de nervosismo e uma crescente onda de vergonha. As palavras pareciam presas em sua garganta, e o sentimento de fracasso começou a inundar cada célula de seu corpo. Ela não conseguiria. Não ali, não daquele jeito. Aquele cenário de clube, com pessoas ao redor, só amplificava seu arrependimento por ter aceitado a proposta. Com a voz quase num sussurro, ela finalmente conseguiu dizer:
— Não vou conseguir fazer o combinado.
Ele percebeu o nervosismo dela, um lampejo de compreensão cruzando seus olhos. O sorriso que antes era galante, agora se tornou mais suave, quase terno. Pareceu deduzir que ela não era acostumada a ficar casualmente com homens, que aquela situação toda era nova e desconfortável para ela. Rapidamente, Victor a tranquilizou:
— Ei, calma. Não tem problema nenhum, de verdade.
Ele se inclinou um pouco, olhando-a nos olhos, serviu amendoins, e continuou:
— Podemos só ficar de boa, conversando, curtindo o dia. Zero pressão, ok?
A sinceridade em sua voz era genuína. Ele então, com uma franqueza surpreendente e sem julgamentos, perguntou:
— Você está precisando muito de dinheiro? É por isso que ofereceu o leite em troca?
A pergunta pairou no ar, mas a forma como ele a fez, sem qualquer malícia, fez com que Saskia sentisse um alívio inesperado em meio à sua vergonha.
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Fafa
Saskia do céu!!! Agiota mulher 😱! Essa história tem tudo pra dar errado 😬. Tomara que não.
2025-06-04
2
Marluce Machado
Que situação constrangedora da Saskia /Shy/.
2025-06-03
1
ana
que situação, mas amando o livro
2025-06-04
1