Após a experiência com Gregory, que deixou em Saskia um misto de humilhação e alívio financeiro, ela buscou se reerguer. Com o dinheiro do inusitado encontro, ela conseguiu pagar algumas contas e encher a geladeira, mas a sensação de que aquilo não era o que queria para sua vida persistia. A prolactina alta e a produção de leite eram uma realidade, mas a forma como a explorou a fez desejar algo mais, algo que a fizesse sentir-se valorizada e não apenas um "fetiche".
Os dias se seguiram, e Saskia se viu em uma rotina de procurar empregos, mas sem sucesso. A solidão e a necessidade, porém, eram persistentes. Um dia, enquanto voltava de uma entrevista frustrada, seu celular apitou com uma notificação de um aplicativo de encontros que ela havia baixado por curiosidade, mas nunca usado. Era uma mensagem de um homem chamado Toni, que parecia ter ficado impressionado com seu perfil, la ela mantinha com uma foto antiga e discreta, sem mencionar sua condição peculiar.
Toni, de trinta e poucos anos, apresentava-se como um artista visual, de aparência exótica, com longos cabelos loiros presos em um coque e olhos azuis penetrantes. Ele a convidou para um jantar em um restaurante "charmoso e discreto", algo que parecia a antítese de sua vida atual. A proposta era apenas um jantar, sem adiantamentos ou fantasias explícitas. A curiosidade e a chance de uma noite normal, com alguém que parecia interessante, a fizeram aceitar, afinal a muito tempo, ela não dormia com ninguém.
Saskia não tinha muitas opções em seu guarda-roupa, mas escolheu o menos surrado dos seus vestidos, um modelo preto com um leve decote e mangas três quartos, que, apesar de simples, tentava transmitir um ar de leveza. Colocou seu perfume barato, que já não parecia tão enjoativo quanto no encontro anterior, e tentou refazer a maquiagem, aplicando os produtos com mais cuidado.
Chegou ao restaurante a pé, já que o local não era muito distante do ponto final do ônibus. A fachada do lugar era de fato charmosa, com luzes baixas e uma atmosfera convidativa. Toni já a esperava em uma mesa mais reservada. Ele era ainda mais bonito pessoalmente, com um sorriso gentil e olhos que a faziam sentir-se vista.
A conversa fluiu com uma leveza que Saskia não esperava. Toni falou sobre sua arte, sobre viagens e sobre o desejo de conhecer novas pessoas em um relacionamento aberto, menages, surubas. Saskia, por sua vez, sentiu-se à vontade para compartilhar um pouco de sua rotina, sua busca por emprego e até mesmo sobre um curso de enfermagem, que queria terminar, omitindo, é claro, os detalhes mais íntimos de sua condição. Ele era atencioso, fazia perguntas e a ouvia com interesse genuíno.
Ela achou graça da sinceridade dele, sobre seus desejos particulares e fetiches. Quando o garçom trouxe o cardápio, Saskia sentiu um leve desconforto. Ela não tinha dinheiro para pagar nem um lanche daquele lugar, e Toni ainda não havia se manifestado sobre quem pagaria.
Ele folheou o cardápio com calma, e depois de um breve momento, disse com um sorriso encantador:
— O que você vai querer? Peça o que quiser, a noite é por minha conta.
Saskia sentiu um alívio imenso. Pediu uma porção simples de fritas e frango, enquanto Toni optou por algo mais sofisticado. A conversa continuou animada, mas quando a comida chegou, um engraçado e inesperado problema surgiu.
Toni comeu com uma velocidade impressionante, mal parando para respirar. Ele devorou seu prato, limpando o último resquício com o pão. Saskia, por outro lado, comia devagar, saboreando cada pedaço, acostumada a fazer suas refeições renderem. De repente, ele a olhou com um brilho nos olhos e disse:
— Nossa, que delícia! Estou com uma fome de leão, maior larica!
— Fumei um antes de vir.
— Você não vai comer isso tudo, vai?
Antes que Saskia pudesse responder, ele estendeu o braço, pegando um pedaço generoso de seu prato.
— Adoro provar, quando pedimos coisas diferentes!
— Me dá um pouco desse seu suco? Parece tão bom!
E, sem esperar por uma resposta, pegou mais e o copo dela. Saskia observava, surpresa e um pouco chocada, rindo de nervoso. Seus olhos se arregalaram enquanto Toni, com sua aparência sofisticada e voz aveludada, demonstrava um apetite insaciável e uma falta de modos surpreendente. Em questão de minutos, metade do seu prato havia sumido, ele ainda sorriu
— É que eu não comi nada o dia todo. — justificou ele, com a boca cheia, sem qualquer sinal de vergonha.
— Mas está delicioso! Você cozinha também?
Saskia sorriu sem graça, tentando disfarçar o constrangimento.
— Eu... eu como o que tem em casa, nunca fico inventando. — Respondeu, enquanto via o restante do seu prato ser abocanhado por ele.
Ela não tinha levado dinheiro para pagar sua própria refeição, e agora, com o prato quase vazio, sentia uma pontada de fome real. O encontro romântico estava se transformando em uma comédia de erros. Toni, o artista de olhos penetrantes, revelava-se um comilão inesperado esquisito, e Saskia, que sonhava com um jantar digno, viu sua refeição desaparecer na boca do seu acompanhante, junto com a excitação.
Ela disse que havia surgido um imprevisto, foi embora às pressas, a volta para casa de Saskia foi um pesadelo. Mal havia se despedido de Toni e de seu apetite voraz quando a realidade cruel da cidade a atingiu em cheio.
Em uma rua mal iluminada, foi abordada por dois homens em uma moto. Em questão de segundos, seu mundo desabou: levaram sua bolsa, seu celular, seus poucos cartões. Ela ficou ali, paralisada pelo choque e pelo desespero, observando os vultos se distanciarem na escuridão.
Ao chegar em casa, a mente de Saskia estava em pandemônio. Não demorou para que as notificações de compras e mudanças de senhas começassem a pipocar no e-mail, os assaltantes estavam usando seus cartões, esgotando o pouco limite que ainda tinha. Ela se sentiu impotente, na pior fase de sua vida. Mexendo no notebook, tentou bloquear o que dava, ficou chorando nervosa, pensando que a geladeira voltaria a ficar vazia, a energia seria cortada novamente, e os banhos frios seriam sua única opção.
Em meio ao desespero, um nome ressurgiu em sua mente: O LactanteCurioso. Aquele homem misterioso, que a havia humilhado e ao mesmo tempo a financiado, era a única "conexão" que ela tinha com alguma possibilidade de alívio imediato. A ideia de procurá-lo, depois daquela despedida abrupta, era o último recurso, uma decisão nascida da mais pura necessidade. Ela nem sequer sabia o nome dele, apenas o que havia trocado de mensagens no aplicativo e as lembranças do seu olhar enigmático.
Com o coração apertado e a esperança quase esmagada, Saskia sabia que teria que engolir o orgulho e encontrar uma forma de recontatar ele. Aquele homem, cujas intenções eram tão ambíguas, era agora a única porta que parecia minimamente aberta em meio à sua escuridão e fracasso na vida.
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Fafa
Coitada 😱😱😱😱!!! Como diz o ditado "Quando a esmola é demais, o santo desconfia". Um encontro com um homem lindo, sem fetiches esquisitos, e lhe pagando o jantar. Estava tudo perfeito demais pra ser verdade. No final a pobre continuou com fome, decepcionada e ainda foi assaltada na volta pra casa. E o Sr Gregory voltou a ser sua única opção de se reerguer de novo 😬😬😬🍼🍼🍼
2025-06-03
5
Marines Silva
Já estou com peninha dela só aparece doido
acho que quando ela nasceu a sorte estava de férias 🤭
2025-06-11
1
Nalva Jordao
E a tortura da expectativa permanece… Se ela voltar a encontrar-se com ele, confesso que até aguento esperar… mas nunca advínhamos o que acontece na cabecinha da autora!!!
2025-06-03
1