O fim de semana chegou mais rápido do que Luna gostaria. Ela havia passado a sexta-feira se convencendo de que aquele trabalho com Caio seria apenas mais uma obrigação escolar. Nada além disso.
Mas quando ele chegou em sua casa no sábado à tarde, com seu caderno na mão e uma postura tranquila, algo dentro dela pareceu estremecer.
Caio
— Você mora aqui? — Caio perguntou, olhando para a fachada da mansão de três andares com piscina e um carro de luxo na garagem.
A casa
o carro
Luna
— E você achou que eu morava onde? Num barraco dourado? — ela respondeu com sarcasmo.
Caio
— É. Achei que era menor — disse ele, entrando, sem medo.
Luna levou Caio até a biblioteca particular da casa, onde eles começaram a organizar as ideias do projeto. Mas a conversa desviou, como sempre acontece quando duas realidades tão diferentes se encontram.
A biblioteca
Caio
— Você tem segurança particular? — Caio perguntou, reparando nas câmeras e nos dois homens de terno que rondavam a área externa.
Luna
— Tenho. Meu pai acha que sou um alvo. Ele vive recebendo ameaças por causa dos negócios dele.
Caio arqueou a sobrancelha.
Caio
— Negócios?
Luna hesitou.
Luna
— É empresário... mexe com construção civil e investimentos.
Caio percebeu o desconforto. Ele conhecia esse tipo de resposta. Vazia. Ensaiada.
Caio
— E sua mãe? — ele arriscou.
O olhar de Luna endureceu por um instante.
Luna
— Ela viaja muito. Quase não fica em casa.
Silêncio.
Luna
— E você? — ela perguntou, tentando mudar o foco. — Mora onde?
Caio
— Em um apartamento com minha mãe e meus dois irmãos. Meu pai... sumiu quando eu tinha sete anos. Minha mãe trabalha em três lugares pra pagar as contas. E agora tá feliz porque consegui a bolsa aqui.
Luna o olhou, sem saber o que dizer. Pela primeira vez, ela percebeu que ele não estava ali para se exibir. Ele estava ali... porque precisava.
Luna
— E mesmo assim você sorri? — ela perguntou, quase sem pensar.
Caio
— Eu sorrio porque sobrevivi.
Ela engoliu seco. Pela primeira vez, Luna sentiu vergonha da própria vida.
Antes que pudesse responder, a porta da biblioteca se abriu.
Gustavo (Pai da Luna)
— Quem é esse, Luna? — disse seu pai, com voz seca, analisando Caio de cima a baixo como se ele fosse um invasor.
Luna
— É só um colega de escola — respondeu ela rapidamente.
Gustavo (Pai da Luna)
— Colega? De onde? Esse aí não é um dos... — ele parou antes de terminar. Mas o olhar dizia tudo.
Caio se levantou.
Caio
— Acho melhor eu ir. A gente termina o trabalho na escola — disse ele, educado.
Luna
— Não, Caio, espera... — Luna tentou, mas ele já havia saído.
Naquela noite, ela ficou olhando para o teto do quarto, sentindo algo estranho no peito. Não era culpa. Nem vergonha.
Era raiva.
Pela primeira vez, Luna percebeu que o mundo em que vivia era uma bolha. E que talvez, só talvez... ela estivesse começando a querer sair dela.
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