Dante Amaral não era homem de perder o controle. Nunca foi.
Mas naquela segunda-feira, ao entrar no prédio da sede da Amaral Group, foi como se o chão tivesse um novo tipo de gravidade.
Luna Delacroix.
O nome dela já pesava como uma corrente. Bastou cruzar a recepção para vê-la. Estava de pé, com uma pasta em mãos, lendo documentos com o cenho franzido. Os cabelos estavam soltos naquela manhã, escorrendo pelas costas em ondas levemente rebeldes. E o salto alto dava à sua figura uma autoridade inesperada.
Dante apertou o passo, ignorando o que seu corpo gritava. Aquilo era apenas mais uma funcionária. Uma advogada que precisava se adequar. Simples.
— Senhor Amaral — ela o cumprimentou assim que ele passou por ela, sem nem tirar os olhos dos papéis. A voz estava firme, mas havia algo debochado na entonação.
Ele parou. Virou-se devagar.
— Senhor Amaral, Luna? Achei que depois do café derramado, estávamos no nível dos xingamentos — disse ele, com um meio sorriso cínico.
Ela ergueu os olhos.
— Prefiro manter o profissionalismo. Afinal, se o seu ego não couber nesta sala, alguém precisa garantir que a empresa não vá pelos ares.
Dante se aproximou com passos lentos.
— Está insinuando que sou um risco?
— Estou afirmando que você é o próprio caos vestido de Armani.
Ele soltou um riso curto, contido.
— Cuidado, Luna. Gosto de quem me provoca... mas nem sempre termino bem com elas.
Ela deu um passo para o lado, firme, o queixo erguido.
— Eu não sou "elas". E você ainda vai aprender isso da pior forma.
**
As reuniões daquele dia correram de maneira tensa. Luna, inteligente e articulada, refutava algumas das decisões mais arriscadas de Dante com argumentos bem embasados. A sala de reuniões estava em silêncio toda vez que ela abria a boca. Os outros diretores se entreolhavam, surpresos com a audácia daquela mulher.
Dante, por sua vez, observava tudo como um predador à espreita. Seu olhar estava mais em Luna do que nos gráficos à sua frente.
Após o expediente, ele subiu para o escritório principal e trancou a porta. Ligou o computador e puxou o dossiê que um de seus homens havia conseguido em tempo recorde.
Luna Delacroix. 26 anos. Nascida em Bordeaux, França. Fluente em cinco idiomas. Formada com honras. Transferida para o Brasil há dois anos.
Mas havia mais.
Abusada pelo padrasto aos doze. A mãe, ao invés de protegê-la, a expulsou de casa. Viveu em abrigos e foi emancipada aos dezesseis. Lutou por cada centavo para cursar Direito. Nunca teve envolvimento com crime. Nenhuma ligação com facções. Nenhuma sujeira.
— Limpa. Mas com cicatrizes... — murmurou para si mesmo, fechando o arquivo.
Era forte. Independente. E por algum motivo, aquilo o deixava... desconcertado.
**
Naquela noite, Dante foi até a mansão Amaral.
Aurora estava na sala, assistindo a uma série, quando ele entrou.
— Aí vem ele... com cara de quem viu um fantasma. — ela comentou, sem tirar os olhos da TV.
— Cala a boca, Aurora.
— Quem é ela?
— Quem?
— A mulher que tirou você do eixo.
Dante bufou.
— Ninguém.
Aurora levantou e o olhou de frente, um sorriso malicioso nos lábios.
— Você tá com cara de homem que encontrou a própria kriptonita. Só espero que não seja a Rilary, pelo amor de Deus.
— Rilary foi viajar. — ele respondeu, seco. — E não se meta.
— Muito tarde. Agora eu quero saber tudo. Nome, sobrenome, onde trabalha... — ela provocou, rindo.
Dante subiu as escadas ignorando os comentários da irmã. Mas no fundo, ele sabia: Luna tinha se alojado sob sua pele.
**
No dia seguinte, Luna estava atrasada.
Chegou esbaforida à empresa, culpando o trânsito, e deu de cara com Dante à porta do elevador.
— Atrasada. — ele comentou.
— Um minuto. E eu não tenho motorista particular.
— Quer carona amanhã?
Ela arqueou a sobrancelha.
— Tá me paquerando, Amaral?
Ele deu um passo à frente, o suficiente para que ela sentisse o calor do corpo dele.
— E se estiver?
Luna respirou fundo, os olhos brilhando.
— A gente se vê na sala de reuniões, chefe.
**
Mais tarde, naquela mesma noite, Rilary apareceu de surpresa na cobertura de Dante.
Vestida com um vestido curto, se jogou no sofá como se fosse dona do lugar.
— Tava com saudade — ela disse, tentando subir no colo dele.
Mas Dante a afastou com uma mão no ombro.
— Hoje não.
— Como assim hoje não?
— Tenho dor de cabeça. Ou qualquer outra desculpa que te faça ir embora.
Rilary ficou parada, surpresa.
— Tá com outra, né?
Dante não respondeu. Só virou-se de costas e acendeu um cigarro, olhando pela janela para a cidade iluminada.
Luna Delacroix. O nome vinha como um veneno doce, lento.
**
E do outro lado da cidade, Luna olhava para o teto do pequeno apartamento que alugava, pensando nele.
Ela odiava o que sentia.
Porque amar homens como Dante Amaral era como dançar com um furacão. E ela já tinha sobrevivido a muitos desastres pra querer outro.
Mas havia algo nos olhos dele... algo quebrado. Algo que se parecia com ela mesma.
E talvez, só talvez... fosse isso que tornava tudo tão perigoso.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Lucia Sousa
Autora comecei hoje estou gostando vamos continuar
2025-05-29
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