Os dias pareciam sempre iguais para Elena: acordar cedo, trabalhar até o corpo doer, voltar para casa, se despir das máscaras e se encarar no espelho como quem encara uma sentença.
Mas naquela manhã, o ar parecia diferente.
Talvez fosse só o frio que insistia em atravessar as janelas mal vedadas do apartamento, ou quem sabe aquele pressentimento silencioso que sussurra ao fundo da mente, sem nunca se explicar.
Elena puxou o sobretudo bege até o queixo e saiu para mais um dia monótono, atravessando as ruas calmas do bairro, sem perceber os olhos que a seguiam à distância.
Dante estava ali. Como sempre.
Mas naquela manhã ele não ficou na janela.
Ele a seguiu.
Os passos dele eram silenciosos, treinados, como os de um predador que conhece bem sua presa, mas não quer assustá-la… ainda. As mãos enluvadas repousavam nos bolsos do sobretudo escuro, o olhar fixo na figura miúda dela, que atravessava a calçada com as botas gastas, distraída, vulnerável.
Ela entrou na cafeteria, sem nem imaginar que ele a seguiria até lá.
Dante se aproximou da porta de vidro, hesitou por um segundo — o primeiro movimento de incerteza em meses —, e então entrou.
O sino acima da porta soou suave, anunciando sua presença.
Elena ergueu o olhar do balcão e o viu pela primeira vez.
E o tempo parou.
Ele era… diferente de qualquer homem que já tivesse visto. Alto, imponente, vestido de preto da cabeça aos pés, com os olhos mais escuros e intensos que já vira, fixos nela como se a conhecessem. Como se soubessem de tudo.
Ela desviou o olhar rapidamente, sentindo o rosto esquentar sem motivo aparente.
— Bom dia… — murmurou, mexendo nos copos, ansiosa.
Dante sorriu de canto, a voz profunda e envolvente:
— Bom dia. Um café, por favor… sem açúcar.
Elena assentiu, sem perceber o tremor leve nas mãos ao preparar a bebida. Não sabia explicar por que aquele homem a fazia se sentir… exposta. Como se estivesse ali, de lingerie, diante do espelho, com todos os pensamentos secretos à mostra.
Dante, por outro lado, observava cada detalhe: o modo como ela mordia o canto do lábio quando estava nervosa, a curva tímida do pescoço escondida pelo cachecol, os olhos fugindo dos dele como se temessem o que poderiam encontrar.
Ela era ainda mais linda de perto.
Enquanto ela colocava o café no balcão, ele inclinou-se levemente, deixando que a voz alcançasse apenas ela:
— Você mora ali perto, não é? No prédio antigo da Rua Augusta…
Elena ergueu os olhos, surpresa.
— Sim… como…?
Mas ele já puxava a carteira, pagando e dando um sorriso enigmático.
— O bairro é pequeno. A gente sempre vê os mesmos rostos, não é?
Ela assentiu, desconcertada, sentindo um arrepio percorrer a espinha sem entender exatamente o porquê.
Ele pegou o café e saiu, deixando o sino soar outra vez.
Elena ficou parada atrás do balcão, com o coração acelerado, como se uma sombra tivesse acabado de passar por ela, tocando sua pele sem permissão.
Dante caminhou até a esquina e, antes de dobrar, virou-se uma última vez para olhar pela vitrine. Lá estava ela, parada, com aquela expressão confusa, perdida… tão linda, tão frágil… tão… dele.
Ele sorriu para si mesmo.
O jogo começara.
E agora, ela não seria mais apenas um vulto atrás da janela.
Não.
Agora ele tinha sua atenção.
E não iria mais embora.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Ming❤️
Não consigo esperar mais, escreve algo rápido!! 😤
2025-05-26
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