A Primeira Aparição

Os flashes explodiam como fogos de artifício assim que Clara desceu do carro. O vestido branco — não de noiva, mas elegante, justo na medida certa, com fenda lateral — marcava seu corpo esguio. O salto alto fazia eco no piso de mármore da entrada do hotel mais luxuoso de Auriville.

Seu queixo erguido, a expressão inabalável e os olhos frios denunciavam uma verdade simples: Clara Antunes podia estar se vendendo, mas nunca se submeteria.

Ao lado dela, Gabriel Monteiro caminhava como um rei em seu próprio império. O terno preto sob medida realçava os ombros largos, a postura arrogante e aquela aura de domínio que fazia metade da cidade querer ser ele — e a outra metade, estar com ele.

Assim que chegaram à entrada do salão, as portas se abriram, revelando a alta sociedade de Auriville. Empresários, investidores, socialites, herdeiros... todos, absolutamente todos, pararam para olhar.

— Perfeitos demais para serem reais — sussurrou alguém no fundo.

— Ou perfeitos demais justamente porque é mentira — respondeu outra voz.

Clara ignorou. Ela estava acostumada com julgamentos. Mas agora... agora eles vinham em dobro.

Sentiu a mão de Gabriel pousar firme em sua cintura, como se quisesse lembrá-la — e lembrar a todos — que ela, a partir daquele momento, pertencia a ele. Pelo menos, aos olhos do mundo.

— Relaxe — ele disse em tom baixo, rouco, próximo ao ouvido dela. — Está se saindo melhor do que eu imaginei.

Ela virou o rosto, mantendo o sorriso social, mas seus olhos eram navalhas.

— Tire a mão, Gabriel — respondeu entre dentes. — Antes que eu quebre seus dedos. Isso não estava no contrato.

Ele sorriu, perigosamente.

— Está sim. Na cláusula invisível chamada "aparências impecáveis".

— Eu disse que fingiria ser sua esposa. Não sua propriedade.

— Então finja direito — retrucou, apertando levemente a cintura dela. — E sorria. Eles estão olhando.

Clara forçou um sorriso que, para qualquer um, parecia natural, mas por dentro queimava de raiva.

Gabriel conduziu-a até a mesa principal, cumprimentando aliados, investidores e algumas pessoas que ela conhecia de vista — e outras que ela preferia nunca ter visto.

Entre elas... Sabrina.

— Ora, ora — a voz doce, quase melosa, surgiu como um espinho na carne. — Que surpresa, Clara. Nunca imaginei que você fosse do tipo... submissa.

Clara virou-se lentamente, encontrando o sorriso venenoso da meia-irmã. Sabrina vestia um vestido vermelho justo demais, curto demais, claramente calculado para chamar atenção.

— E eu nunca imaginei que você fosse do tipo que é convidada — rebateu, seca.

Gabriel arqueou uma sobrancelha, mas não interferiu. Observava em silêncio, como quem assiste a uma luta prestes a começar.

— Achei que viesse parabenizar o casal — Sabrina piscou, falsa. — Mas sabe como é... certas alianças me surpreendem. Principalmente quando envolvem pessoas que, até ontem, diziam que jamais se curvariam a ninguém.

Clara sorriu, doce como veneno.

— E eu achei que você viesse parabenizar também. Afinal, alguém aqui precisa ensinar você o que é ser desejada de verdade, e não só... descartada depois.

O sorriso de Sabrina vacilou. Por um segundo, seus olhos faiscaram ódio.

Gabriel, até então calado, interveio, segurando Clara pela cintura, apertando de leve, como se a lembrasse do papel.

— Clara — sua voz era baixa, quase uma ordem velada —, não se rebaixe.

Ela apertou os olhos, respirou fundo e voltou a sorrir.

— Claro, querido — respondeu, irônica. — Afinal, estamos em uma noite... especial.

Eles se afastaram, deixando Sabrina com a expressão amarga.

Assim que chegaram a um canto mais reservado, Gabriel inclinou-se levemente, com aquele meio sorriso cínico.

— Você é uma caixinha de surpresas, Clara Antunes.

— E você, uma caixa cheia de problemas — rebateu, seca. — Mas fique tranquilo. Eu sei jogar esse jogo tão bem quanto você.

— Ótimo. Porque estamos só começando.

Os dois se encararam, e naquele olhar havia tudo — guerra, desejo, raiva e... talvez, só talvez, uma faísca de algo que nenhum dos dois estava preparado para enfrentar.

— Estamos só começando, é? — Clara cruzou os braços, levantando o queixo em desafio. — Pois saiba, Gabriel, que eu não sou uma peça do seu tabuleiro.

Ele deu um passo para mais perto, tão perto que ela quase sentiu o calor do corpo dele. Seus olhos escuros desceram dos olhos dela para os lábios, por apenas um segundo, antes de voltar a encará-la com aquele olhar carregado de domínio.

— Não é? — Sua voz ficou rouca, baixa, perigosa. — Então me diga, Clara... o que exatamente você acha que é, nesse jogo?

Ela apertou os punhos, respirando fundo.

— Eu sou a única peça que você não consegue controlar. — Seus olhos queimavam. — E sugiro que se acostume com isso.

Gabriel sorriu, lento, inclinado para ela como quem aprecia um bom desafio.

— Veremos.

Antes que Clara pudesse responder, foram interrompidos por um fotógrafo da imprensa, acompanhado de uma repórter empolgada.

— Sr. Monteiro! Srta. Antunes! Uma foto, por favor! — Ela praticamente se jogou na frente dos dois, com o microfone já preparado. — O casal mais comentado de Auriville esta noite. Podemos fazer algumas perguntas rápidas?

Gabriel assumiu o comando instantaneamente, o sorriso perfeitamente calculado no rosto.

— Claro. — Ele passou novamente o braço na cintura de Clara, que respirou fundo, lutando contra o impulso de se afastar. — Estamos felizes em compartilhar esse momento com vocês.

— Que notícia surpreendente! — A repórter sorriu. — Afinal, até poucos meses atrás, vocês nem eram vistos juntos. Como... aconteceu?

Clara abriu a boca para responder, mas Gabriel foi mais rápido.

— O amor, às vezes, acontece onde menos esperamos — disse ele, olhando diretamente para Clara, com aquele olhar tão intenso que poderia queimar. — A vida tem formas curiosas de nos surpreender.

Ela mordeu a língua para não revirar os olhos. Amor, é? Hipócrita.

— De fato — completou, forçando um sorriso doce, embora venenoso. — E às vezes, o destino coloca no nosso caminho exatamente aquilo que não sabíamos que precisávamos.

Gabriel apertou um pouco mais sua cintura, dessa vez sem aviso, como se dissesse: jogue o jogo, Clara, ou será engolida por ele.

— E os planos para o casamento? — perguntou a repórter. — Já temos uma data?

— Duas semanas — respondeu Gabriel, sorrindo. — Estamos ansiosos para celebrar esse momento com todos que fazem parte da nossa história.

Clara apertou os dentes. A naturalidade com que ele mentia era assustadora. Ou talvez... ela que precisasse aprender a mentir tão bem quanto.

— E sobre filhos? — A repórter sorriu, atrevida. — Está nos planos?

Gabriel respondeu imediatamente, com aquele tom controlado e calculado:

— Cada coisa no seu tempo.

Clara, por sua vez, sorriu com mais malícia do que pretendia:

— Afinal, ele ainda está em fase de treinamento — respondeu, olhando diretamente para o CEO como quem lança um desafio público.

O fotógrafo riu, a repórter também, achando que era uma brincadeira de casal apaixonado. Gabriel, porém, apertou ainda mais sua cintura, dessa vez não havia mais só domínio... havia fogo. Perigo. E algo que nem ele conseguia mais fingir que não estava ali.

— Você adora brincar com fogo, não é? — sussurrou ele, baixo, junto ao ouvido dela, enquanto os flashes seguiam.

— E você adora achar que pode apagar — respondeu, mantendo o sorriso para as câmeras.

Assim que os jornalistas se afastaram, Clara tentou soltar-se, mas Gabriel segurou seu braço com firmeza, puxando-a para um canto mais reservado, longe dos olhares.

— Deixe uma coisa muito clara, Clara — sua voz estava mais rouca, mais grave. — Quando aceitei esse contrato, não estava preparado para lidar com sua língua afiada.

Ela ergueu uma sobrancelha, desafiadora.

— E eu não estava preparada para lidar com sua arrogância. — Deu um passo para mais perto, ficando tão próxima que podia sentir o cheiro amadeirado do perfume dele, forte, viciante, irritantemente sedutor. — Mas aqui estamos.

Por um segundo, o ar entre eles ficou pesado. As palavras sumiram. Havia apenas aquele silêncio carregado, onde qualquer movimento poderia resultar em... guerra.

Ou em algo muito mais perigoso.

Gabriel olhou para ela, para a boca dela, depois para os olhos novamente, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. E, pela primeira vez, Clara percebeu que ele não era tão impenetrável quanto gostava de fingir.

— Cuide-se, Clara — disse, finalmente, em tom baixo, quase uma ameaça. — Porque você não faz ideia do que começou.

Ele então soltou seu braço, deixando-a ali, sozinha, tentando controlar o próprio coração que, traidoramente, batia mais rápido do que deveria.

E ela odiava isso.

Odiava com cada célula do seu corpo.

Mas, talvez... só talvez... já fosse tarde demais para voltar atrás.

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Comments

Fabiana De Jesus

Fabiana De Jesus

e vai se apaixonar rápido

2025-05-27

0

Dulce Gama

Dulce Gama

kkkkk esses dois são que nem cão 🐕‍🦺 e gato 🐈 KKK 🌟🌟🌟🌟🌟♥️♥️♥️♥️♥️👍👍👍👍👍👍🎁🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹

2025-05-25

1

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