O silêncio dentro do carro contrastava brutalmente com o turbilhão que tomava conta da mente de Clara. Ela olhava pela janela enquanto os prédios luxuosos de Auriville deslizavam, refletindo o sol na vidraça, tão perfeitos e inatingíveis quanto o homem com quem acabara de assinar um contrato de casamento.
Seu telefone vibrou no colo.
“Bianca”, piscava na tela.
Ela respirou fundo antes de atender.
— E então? — a voz da melhor amiga soou do outro lado, ansiosa. — Você me deixou plantada a manhã inteira esperando. O que ele disse?
Clara fechou os olhos por um segundo, como se dissesse aquilo em voz alta tornasse tudo ainda mais real.
— Eu disse sim.
O silêncio do outro lado foi imediato. Depois, uma explosão:
— O quê? — Bianca quase gritou. — Você tá maluca, Clara? Por favor, me diz que é uma piada! Você… você aceitou casar com aquele... aquele... tirano de gravata?
Clara esfregou o rosto com a mão livre, exausta.
— Não é piada. É... necessário.
— Necessário é você respirar, pagar boletos, tomar café. Casar com o Gabriel Monteiro não é necessário, é insanidade! — Bianca parecia à beira de uma síncope. — Me explica, agora, como isso aconteceu.
— Se eu não fizesse isso, Bianca, perderíamos tudo. Meu pai quase destruiu os negócios da família. As dívidas são muito maiores do que eu imaginava. O banco já começou os processos. Isso não é só sobre mim. São meus funcionários, são as famílias que dependem da empresa...
— Você é incrível, Clara, mas às vezes me dá nos nervos esse seu senso de responsabilidade nível mártir. — Ela suspirou, mais calma. — E ele? Quais são as condições?
Clara fechou os olhos, a voz saindo amarga.
— Dois anos. Fingindo ser a esposa perfeita. Eventos sociais, aparências, nada de escândalos. E, claro, obediência, segundo o dicionário Gabriel Monteiro.
— Obediência? — Bianca arfou. — Ele só pode estar sonhando.
— Ah, ele vai aprender rápido que eu não sou mulher de coleira — respondeu, firme. — Eu impus as minhas cláusulas também. Liberdade profissional, vida pessoal fora do contrato e nada de interferências nas minhas escolhas.
— Isso é uma bomba-relógio. — Bianca resmungou. — Quando é que esse... casamento vai acontecer?
Clara mordeu o lábio inferior.
— Em duas semanas.
— Duas semanas?! — Bianca praticamente berrou. — Meu Deus... é sério que você vai ser a senhora Monteiro?
Ela olhou para sua própria mão, imaginando o peso que aquela aliança teria. Não era só ouro. Era uma corrente invisível.
— Sim... parece que sim.
◾ ◾ ◾
Do outro lado da cidade, na cobertura mais luxuosa de Auriville, Gabriel Monteiro servia-se de uísque, observando a linha do horizonte.
A porta se abriu sem cerimônia.
— Você só pode estar de brincadeira, Gabriel — Caio Torres, seu melhor amigo e sócio, jogou uma pasta sobre a mesa de vidro. — Casamento? Você ficou louco?
Gabriel levou o copo aos lábios, indiferente.
— Não é brincadeira. É estratégia.
— Você não acredita nem em namoro, cara. — Caio passou a mão nos cabelos, rindo sem humor. — E agora, do nada, me aparece com um contrato de casamento? Com a Clara Antunes, ainda por cima?
— Exatamente — respondeu, impassível.
Caio o encarou por alguns segundos, depois balançou a cabeça, rindo.
— É oficial. Você enlouqueceu. Ela te odeia, e você sabe disso.
Gabriel se virou, apoiando-se na bancada.
— E é exatamente por isso que vai funcionar. — Um meio sorriso frio apareceu nos lábios dele. — Clara é inteligente. Orgulhosa. Incapaz de fingir onde não quer. Se ela aceitou, é porque precisava tanto quanto eu. Isso a torna... previsível.
— Ou totalmente imprevisível. — Caio cruzou os braços, olhando o amigo com uma mistura de incredulidade e fascínio. — Isso vai explodir na sua cara, irmão. E vou estar aqui pra assistir.
Gabriel girou o copo nas mãos, olhando o reflexo âmbar do líquido.
— Eu não perco, Caio. Eu nunca perco.
Mas, no fundo, uma parte dele sabia que, dessa vez, o jogo era diferente.
E ela... era diferente.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Dulce Gama
KKK Vai se apaixonar por Clara e vai ficar que nem um cachorrinho correndo atrás KKK🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁👍👍👍👍♥️♥️♥️♥️♥️🌟🌟🌟🌟🌟
2025-05-25
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