Homero
Fiquei ali parado, olhando para ela de longe. Ainda sentia a pressão do braço dela no meu peito, como se meu corpo ainda estivesse tentando entender o que aconteceu. Iris era fogo. E eu acabei de acender um pavio que pode muito bem explodir na minha cara.
— Cara, você tá com um sorriso estranho — comentou Caio, pegando mais uma taça de espumante. — Você gosta de desafio, né?
— Isso é suicídio profissional — respondi, mesmo sabendo que havia algo mais ali. — Ela não é só uma agente. Ela é uma lenda viva. Mas também parece... quebrada.
— Quebrada? — Caio arqueou a sobrancelha.
— Tem algo no olhar dela. Uma raiva contida, como se estivesse sempre à beira de explodir. Mas não é ódio... é dor. Ela odeia tudo que remete a afeto, carinho, conexão. Odeia o amor.
Caio assobiou.
— Pesado. E você vai ter que passar quantos meses com ela mesmo?
— O tempo suficiente pra ela tentar me matar ou começar a tolerar minha presença — suspirei, encarando meu copo vazio.
FLASHBACK – Sete Anos Atrás
Era inverno em Bucareste e Iris participava da formatura de novos recrutas, o vento cortava como navalha, e Iris sentia cada sopro gelado como um lembrete cruel de que não havia ninguém esperando por ela, ninguém iria parabenizar pela conquista.
Aos 13, foi deixada por sua mãe na sede da Antcorporation como quem abandona um pacote. A última frase que ouviu foi:
— Eles sabem o que fazer com você. Eu... não.
Desde então, combate e sobrevivência se tornaram sua nova linguagem.
Amor era algo que assistia de longe. Nunca experimentava. Nunca permitia.
Mas então veio Arthur.
Um recruta novo, olhar gentil, palavras leves. Alguém que conseguiu atravessar suas defesas. Demorou meses até que ela aceitasse que talvez, só talvez, poderia baixar a guarda.
E quando finalmente baixou...
O noivado durou menos de seis meses. O descobriu aos beijos com uma colega da equipe, no alojamento da base. Teve que terminar a relação com uma arma na mão, não porque pretendia usá-la... mas porque precisava dela para não cair.
— Você não é suficiente — ele disse na última discussão. — Você só sabe lutar. Isso não é amor, Iris. Isso é guerra.
Desde então, ela decidiu: nunca mais.
Nunca mais se permitir ser vulnerável. Nunca mais entregar o coração para alguém que pudesse esmagá-lo como os pais e Arthur fizeram.
O amor era uma armadilha. E ela era uma guerreira, não uma presa.
De volta à festa
Homero terminava sua bebida quando ouviu uma nova explosão de risadas vindo da mesa de Iris. Por um momento, ela parecia normal. Quase feliz. Mas era só uma máscara.
Ele sabia disso.
E se agora seriam parceiros... precisava descobrir o que havia por trás daquela armadura.
Não para salvá-la, mas talvez... para não ser destruído por ela sai para o jardim novamente para buscar explicações em minha própria mente
Parei no jardim e fiquei de frente para a porta que eu acabei de passar, o copo vazio na mão, eu tentava juntar as peças do quebra-cabeça que era Iris. Ela voltou para a mesa, rodeada pelos colegas, e em menos de um minuto já gargalhava de alguma piada idiota. Mas aquele sorriso... era mais para manter as pessoas longe do que perto. Ela sabia usar o humor como armadura.
— Parece que alguém levou um coice — disse Caio, me cutucando com o cotovelo. — Gostei dela. Ácida, direta. Te faz bem sair da bolha.
— Me faz bem arriscar minha vida? — revirei os olhos. — Ótimo plano.
Voltamos para dentro. A festa estava num ponto em que os ricos se misturavam aos bêbados e as máscaras começavam a cair. O salão estava cheio de luzes baixas e música ambiente que tentava, em vão, parecer sofisticada. Casais dançavam como se estivessem em um comercial de perfume caro. E lá estava ela, sentada na mesa com o mesmo grupo, o olhar alternando entre tédio e irritação.
Me aproximei devagar, com um copo novo na mão. Ela percebeu. Não moveu um músculo, apenas levantou uma sobrancelha com escárnio.
— Veio reclamar oficialmente? — disse ela, antes que eu dissesse qualquer coisa.
— Vim pedir um armistício — respondi com calma. — A gente vai ter que trabalhar junto, lembra?
Ela cruzou os braços, me olhando de cima abaixo como se eu fosse um vírus no sistema.
— Um brinde, então. Ao profissionalismo... e ao infortúnio de ter que te aturar — pegou o copo da minha mão e bebeu, de uma vez.
— Você sempre trata os colegas assim?
— Não. Só os que sorriem demais. E os que acham que vão me entender.
— Eu não vim te entender, Iris. Eu vim te acompanhar. Por pior que seja, essa é a missão. E eu sou bom nela.
— É... e bonito demais pra ficar calado, aparentemente — murmurou ela.
Homero sorriu de leve. Ela percebeu e bufou.
— Se acha que vai quebrar meu gelo com charme, vai acabar com hipotermia.
— Anotado. Sem charme. Só ordens. E sarcasmo, claro.
— Agora sim estamos falando a mesma língua.
Antes que a conversa ficasse ainda mais ácida, Stefani puxou Iris pelo braço, querendo dançar. E Antônio ria ao fundo, já levemente alterado. A pista se enchia, casais improvisados formavam pares desconexos. O amor estava no ar — e Iris, visivelmente enjoada.
— Se eu sumir, ninguém me procure — disse ela ao grupo, antes de desaparecer pela lateral do salão.
Homero a seguiu com os olhos, pensativo.
— Cara, você tá indo direto pro buraco — disse Caio atrás dele, estalando os dedos na frente do seu rosto. — Mas vou te dar um conselho... se quiser que ela confie em você, vai ter que provar que não é como os outros.
— E como eu faço isso?__ Ele pega no meu ombro e olha para o mesmo lugar que eu.
— Sobrevive à primeira semana. Aí a gente conversa.
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Atualizado até capítulo 82
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Adriana Ramos monteiro
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2025-05-26
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