Capítulo 04

Homero ainda encarava a porta que Iris acabara de atravessar. Seus ombros estavam tensos, como se tivessem absorvido o peso daquela frase enigmática.

Antônio se arrastava até o banco mais próximo, massageando o ombro com um riso abafado.

— Você é corajoso, respeito isso — disse ele, olhando para Homero com certa compaixão. — Ou muito burro. Aí depende do ângulo.

Homero soltou um suspiro e se sentou ao lado dele.

— Ela é sempre assim?

— Sempre? — Antônio riu de novo. — Moleque, isso aí foi ela de bom humor. Ela só não te deu um soco porque teve pena da sua cara de cachorro perdido.-- Debochou Antônio.

— Eu só quis entender, sei lá... o que tem por trás de tanta raiva. Ninguém nasce assim.

— Aí que você se engana. Às vezes, nasce sim. Mas no caso da Iris... — ele fez uma pausa, olhando para os próprios tênis como se escolhesse as palavras. — Digamos que o mundo ajudou bastante.

Homero esperou em silêncio.

Antônio deu de ombros.

— O que eu sei é que ela não fala do passado. Nem a gente, que vive grudado nela há anos, sabe tudo. Só dá pra montar umas peças soltas. E, meu amigo, o quebra-cabeça não é bonito.

— Alguma coisa com o ex? — Homero arriscou, cauteloso.

Antônio soltou uma risada curta, sem humor.

— Ex? Plural, talvez. Mas o que ferrou com ela de verdade foi um. Noivo, se é que dá pra chamar assim. E antes disso? Pais a Abandonaram, promessas foram quebradas. Paredes desabando. Amor? Isso aí é palavrão no vocabulário dela.

Homero passou a mão nos cabelos, pensativo.

— Eu não queria... invadir nada. Só achei que...

— Que podia salvá-la? — Antônio o cortou com um sorriso torto. — Escuta aqui, super-homem: Iris não quer ser salva. Ela quer sobreviver. Quer manter o controle de tudo, até da dor. E você, se for esperto, não vai tentar abrir portas que ela trancou com sangue e ódio.

— E se eu quiser entender?

— Então faz isso de longe. Trabalhe com ela. Não contra. Seja útil, discreto. Não banca o terapeuta — Antônio se levantou devagar. — A não ser, claro, que você esteja com vocação pra exorcista. Porque a Iris? Ela não tem fantasmas. Ela tem demônios.

Fiquei ali, encarando o vazio da sala, como se tentasse decidir se aceitava o desafio… ou se corria antes que fosse tarde demais, Iris que tinha ido pegar sua água, voltou mais focada do que antes.

O ambiente estava mais silencioso do que de costume. A sala de treinamento da Antcorporation era ampla, metálica, e cheirava a suor e frustração. Iris estava no canto, ajustando as ataduras nas mãos. O olhar fixo no saco de pancadas como se ele tivesse insultado sua existência.

Entrei no tatame, usando uma camiseta preta simples e calças de combate. Hesitei por um segundo ao vê-la ali — não por medo, mas por puro instinto de autopreservação. Antônio, sentado em cima de um armário, comia uma maçã com total descompromisso.

— Eu te desafio Iris!— Não sei o que deu na minha cabeça.

-- Maravilha, Antônio prepara o salompax e gelo! -- respondeu ela, seca, girando para encará-lo.

Antônio gargalhou do alto.

— Ela está de ótimo humor, hoje.

Homero levantou as mãos em rendição.

— Só vim treinar. Achei que era isso que estávamos fazendo.

— Treinar, sim — disse ela, caminhando até o ringue. — Fazer turismo na minha paciência, não.

Ela subiu no tatame com a leveza de quem sabia que dominava o lugar. Homero hesitou. Antônio desceu do armário e jogou a maçã no lixo.

— Vai lá, novato. Só tenta sair inteiro. — Disse ele, apoiado nas cordas. — Ela está pegando leve. Eu acho.

**

Os dois se enfrentaram por alguns rounds. Homero era bom — mais técnico do que bruto, o que a irritava ainda mais. Ele parecia analisar seus movimentos, como se estivesse estudando-a, o que era ainda pior.

No quarto round, ela o acertou com uma rasteira seca e o derrubou. Ele caiu de costas, com um “uhf” abafado.

— Regra número um: não me subestime. Regra dois: não me analise. E três: não me irrite mais do que o necessário.

Homero tossiu, tentando recuperar o ar.

— Tá bom... anotado...

Antônio entrou no ringue e puxou Homero de volta para a posição sentada.

— Você sobreviveu mais do que eu esperava — disse ele, jogando uma garrafa d'água para o novo parceiro. — Mas vou te dar um conselho, Homero... quer trabalhar com a Iris? Fique na sua. Ela tem o próprio ritmo, o próprio inferno, e a última coisa que ela quer é alguém tentando apagar o fogo dela com conversa mole.

Homero limpou o suor da testa.

— Eu não sou um herói. Nem um terapeuta. Mas a gente vai ter que trabalhar juntos.

Antônio suspirou, como quem já viu isso antes.

— Então ache uma maneira de sobreviver ao calor, exorcista. Ou os demônios dela vão queimar você junto.

Iris já estava no canto, pegando a mochila e saindo sem se despedir.

**

(Breve flashback)

Iris revisava o mapa digital em uma base temporária no sul da cidade. Missão simples, cobertura e interceptação. Pelo menos era o que o relatório dizia.

— Cadê o Homero? — perguntou, impaciente.

— Foi interceptado em rota — disse o técnico de comunicações. — Foi atacado por um grupo externo, ele está bem, está a caminho...

Mas já era tarde. Iris já saía porta afora, armada, furiosa, indo buscar Homero

Capítulos
1 Capítulo 01 – O Casamento da Fusão
2 Capítulo 02
3 Capítulo 03 Peso morto
4 Capítulo 04
5 capítulo 05 flashbacks
6 Capítulo 06
7 Capítulo 07
8 Capítulo 08 Limites Intransponíveis
9 Capítulo 09
10 Capítulo 10 – Dívida de Sangue
11 Capítulo 11 Amizade e Armas
12 Capítulo 12 Chefão
13 capítulo 13 Fronteiras em Chamas
14 Capítulo 14 Paredes ruindo.
15 Capítulo 15
16 Capítulo 16
17 Capítulo 17 Noite Inquietante
18 Capítulo 18 Folga merecida.
19 Capítulo 19 Silêncios Que Dizem Tudo
20 Capítulo 20
21 Capítulo 21
22 Capítulo 22
23 capítulo 23 Depois do Tiroteio, Pipoca
24 Capítulo 24
25 Capítulo 25 Operação... Babá?
26 Capítulo 26 Sumiço de Sofia.
27 Capítulo 27 Semana infantil
28 capítulo 28
29 Capítulo 29
30 Capítulo 30
31 Capítulo 31
32 Capitulo 32 Operação Glitter Katana
33 Capítulo 33
34 capítulo 34
35 Capítulo 35 O jogo começa
36 Capítulo 36 Corredor de Pressão
37 Capítulo 37 Laços
38 Capítulo 38 Jantar surpresa
39 Capítulo 39
40 Capítulo 40
41 Capítulo 41 segredos
42 Capítulo 42
43 Capítulo 43
44 Capítulo 44 Tudo movido pela mentira
45 Capítulo 45
46 Capítulo 46 Gatilhos do coração
47 Capítulo 47 No coração da serpente
48 Capitulo 48 Segunda-feira de Guerra e Glitters
49 Capítulo 49
50 Capítulo 50
51 Capítulo 51 Videogame, Almofadas e... Confusão
52 capítulo 52
53 Capítulo 53 Missão carga perdida part 1
54 Capítulo 54 Missão carga perdida part 2
55 Capítulo 55 Ossos e sementes
56 Capítulo 56
57 Capítulo 57
58 Capítulo 58
59 Capítulo 59
60 Capítulo 60 Inimigos não usam corações
61 Capítulo 61 Missão Impossível – Aulas com Titios
62 Capítulo 62 Aprender, Amar e... Irritar a Iris
63 Capítulo 63
64 Capítulo 64 Dia no shopping
65 Capítulo 65 Momento a dois
66 Capítulo 66
67 Capítulo 67
68 Capítulo 68
69 Capítulo 69
70 Capítulo 70
71 capítulo 71 VÉSPERA DE GUERRA
72 Capítulo 72 CALMA ANTES DO FOGO
73 Capítulo 73 Fogo livre
74 Capítulo 74
75 Capítulo 75 Recomeços
76 Capítulo 76 Família
77 Capítulo 77
78 capítulo 78 Jantar em família
79 Capítulo 79 A Lua, a Rosa e o Sim
80 Capítulo 80 Novo ciclo
81 Capítulo 81 Promessas e Katanas
82 Epílogo – “Toda Guerra Vale a Pena Quando se Tem por Quem Voltar”
Capítulos

Atualizado até capítulo 82

1
Capítulo 01 – O Casamento da Fusão
2
Capítulo 02
3
Capítulo 03 Peso morto
4
Capítulo 04
5
capítulo 05 flashbacks
6
Capítulo 06
7
Capítulo 07
8
Capítulo 08 Limites Intransponíveis
9
Capítulo 09
10
Capítulo 10 – Dívida de Sangue
11
Capítulo 11 Amizade e Armas
12
Capítulo 12 Chefão
13
capítulo 13 Fronteiras em Chamas
14
Capítulo 14 Paredes ruindo.
15
Capítulo 15
16
Capítulo 16
17
Capítulo 17 Noite Inquietante
18
Capítulo 18 Folga merecida.
19
Capítulo 19 Silêncios Que Dizem Tudo
20
Capítulo 20
21
Capítulo 21
22
Capítulo 22
23
capítulo 23 Depois do Tiroteio, Pipoca
24
Capítulo 24
25
Capítulo 25 Operação... Babá?
26
Capítulo 26 Sumiço de Sofia.
27
Capítulo 27 Semana infantil
28
capítulo 28
29
Capítulo 29
30
Capítulo 30
31
Capítulo 31
32
Capitulo 32 Operação Glitter Katana
33
Capítulo 33
34
capítulo 34
35
Capítulo 35 O jogo começa
36
Capítulo 36 Corredor de Pressão
37
Capítulo 37 Laços
38
Capítulo 38 Jantar surpresa
39
Capítulo 39
40
Capítulo 40
41
Capítulo 41 segredos
42
Capítulo 42
43
Capítulo 43
44
Capítulo 44 Tudo movido pela mentira
45
Capítulo 45
46
Capítulo 46 Gatilhos do coração
47
Capítulo 47 No coração da serpente
48
Capitulo 48 Segunda-feira de Guerra e Glitters
49
Capítulo 49
50
Capítulo 50
51
Capítulo 51 Videogame, Almofadas e... Confusão
52
capítulo 52
53
Capítulo 53 Missão carga perdida part 1
54
Capítulo 54 Missão carga perdida part 2
55
Capítulo 55 Ossos e sementes
56
Capítulo 56
57
Capítulo 57
58
Capítulo 58
59
Capítulo 59
60
Capítulo 60 Inimigos não usam corações
61
Capítulo 61 Missão Impossível – Aulas com Titios
62
Capítulo 62 Aprender, Amar e... Irritar a Iris
63
Capítulo 63
64
Capítulo 64 Dia no shopping
65
Capítulo 65 Momento a dois
66
Capítulo 66
67
Capítulo 67
68
Capítulo 68
69
Capítulo 69
70
Capítulo 70
71
capítulo 71 VÉSPERA DE GUERRA
72
Capítulo 72 CALMA ANTES DO FOGO
73
Capítulo 73 Fogo livre
74
Capítulo 74
75
Capítulo 75 Recomeços
76
Capítulo 76 Família
77
Capítulo 77
78
capítulo 78 Jantar em família
79
Capítulo 79 A Lua, a Rosa e o Sim
80
Capítulo 80 Novo ciclo
81
Capítulo 81 Promessas e Katanas
82
Epílogo – “Toda Guerra Vale a Pena Quando se Tem por Quem Voltar”

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!