Iris- no vestiário...
A água quente escorria por sua pele, criando um véu de vapor que envolvia o pequeno banheiro. Iris mantinha os olhos fechados, tentando silenciar a própria mente. A missão tinha sido resolvida — Homero quase atrapalhara tudo —, e agora, o que ela queria era apenas esquecer.
Mas esquecer era um luxo que ela não podia mais bancar.
A cabeça encostada no azulejo frio contrastava com o calor da água. Ela soltou um suspiro lento. No instante seguinte, o passado a engoliu.
Flashback — 10 Anos Atrás
Chovia. Como sempre nos dias importantes da sua vida.
Iris ainda era jovem demais para entender a crueldade do mundo, mas velha o suficiente para sentir o peso da ausência. Estava sentada na varanda da casa da avó, os joelhos encolhidos contra o peito. Esperava. Esperava por um pai que prometera buscá-la para um fim de semana "só deles". Como nas outras vezes, ele não apareceu.
— Ele não vem, Iris... — disse a avó, com voz cansada.
— Ele prometeu.
— Ele sempre promete.
Ela não respondeu. Só fechou mais os braços em torno das pernas e fingiu que a chuva eram lágrimas emprestadas do céu.
Anos depois, já adulta, ela acreditou que talvez não fosse mais aquela menina esquecida. Havia alguém — um noivo, um parceiro de missão, um homem que prometera ficar.
Ele prometeu o mundo. Prometeu uma vida juntos depois da aposentadoria das armas. Prometeu que não havia outra.
E então... ela o encontrou com a tal “outra”. E descobriu que as promessas, pra ela, vinham sempre com prazo de validade.
Volta ao Presente
Iris abriu os olhos. A água ainda caía, mas já não parecia tão quente. Sentia o peito apertado como se alguém o tivesse comprimido com cordas de aço.
Ela desligou o chuveiro de um jeito brusco, como se pudesse também desligar a lembrança. Enrolou-se na toalha e vestiu-se saiu do vestiário e foi direto para a saída pegou seu carro e foi para casa, a garrafa de uísque esquecida sobre o balcão da cozinha ainda a esperava. Serviu um gole generoso.
“Amor é coisa pra gente fraca”, murmurou pra si mesma.
E no fundo... ela sabia que estava começando a temer o que mais odiava: que aquele tal de Homero talvez não fosse tão fácil de ignorar quanto ela gostaria. Depois de uns 30 minutos recebo uma mensagem de Stefani, me convidando para ir à um bar que a equipe sempre vai no centro, pensei em recusar mas eu queria relaxar e dos meus parceiros.
O bar estava mais cheio do que o normal naquela noite. Um lugar chique, com luz baixa, música ambiente e garçons que andavam como se estivessem pisando em nuvens. Nada disso fazia meu estilo. Mas ali estava eu, sentada numa mesa cercada por rostos familiares, todos com copos cheios e sorrisos leves.
— Milagre você ter vindo, Iris, — disse Antônio, com um sorriso debochado. — Achei que você fosse alérgica a diversão.
Revirei os olhos antes de levar o copo de whisky à boca.
— Talvez eu só tenha me cansado de ver vocês voltarem meio mortos e com ressaca sem mim. Resolvi vir supervisionar.
— Ah, claro, — respondeu ele rindo. — Vigiar a mesa de drinks. Deve ser uma missão de alto risco.
— Tô aqui, não tô? Então aproveita antes que eu me arrependa e suma de novo.
O grupo riu, e a noite seguiu com conversas soltas e bebidas fluindo. Homero estava ali também, mas mais afastado, do outro lado do bar. Ele fingia desinteresse, mas seus olhos vinham até mim de tempos em tempos. Eu percebia. Fingia que não.
Aos poucos, a galera foi indo embora. Primeiro Marcos, depois Shara e Stefani. Antônio saiu por último, me lançando um olhar de dúvida.
— Tem certeza que não quer que eu fique? Você nunca termina a noite sozinha.
— Hoje é a exceção. Vai embora, vai. Amanhã eu te conto se matei alguém.
Ele hesitou, mas acabou indo.
Fiquei.
Não por solidão. Mas porque o silêncio me dava espaço pra pensar, ou pelo menos tentava.
Foi quando um dos homens que rondava o bar desde mais cedo se aproximou. Alto, camisa justa, aquele sorriso que acha que engana. O parceiro dele ficou perto do balcão, chamando a atenção do garçom. Sutilmente, derramou algo em um copo.
Meu copo.
Mas eu não era estúpida. Vi o movimento pelo reflexo da parede espelhada ao lado. Me virei no instante em que o outro homem se aproximava, todo confiante.
— Tá sozinha? Quer companhia? — ele disse, tentando parecer charmoso.
Dei um passo à frente, com o olhar frio.
— Quero que você suma da minha frente antes que perca os dentes, serve?
Ele tentou disfarçar a tensão com um riso forçado.
— Ei, calma, gata. Tava só sendo simpático...
— Pois seja simpático em outra mesa. Essa aqui não é pro seu nível.
Ele ainda tentou se manter no lugar, mas um movimento meu com o ombro foi suficiente para fazê-lo recuar. Não toquei nele ainda. Mas o recado foi claro.
Atrás dele, o outro homem percebeu que o plano dera errado. Estavam prontos para sair... até que uma sombra surgiu. Homero.
Ele atravessou o bar sem pressa, mas com os olhos em chamas.
— Algum problema, senhores?
Os dois homens hesitaram, mas tentaram bancar os espertos.
— Só uma conversa mal interpretada, bro. Relaxa.
— Ah, eu tô relaxado. Mas se vocês não quiserem problemas reais, sugiro que desapareçam agora.
Eles recuaram. Rápido. Homero observou até que saíssem de vista.
Então, se virou pra mim.
— Você tá bem?
— Por que você ainda tá aqui? Me seguindo agora?
— Te observando, — ele respondeu, sem hesitar. — Porque sabia que ia dar merda.
Respirei fundo. A raiva misturada com o álcool fazia meu coração bater rápido. Tudo ficou meio turvo de repente.
A última coisa que lembro foi ver o copo. Aquele copo que eu não bebi. Mas... tomei outro. Será que foi o errado?
O chão se moveu sob meus pés. Minha visão escureceu.
E então, apaguei
Pela manhã...
O quarto estava escuro, mas não completamente. A luz suave que escapava da sala iluminava o teto branco, liso demais para ser o de qualquer quarto de hotel. Havia cheiro de café no ar. E de algo masculino.
Iris abriu os olhos de uma vez só, sentando-se na cama com a agilidade de quem está pronta para atacar. Suor na testa, punhos cerrados, respiração acelerada.
Reconhecimento. Instinto. Defesa.
— Onde diabos eu tô?
O movimento dela foi rápido. Em segundos, tinha arrancado a manta do corpo e procurado qualquer objeto que pudesse virar arma. Só parou quando a porta se abriu e Homero apareceu, com uma caneca de café em uma mão e expressão preocupada.
— Calma! — ele disse, levantando as mãos. — Você tá segura.
— O que você fez comigo? — ela rosnou. — Se encostou em mim, eu te arrebento!
Ela avançou. Ele quase deixou a caneca cair, mas não recuou.
— Você foi drogada. Eu te trouxe pra cá porque era isso ou te deixar na calçada pro primeiro imbecil abusar de você de novo.
— E por que não me levou pra casa?
— Porque você não me deixou chegar nem perto do seu endereço. Tava semi-inconsciente e armada. Eu não ia correr o risco de levar um tiro por tentar achar sua chave.
O silêncio entre eles foi cortado apenas pelo som do café pingando no chão.
Iris não disse nada por alguns segundos. Estava avaliando. Observando a respiração dele, a postura, a voz.
Nada indicava mentira.
Ela abaixou os ombros, ainda em alerta, mas menos agressiva. Passou a mão no rosto, sentindo a dor de cabeça se formar.
— Merda.
— Pois é. Quase precisei chamar reforço pra te segurar. Você me ameaçou até dormindo.
— Ótimo. Pelo menos a coerência me acompanha até no sono.
Ele sorriu de leve, mas não comentou.
Ela se levantou, percebendo que ainda estava com a roupa da noite. Nenhum botão solto, nenhum acessório mexido. Tudo exatamente como antes. Isso a acalmou — mas só um pouco.
— Não tá acostumada a confiar em ninguém, né?
Ela o olhou de lado, os olhos ainda frios.
— Confiança é um luxo. E eu não sou rica em ilusões.
Homero assentiu, compreendendo mais do que ela imaginava.
— Você quer que eu te leve pra casa agora?
— Não. Quero um banho, uma arma, e que essa noite desapareça da minha memória.
— Posso oferecer o banho. A arma... melhor deixar pra outro dia.
Ela arqueou uma sobrancelha, mas não retrucou. Caminhou até o banheiro como uma tempestade contida. Ao fechar a porta, soltou um suspiro profundo e trancou por dentro.
Sozinha no espelho, encarou a própria imagem. O rosto cansado, os olhos marcados por algo mais antigo do que a noite. A água quente começou a cair, e foi ali, naquele vapor silencioso, que os fantasmas do passado voltaram.
...-- Mamãe não me deixe aqui! Mamãe! -- O choro incontrolável de Iris e a dor do abandono fazia a sua cabeça criar um Looping continuo...
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Atualizado até capítulo 82
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