Laura acordou com o primeiro sinal de luz filtrada pela fresta da cortina. Seus olhos ardiam, o corpo estava pesado como se não tivesse dormido, e de fato, quase não dormiu.
Passou a madrugada inquieta, atenta a qualquer ruído vindo da sala. A presença de um estranho, ferido na sua casa, transformou o pequeno apartamento num campo minado.
Com movimentos cautelosos, sentou-se na beirada da cama, esfregando o rosto com as mãos.
Olhou para o relógio: pouco mais de 6 horas da manhã.
Precisava buscar a filha na casa de Dona Zuleide antes que a vizinha se preocupasse. E precisava, acima de tudo, se certificar de que aquele homem já havia partido.
Ainda não sabia o que havia dado na sua cabeça ao fazer aquilo. Colocou em risco a sua miserável vida.
Desbloqueou a porta do quarto com cuidado o coração acelerado. Respirou fundo, antes de girar a chave. O estalo ecoou mais alto do que gostaria. Empurrou a porta devagar, permitindo que a luz do corredor invadisse o ambiente. Os seus olhos correram rápidos pelo apartamento.
Ele ainda estava ali.
Deitado no mesmo sofá, agora em um sono conturbado. O rosto pálido, suado. Os lençóis improvisados estavam bagunçados. Aproximou-se com cautela, pronta para recuar ao menor sinal de movimento.
Ele estava febril, Laura suspirou.
— Mas quê merd@! — murmurou para si mesma.
Estava claro que ele não podia simplesmente sair andando naquele estado. A perna, enfaixada de forma improvisada, estava inchada e o sangue voltara a escorrer pelas bordas. ela notou o brilho na pele dele, a respiração irregular.
Febre alta... infecção. Aquilo podia matá-lo!
Se ele morresse, o que ela faria com um corpo dentro da sua casa?
Com um suspiro resignado, foi até a cozinha e colocou água para ferver. Pegou alguns panos limpos, abriu a caixa de primeiros socorros que guardava para emergências com a filha. Aquilo tudo era insano.
Ela não sabia de onde ele vinha, o que fazia, porque não queria chamar a polícia. Sabia apenas que estava ferido, que olhava para ela com um olhar intenso e que dava ordens como se ainda estivessem no controle.
Deixou a água esfriar um pouco e voltou para a sala com a bacia, um pano e um termômetro velho, que encostou com cuidado no pescoço dele. Ele gemeu algo inaudível, mas não acordou. Ele ardia... Quase 40 graus de febre.
Enquanto passava o pano com água morna sobre a festa dele, Laura notou algo debaixo do travesseiro improvisado. Um volume estranhamente familiar ao toque. Puxou com cuidado e o coração disparou quando viu o que era: uma pistola!
Fria, pesada. Estava carregada.
A raiva tomou conta dela por um segundo.
— Maldito! — disse baixinho.
Podia ter sido pior. Se esse cara fosse um assassino, um foragido... Mas, ao mesmo tempo, por que ainda estava ali, tão vulnerável?
Sem pensar muito, ela caminhou rápido até o armário da lavanderia e escondeu a arma dentro de uma caixa de panetone que usava para guardar parafusos, pregos, e todo tipo de bugigangas. Fechou bem, era melhor ele não saber que ela sabia sobre a arma.
Quando voltou para a sala, o homem se mexia, suando.
— Água...— murmurou ele, com voz rouca e os olhos ainda semi abertos.
Laura lhe deu um copo pequeno, ajudando-o a beber com cautela. A pele dele queimava.
— Precisade um médico. — disse ela.
Ele apenas balbuciou algo em outra língua e apagou de novo.
Antes que pudesse refletir mais sobre a situação, ouviu batidas leves na porta, três toques ritmados. O seu coração quase saiu pela boca. Era Zuleide.
Laura correu para a porta e a abriu com um sorriso tenso.
— Bom dia, minha filha. Trouxe a pequena. Ela já tomou o café e está tão animada que só vendo...— Dona Zuleide sorriu, a menina ao lado, segurando a sua mão.
Laura se abaixou e abraçou a filha com força. Um alívio tomou conta dela. Pela primeira vez naquela manhã, sentiu-se segura. Mas uma segurança frágil, feita de silêncio e improviso.
— Obrigada, Dona Zuleide. Só não repara a bagunça, tive uma noite péssima.
A idosa olhou por cima do ombro da moça e pareceu farejar que algo não ia bem.
— Quer ajuda com alguma coisa? Você está pálida...
Laura lançou um sorriso.
Não, eu tô bem. Só cansaço mesmo Depois eu te explico. Obrigada por trazer a Maria Eduarda.— ela beijou a filha nas bochechas, aquela criança era o seu "norte".
— Vai lá brincar um pouco na cama da mamãe, meu amor.
Maria Eduarda sai saltitante, sem nem perceber o homem doente sobre o sofá. Zuleide hesita por um instante, mas assentiu, os olhos buscaram algo dentro do apartamento.
Laura agradeceu novamente e fechou a porta com suavidade. Ficou encostada na porta por alguns segundos ela pensava no que fazer...
Agora com a filha em casa e um homem armado e febril no sofá, Laura sabia que estava vivendo o início de algo que não podia controlar. A partir dali, cada decisão contava e cada segredo também.
Ela olhou para o homem, que dormia mal suando em febre. O coração dela está apertado, mas é tarde demais para voltar atrás.
Sabe que fez besteira, colocou a sua vida e a da filha em risco trazendo um estranho para dentro de casa.
Depois da sua idiotice de confiar no " doador de esperma", que era assim que se referia ao pai da filha, essa foi a sua primeira decisão impensada em três anos.
Não sabia o que fazer... Talvez chamar a polícia seria o melhor, mas algo nele a fazia querer protegê-lo. Não que ele aparecesse alguém que precisasse de proteção, mas no momento ele estava frágil e era como o cãozinho abandonado que certa vez levou para casa e, quando pediu ajuda para o seu pai, ela levou uma surra e o pequeno animal foi jogado dentro de um bueiro perto da casa da avó, onde morava com o pai.
Lá estava ela com mais um animal abandonado, mas agora não tinha ninguém para jogá-lo fora.
Ela se aproximou lentamente do sofá e observou os traços do homem que ali estava.
Os cabelos e barba bem cortados, o corpo bem cuidado, era um sinal de que ele não era um morador de rua. Ele era bonito, bem apeçoado.
Ao tocar na testa dele para ver se a febre havia passado, teve o seu pulso torcido e o seu corpo desabou sobre o corpo forte.
— Donde estoy? Quien eres tu?
A voz dele era rouca, profunda e quando, por um breve instante ele abriu os olhos, Laura pode ver os mais belos olhos verdes da sua vida...
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Marinete Maduro
a história é boa mas demora muito pra postar os capítulos não vou lê mais
2025-05-26
1
Mavia Dantas
homem estranho a mulher que te ajudou /Facepalm//Chuckle//Proud/
2025-05-24
2
MARIA RITA ARAUJO
esse cara é mafioso 🤔 mais a estória é boa
2025-05-24
2