04—Laura/Rodrigo

 Laura acordou com o primeiro sinal de luz filtrada pela fresta da cortina. Seus olhos ardiam, o corpo estava pesado como se não tivesse dormido, e de fato, quase não dormiu.

 Passou a madrugada inquieta, atenta a qualquer ruído vindo da sala. A presença de um estranho, ferido na sua casa, transformou o pequeno apartamento num campo minado.

 Com movimentos cautelosos, sentou-se na beirada da cama, esfregando o rosto com as mãos.

  Olhou para o relógio: pouco mais de 6 horas da manhã.

 Precisava buscar a filha na casa de Dona Zuleide antes que a vizinha se preocupasse. E precisava, acima de tudo, se certificar de que aquele homem já havia partido.

 Ainda não sabia o que havia dado na sua cabeça ao fazer aquilo. Colocou em risco a sua miserável vida.

 Desbloqueou a porta do quarto com cuidado o coração acelerado. Respirou fundo, antes de girar a chave. O estalo ecoou mais alto do que gostaria. Empurrou a porta devagar, permitindo que a luz do corredor invadisse o ambiente. Os seus olhos correram rápidos pelo apartamento.

 Ele ainda estava ali.

 Deitado no mesmo sofá, agora em um sono conturbado. O rosto pálido, suado. Os lençóis improvisados estavam bagunçados. Aproximou-se com cautela, pronta para recuar ao menor sinal de movimento.

 Ele estava febril, Laura suspirou.

 — Mas quê merd@! — murmurou para si mesma.

 Estava claro que ele não podia simplesmente sair andando naquele estado. A perna, enfaixada de forma improvisada, estava inchada e o sangue voltara a escorrer pelas bordas. ela notou o brilho na pele dele, a respiração irregular.

 Febre alta... infecção. Aquilo podia matá-lo!

 Se ele morresse, o que ela faria com um corpo dentro da sua casa?

 Com um suspiro resignado, foi até a cozinha e colocou água para ferver. Pegou alguns panos limpos, abriu a caixa de primeiros socorros que guardava para emergências com a filha. Aquilo tudo era insano.

 Ela não sabia de onde ele vinha, o que fazia, porque não queria chamar a polícia. Sabia apenas que estava ferido, que olhava para ela com um olhar intenso e que dava ordens como se ainda estivessem no controle.

 Deixou a água esfriar um pouco e voltou para a sala com a bacia, um pano e um termômetro velho, que encostou com cuidado no pescoço dele. Ele gemeu algo inaudível, mas não acordou. Ele ardia... Quase 40 graus de febre.

 Enquanto passava o pano com água morna sobre a festa dele, Laura notou algo debaixo do travesseiro improvisado. Um volume estranhamente familiar ao toque. Puxou com cuidado e o coração disparou quando viu o que era: uma pistola!

 Fria, pesada. Estava carregada.

 A raiva tomou conta dela por um segundo.

  — Maldito! — disse baixinho.

  Podia ter sido pior. Se esse cara fosse um assassino, um foragido... Mas, ao mesmo tempo, por que ainda estava ali, tão vulnerável?

 Sem pensar muito, ela caminhou rápido até o armário da lavanderia e escondeu a arma dentro de uma caixa de panetone que usava para guardar parafusos, pregos, e todo tipo de bugigangas. Fechou bem, era melhor ele não saber que ela sabia sobre a arma.

 Quando voltou para a sala, o homem se mexia, suando.

 — Água...— murmurou ele, com voz rouca e os olhos ainda semi abertos.

 Laura lhe deu um copo pequeno, ajudando-o a beber com cautela. A pele dele queimava.

 — Precisade um médico. — disse ela.

 Ele apenas balbuciou algo em outra língua e apagou de novo.

 Antes que pudesse refletir mais sobre a situação, ouviu batidas leves na porta, três toques ritmados. O seu coração quase saiu pela boca. Era Zuleide.

 Laura correu para a porta e a abriu com um sorriso tenso.

 — Bom dia, minha filha. Trouxe a pequena. Ela já tomou o café e está tão animada que só vendo...— Dona Zuleide sorriu, a menina ao lado, segurando a sua mão.

Laura se abaixou e abraçou a filha com força. Um alívio tomou conta dela. Pela primeira vez naquela manhã, sentiu-se segura. Mas uma segurança frágil, feita de silêncio e improviso.

— Obrigada, Dona Zuleide. Só não repara a bagunça, tive uma noite péssima.

A idosa olhou por cima do ombro da moça e pareceu farejar que algo não ia bem.

— Quer ajuda com alguma coisa? Você está pálida...

Laura lançou um sorriso.

Não, eu tô bem. Só cansaço mesmo Depois eu te explico. Obrigada por trazer a Maria Eduarda.— ela beijou a filha nas bochechas, aquela criança era o seu "norte".

— Vai lá brincar um pouco na cama da mamãe, meu amor.

Maria Eduarda sai saltitante, sem nem perceber o homem doente sobre o sofá. Zuleide hesita por um instante, mas assentiu, os olhos buscaram algo dentro do apartamento.

Laura agradeceu novamente e fechou a porta com suavidade. Ficou encostada na porta por alguns segundos ela pensava no que fazer...

Agora com a filha em casa e um homem armado e febril no sofá, Laura sabia que estava vivendo o início de algo que não podia controlar. A partir dali, cada decisão contava e cada segredo também.

Ela olhou para o homem, que dormia mal suando em febre. O coração dela está apertado, mas é tarde demais para voltar atrás.

Sabe que fez besteira, colocou a sua vida e a da filha em risco trazendo um estranho para dentro de casa.

Depois da sua idiotice de confiar no " doador de esperma", que era assim que se referia ao pai da filha, essa foi a sua primeira decisão impensada em três anos.

Não sabia o que fazer... Talvez chamar a polícia seria o melhor, mas algo nele a fazia querer protegê-lo. Não que ele aparecesse alguém que precisasse de proteção, mas no momento ele estava frágil e era como o cãozinho abandonado que certa vez levou para casa e, quando pediu ajuda para o seu pai, ela levou uma surra e o pequeno animal foi jogado dentro de um bueiro perto da casa da avó, onde morava com o pai.

Lá estava ela com mais um animal abandonado, mas agora não tinha ninguém para jogá-lo fora.

Ela se aproximou lentamente do sofá e observou os traços do homem que ali estava.

Os cabelos e barba bem cortados, o corpo bem cuidado, era um sinal de que ele não era um morador de rua. Ele era bonito, bem apeçoado.

Ao tocar na testa dele para ver se a febre havia passado, teve o seu pulso torcido e o seu corpo desabou sobre o corpo forte.

— Donde estoy? Quien eres tu?

A voz dele era rouca, profunda e quando, por um breve instante ele abriu os olhos, Laura pode ver os mais belos olhos verdes da sua vida...

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Comments

Gislaine Duarte

Gislaine Duarte

uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii o homem fala espanhol 😏

2025-07-22

6

Rosineli Barbosa

Rosineli Barbosa

estou muito curiosa não gosto de livros de máfia mas estou lendo esse 😊😆😊😆😊

2025-07-25

0

Dione Cabral

Dione Cabral

Essa história tá prometendo...

2025-07-31

0

Ver todos
Capítulos
1 01— Por ela
2 02— Escolhas...
3 03— Rodrigo López
4 04—Laura/Rodrigo
5 05— Olhos verdes
6 06— Cuidados
7 07— Cúmplice
8 08— Silêncios e segredos
9 09—O contraste das vidas
10 10— A doçura da simplicidade
11 11— Corpo lavado, um coração desarmado
12 12— Uma paz incomum
13 13— Um grande susto
14 14— Doce refúgio
15 15— Sob o brilho das luzes
16 16– Coração de menina
17 17— Poder...
18 18— Proposta...
19 19— Compras...
20 20— Rumo à nova vida
21 21— Nova casa
22 22— Primeiro amanhecer
23 23— O chamado da matriarca
24 24— Frente à frente
25 25— Desjejum com a matriarca
26 26— Farpas
27 27— Um pingo de doçura
28 28— Esperança
29 29— O que acontece
30 30— Um olhar cheio de sentimentos
31 31— O olhar que queima
32 32— Coração
33 33— Alguns laços se formam...
34 34— Carinho improvável
35 35— Alianças de sombras
36 36— O calor do seu corpo
37 37— Para aplacar o desejo
38 38— Em seus braços
39 39— Sinais do destino
40 40— Sob o olhar da matriarca
41 41— Aconchego de vó
42 42—Fogo e paixão
43 43— Ápice da paixão
44 44— Olhares
45 45— A face escondida
46 46— A senhora López
47 47— Em família
48 48— Jogo sujo
49 49— Tudo bem
50 50— No silêncio do quarto
51 51— Promessas na manhã
52 52— Um dia normal...
53 53— Esposas López
54 54— Entre olhares
55 55— Noite em família
56 56— Ordens silenciosas
57 57— Fogo cruzado
58 58— Confissões
59 59— Dois corações
60 60— Um lar para sempre
Capítulos

Atualizado até capítulo 60

1
01— Por ela
2
02— Escolhas...
3
03— Rodrigo López
4
04—Laura/Rodrigo
5
05— Olhos verdes
6
06— Cuidados
7
07— Cúmplice
8
08— Silêncios e segredos
9
09—O contraste das vidas
10
10— A doçura da simplicidade
11
11— Corpo lavado, um coração desarmado
12
12— Uma paz incomum
13
13— Um grande susto
14
14— Doce refúgio
15
15— Sob o brilho das luzes
16
16– Coração de menina
17
17— Poder...
18
18— Proposta...
19
19— Compras...
20
20— Rumo à nova vida
21
21— Nova casa
22
22— Primeiro amanhecer
23
23— O chamado da matriarca
24
24— Frente à frente
25
25— Desjejum com a matriarca
26
26— Farpas
27
27— Um pingo de doçura
28
28— Esperança
29
29— O que acontece
30
30— Um olhar cheio de sentimentos
31
31— O olhar que queima
32
32— Coração
33
33— Alguns laços se formam...
34
34— Carinho improvável
35
35— Alianças de sombras
36
36— O calor do seu corpo
37
37— Para aplacar o desejo
38
38— Em seus braços
39
39— Sinais do destino
40
40— Sob o olhar da matriarca
41
41— Aconchego de vó
42
42—Fogo e paixão
43
43— Ápice da paixão
44
44— Olhares
45
45— A face escondida
46
46— A senhora López
47
47— Em família
48
48— Jogo sujo
49
49— Tudo bem
50
50— No silêncio do quarto
51
51— Promessas na manhã
52
52— Um dia normal...
53
53— Esposas López
54
54— Entre olhares
55
55— Noite em família
56
56— Ordens silenciosas
57
57— Fogo cruzado
58
58— Confissões
59
59— Dois corações
60
60— Um lar para sempre

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