03— Rodrigo López

 Rodrigo López apertava os olhos diante do sol inclemente que banhava a Zona Portuária do Rio. O calor parecia escorrer pelas paredes de concreto, misturando-se ao cheiro de ferrugem, maresia e fumaça. A cidade era um espetáculo à parte, cheia de contrastes, sons, cheiros e perigos.

 A pouco mais de duas semanas no Brasil, ele já aprendera a se mover pelas sombras.

 Não era um turista qualquer. A sua presença ali tinha um propósito. Um acerto de contas. Algo pendente que atravessara as fronteiras e o continente.

 Nascido em Madri, Rodrigo trazia no sangue a firmeza castelhana e nos olhos, a frieza de quem aprendeu a confiar apenas em si mesmo.

 Treinado desde jovem em disciplinas que não apareciam em currículos comuns, lidava com armas como quem manuseia talheres e com o silêncio como quem sabe que falar demais pode ser uma sentença de morte.

 Mas mesmo os experientes podem ser surpreendidos.

 Tudo começou com uma mensagem encriptada enviada antigo contato no Brasil.

 Um nome: Ortega.

 Um local: Zona Norte do Rio

E uma promessa: o homem que Rodrigo procurava estava ali.

 Rodrigo suspeitava de armadilha, claro. Mas às vezes os riscos são parte do jogo, o tipo de jogo que ele conhecia muito bem.

  Vestia jeans escuros, calça preta e um blusão que ajudava a se camuflar. O sotaque carregado fazia com que ele preferisse o silêncio, na tentativa de parecer um local.

 Chegou ao galpão indicado pouco antes da meia-noite. O lugar era velho, cheirando a óleo queimado e abandono. Nenhum sinal de Ortega ou do homem que ele caçava.

 E foi aí que tudo desmoronou...

 Primeiro tiro veio do alto. Um silvo, depois um estampido. Rodrigo rolou instintivamente para o lado, puxando a pistola que mantinha presa a cintura. O segundo tiro atingiu sua perna, parte superior da coxa. Um choque quente, imediato, vomo uma marretada.

 Ele caiu, mas não perdeu o foco.

 Três homens desceram por uma escada lateral. Máscaras, luvas... pistolas com silenciadores. Eram profissionais ou ao menos se vestiam como tal.

 Rodrigo, mesmo ferido, atirou. Dois disparos precisos, era treinado para isso. Um grito e um deles caiu. Os outros recuaram.

 Usando o que lhe restava de força, ele arrastou-se até os caixotes metálicos no fundo do galpão, derrubando-os no caminho. A dor pulsava, cada movimento parecia rasgar os músculos. Mas Rodrigo foi preparado para suportar bem mais que isso, não era a primeira vez que sangrava , nem seria a última.

 Sabia que não venceria aquele confronto sozinho. Precisava sumir, desaparecer...criar tempo. E havia aprendido que o caos urbano no Rio podia ser a sua melhor camuflagem.

 Saiu por uma porta lateral, atravessando uma rua deserta até alcançar um corredor estreito entre os prédios. As luzes piscavam e a escuridão se tornava a sua aliada. Os tiros não tinham chamado a atenção dos moradores daquela parte da cidade.

 Rodrigo manteve-se à sombra dos muros, o sangue encharcando a calça. Começava a se sentir tonto. Cada passo era um teste de resistência. E, ainda assim, a mente seguia afiada. Havia perdido a emboscada, mas não perderia a vida tão fácil.

 Passou por um pequeno boteco fechado, seguiu por uma viela até alcançar os fundos de um prédio. As luzes de uma “boate” brilhavam no topo, pulsando o som abafado da música. Rodrigo encostou-se na parede para recuperar o fôlego. Precisava de abrigo, algo temporário. Um lugar para se tratar, pensar...

  Mas naquele estado, ninguém o receberia. Entrar no hospital? Impossível. O seu nome levantaria alertas. E ele não podia cair nas mãos dos inimigos, houve traição. Ninguém naquele país era confiável.

 Foi quando tropeçou nos sacos de lixo. Não havia escolha. O sangue escorria com mais força e a visão começava a ficar turva. Se não estancasse o sangue logo, desmaia. E então sim estaria morto.

 Cambalhou até o canto entre os caixotes e se deixou cair entre sacolas rasgadas, cheiro de podridão e caixas molhadas. Rodrigo López, o espanhol que cruzara um oceano para "fechar uma conta", estava reduzido a um homem ferido, exausto e com respiração falha.

 Mas os instintos ainda estavam vivos.

 Ouviu passos... leves... firmes. Eram passos femininos. O som ecoava no beco. Alguém se aproximava.

 Rodrigo lutou para manter os olhos abertos, a mão direita ainda sobre o ferimento, a esquerda sobre a cintura, onde a sua pistola descansava, quase como uma extensão do próprio corpo.

 Um vulto feminino surgiu. Ele reconheceu nos olhos castanhos e nos cabelos escuros balançando sobre a brisa, os traços de uma mulher comum. Jovem, mas com postura de quem já carregava mais dores do que devia. Ela parou, excitante.

— Med@... — ela murmurou.

Rodrigo solta um gemido. Não era teatro, era o corpo cedendo.

— Ei... Ajuda.— sentiu a garganta raspar.

Ela olhou ao redor. Depois para ele. Havia dúvida, receio...mas também algo mais: humanidade, ele podia sentir.

Quando ela ajoelhou-se ao seu lado e passou o braço sob os seus ombros, Rodrigo soube que, por enquanto, estava salvo.

Sentiu-se grato pela loucura da sua salvadora. Agora estava num táxi, em saber onde ela o levava. Tentava manter a respiração estável, mas a dor latejava como a um tambor constante em sua coxa. A mulher ao seu lado, de cabelos negros e olhos firmes, mantinha o olhar fixo na rua, como se ainda estivesse decidindo se realmente devia levá-lo para casa.

Ele a observou de relance. Ela tinha os traços fortes, a postura de alguém que carregava o mundo nas costas, mas que não desistia. Uma mulher comum mas com brilho intenso nos olhos.

Ela não era o tipo de pessoa que esperaria encontrar numa madrugada dessas, muito menos sendo a sua única chance de sobreviver.

"Como fui parar nisso?— Pensou ele— Madri parecia tão longe agora..."

O táxi parou numa rua estreita. A mulher pagou o motorista e o ajudou a descer. Rodrigo cerrou os dentes para conter um gemido. As escadas do prédio velho pareciam intermináveis. Cada degrau fazia a bala dentro da carne vibrar.

O apartamento, um cheiro cítrico ou atingiu. Ali era tudo simples pequeno, mais limpo. Paredes desbotadas, móveis gastos fala um sofá puído, ele desabou.

Tentou não assustá-la sabia que estaria a salvo por enquanto...

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Comments

Di Rocha

Di Rocha

eita amando cada capítulo parabéns 😍👏🏻👏🏻😍

2025-05-23

3

MARIA RITA ARAUJO

MARIA RITA ARAUJO

posta mais autora, essa estória parece ser excelente

2025-05-24

1

Milla silva

Milla silva

Está muito boa continua

2025-05-23

2

Ver todos

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