Laura subiu no palco por três vezes durante a noite, era paga para isso, e muito bem paga.
Os seguranças não permitiam que clientes se aproximassem, os recados ela ignorava, recusava os convites para drinks...
Ela não bebia, não interagia com os frequentadores da boate. Não tinha tempo para esse tipo de distração. Estava ali para trabalhar e nada mais.
Às 3:00 da madrugada, tirou a maquiagem pesada e juntou os seus pertences, saindo pela porta dos fundos.
Exatamente às 3:30 da madrugada passava um ônibus "Corujão", que cruzava a cidade e a deixava a cinco quadras distantes do seu apartamento. Assim ela economizava o dinheiro da condução, sem pedir táxi ou motoristas por aplicativo.
Cobriu o rosto com capuz da blusa, tanto para se proteger do frio quanto para esconder o rosto e saiu rápido, pelos fundos, como fazia todas as noites, em especial nas noites de sexta-feira, pois saía na madrugada.
Os seus passos eram apressados no chão sujo do beco. O ar estava frio, denso e as primeiras gotas de um chuvisco começaram a tocar o seu rosto.
Acelerou o passo em direção ao ponto de ônibus, não podia perder a condução, já era quase 3:30 da madrugada.
As ruas da cidade, vazias e sombrias, pareciam guardar segredos demais aquela hora.
Mas naquela madrugada, o silêncio foi quebrado.
O som abafado, quase um gemido, cortou a escuridão. Laura parou, franziu o cenho, olhando ao redor. O som vinha da direção das lixeiras atrás do prédio, ao lado da boate.
Por instinto, devia ter ignorado.
"Quantas vezes dissera a si mesma que não podia se meter em encrencas? Que precisava apenas trabalhar, voltar para casa, cuidar da filha e sobreviver?"
Mas o som repetiu-se. Mais forte, humano e dolorido.
Indo contra o bom senso, ela aproximou-se. Ao se debruçar sobre a sacolas de lixo e caixotes empilhados, viu o vulto.
Um homem estirado no chão, o sangue escorrendo pela calça preta rasgada, o rosto parcialmente coberto pela sombra do capuz da blusa que ele usava.
Laura recuou um passo, o coração acelerado.
— Merd@...— murmurou olhando ao redor, indecisa.
O homem gemeu outra vez, tentando erguer a cabeça. A bala havia atingido sua perna, o sangue não jorrava, mas formava uma mancha escura que se espalhava com lentidão perigosa.
— Ei... ajuda. — ele disse, a voz rouca e arrastada.
Laura hesitou. Sabia que poderia ser uma armadilha. Um risco, mas também sabia o que era estar à beira de um colapso, esperando que alguém estendesse a mão. Praguejou em voz baixa, olhando para os lados, depois para aquele homem caído.
— Vou chamar a polícia... Eles sabem o que fazer. Vou pedir ajuda ela. — não tinha um celular, vendeu-o há tempos para comprar remédios para filha.
— Não.— a voz de comando a fez parar.— Me tire daqui. Sem hospital... sem polícia...
Laura pensou por um instante, e acabou por tomar a decisão que mudaria a sua vida para sempre.
— Você vai me dar um prejuízo que nem posso pagar... — Resmungou ela, ajoelhando-se para ajudá-lo.— Consegue se levantar?
Ele assentiu com a cabeça. Mesmo machucado, parecia determinado e forte. Laura passou o braço sob o ombro dele e com dificuldade, o ajudou a se erguer. Ele mancava, mas andava.
Cada passo era um esforço, e os dois quase caíram por duas vezes até chegarem ao ponto de táxi. Laura sabia que não dava para esperar pelo ônibus. Sabia quebrar todas as regras que havia imposto assim mesma. Mas também sabia que não conseguiria dormir se o deixasse ali.
No trajeto até o prédio, nenhum dos dois falou. O homem cerrava os dentes, o risto suado de dor, mas se mantinha lúcido. Laura pagou o táxi com o dinheiro que havia separado para os ingredientes dos doces da semana. Subiram as escadas do prédio em silêncio. Era cedo demais para que alguém estivesse acordado, ela agradeceu por isso.
Já no apartamento, apontou para o sofá.
— Deite aí. Eu vou pegar o “kit” de primeiros socorros...não tenho muita coisa.— falou enquanto forrava o móvel com uma toalha de banho.
Ele apenas a sentiu. Enquanto ela separava o álcool, gases e mais toalha limpa, ele rasgou a calça na altura da coxa. O sangue havia começado a secar, mas ainda era grave.
Quando Laura voltou, ele não pediu ajuda, apenas estendeu a mão para o frasco de álcool.
— Pode deixar que eu mesmo resolvo isso.— disse com voz firme, como quem está acostumado a comandar.
— Tem certeza?— Laura franziu o cenho.
— Absoluta. Não chame a polícia.— ele olhou-lhe com os olhos semicerrados.— Me dê o celular.
— Ficou louco?
— O seu celular. Não quero ter surpresas.— a voz dele era rouca e tinha um sotaque estranho.
— Não tenho celular. Olhe a sua volta. Acha que iria dar preferência a um celular?
Ele olhou-a com firmeza, talvez entando saber até onde ela falava a verdade.
— E tem mais, "senhor estranho", vou para o meu quarto. Se vira... quando eu sair, não quero te ver aqui.
— Não vou te causar problemas. Só preciso de algumas horas.
Laura o observou em silêncio enquanto ele retirava do bolso um pequeno punhal. Desinfetou a lâmina com o álcool e também a ferida. Usou umas das toalhas limpas com mordedor e, sem titubear, se pôs a retirar a bala da própria perna com a destreza de quem sabia o que fazia.
Não gemeu, não tremeu. Apenas Range os dentes. Usou o álcool sem hesitar e depois pressionou a gaze sobre a ferida, enfaixando com firmeza. Era evidente que aquela não era a primeira vez que ele lidava com aquilo.
Quando terminou, encostou-se no sofá e fechou os olhos por um instante. Laura aproximou-se com um cobertor fino e deixou sobre o corpo, ele não abriu os olhos...
Ela esqueceu-se até da fome.
Foi para o seu quarto, trancou a porta à chave, mas não satisfeita, puxou a cômoda e a colocou como uma "barricada" na porta.
Mesmo assim não conseguia dormir tranquila. Em sua cabeça só vinha a dúvida se agiu certo...
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Gislaine Duarte
ela tem um bom coração
2025-07-22
6
Josiane Batista
acho que ele é um mafioso e vai se apaixonar por ela
2025-07-28
0
Wandely Fatima
foi perigoso mas ela e humana ❤️
2025-08-01
0