( Valentina )
Olha, eu sou uma mulher de fé… mas às vezes me pergunto se Deus tá mesmo me acompanhando ou se foi comprar algo e esqueceu de voltar.
Tô ali, trancada num galpão fedido, rodeada de capanga mascarado, tentando bolar um plano de fuga. Porque uma coisa é ser caipira, outra é ser otária. E eu posso ser muito das boba, mas burra completa não sou.
Aproveito a troca de guarda, me esgueiro feito lagartixa na parede, me enrosco numa cerca de arame farpado, rasgo minha blusa, mas sigo firme, igual frango fugindo do abate.
Depois de muito correr no mato, levando picada de mosquito e oração engasgada, avisto de longe a entrada da propriedade dos Santiago. Aquilo ali é o mais perto que tenho de um lar — tirando minha casinha humilde e cheia de barata, é claro.
Paula me recebe de olhos arregalados.
— “Valentina?! Meu Deus, o que aconteceu com você?”
— “Longa história, amiga. Traz uma água com açúcar, um pão e um cobertor. E se sobrar, um milagre.”
Antes que eu pudesse respirar e contar que fui sequestrada por um grupo com nome de filme de terror, ( eles são a organização criminosa mais conhecida da região, se chamam de os "Assassinos das sombras" ), o mundo desanda mais uma vez. Escuto um barulho. Carros. Gritos. Gente armada.
E quando vejo... os encapuzados me pegaram de novo.
— “Ô meu Deus, era só um cochilo de três minutos, cês não me dão nem tempo de espirrar!”
Me jogam no banco de trás de um carro preto. Cheiro de cigarro e desespero.
Quando o carro para, tô num lugar ainda mais sombrio que o anterior. Me jogam diante de uma cadeira. E quem tá sentado nela?
Geraldo.
Magro, sujo, com cara de quem tomou uns bons tapas da vida. E olha que nem foi ela sozinha — teve ajuda.
— “Val... me perdoa…” — Geraldo sussurra.
Meus olhos enchem de água.
— “Ô seu desgraçado! Eu te procurei! Você me vendeu! Vendeu como se eu fosse mandioca no mercado da esquina!”
Ele chora. Eu choro. Até o capanga do canto engole seco.
O chefe dos encapuzados aparece e diz, com aquela voz de vilão que assiste novela:
— “Ela tentou fugir. Por isso, o pagamento será cancelado.”
— “O quê?”
Puxam Geraldo. Colocam ele de joelhos.
— “Não! Espera! Por favor! Não faz isso!”
Eu grito. Me debato. Mas sou pequena demais pra eles. Seguram meus braços.
E diante dos meus olhos… o som seco do disparo ecoa.
O corpo de Geraldo cai.
E ali, naquele chão frio, parte de mim quebra.
Fico muda. Os olhos ardendo. Sinto o gosto amargo da perda, da raiva, da impotência. Mas também… do alívio. Um estranho alívio. Porque, no fundo, ele me jogou nessa lama.
O chefe se aproxima de novo e diz:
— “Isso é um aviso. Você é nossa agora. Júlia está viva… por enquanto.”
Respiro. Tento engolir o choro. Engasgo com o ranho.
— “Eu vou fazer o que vocês quiserem… Mas ninguém toca na minha filha.” — Rosno.
E ali, naquela cena de filme de ação misturado com novela mexicana e documentário de tragédia, eu juro uma coisa:
Eu vou sobreviver.
Eu vou salvar a Júlia.
E vou dar um jeito de acabar com esses desgraçados.
Mas pra isso… talvez eu tenha que entrar no jogo.
E conhecer melhor esse tal de Pierre Scott, o juiz dos olhos gelados.
Porque no fim, minha arma não vai ser uma bala.
Vai ser a língua afiada, a esperteza de roceira… e o dom de nunca calar a boca.
Continua...
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Maria Isabel
Bem descontraída essa história uma comédia amando tudo
2025-05-20
2
Cleide Sany
tô gostando
2025-05-20
2