Capítulo 3 – E lá vou eu, na carroça do capeta

( Valentina )

Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que quando tudo começa a dar errado, a tendência é piorar. Tipo arroz queimado: você tenta salvar, vira papa. Tenta comer, quebra o dente. Pois é. Foi mais ou menos isso que aconteceu comigo.

Saio da fazenda com a cara e a coragem. Levo só uma muda de roupa, um pão doce e minha fé em Deus que nem sempre é muito forte, mas é persistente. O sol tá rachando a moleira, o mato parece que tá rindo da minha cara e o chinelo arrebenta logo na primeira curva de estrada.

— “É isso mesmo, vida? Vai me jogar no modo difícil hoje?”

Caminho mais um pouco, tentando pedir carona pra uma vaca que me olha com pena. Quando acho que tô chegando perto de alguma civilização, sinto uma coisa esquisita. Tipo aquele arrepio que a gente sente quando pisa em cocô quente. Só que pior.

Ouço um barulho. Passos. E antes que eu possa soltar um grito, um pano fedido me tapa a boca.

— “Ai meu Jesus, me jogaram na novela das oito!”

Apago.

Quando acordo, tô num lugar escuro, com cheiro de gasolina velha e cueca suada. Tem uns homens encapuzados, armados, e um deles, que parece ser o chefe, vem na minha direção.

— “Seja bem-vinda, Valentina Fonseca.”

— “Ô moço, me perdoe, mas cês confundiram. Eu sou só uma mulher que cria galinha e faz doce de leite! Não vale nem uma troca por uma bicicleta usada!”

— “Cale a boca.”

Gela até o sovaco. E olha que nem desodorante aguenta o medo nessa hora.

— “Seu marido, Geraldo, devia dinheiro à nossa organização. Muita grana. E pra não morrer, ele nos ofereceu… você.”

— “COMO É QUE É?”

Se tivesse uma plateia, dava pra ouvir o "oooooooh" da reação. Eu pisco três vezes pra ver se entendi certo. Eu? Pagamento de dívida?

— “O Geraldo me vendeu que nem galinha de leilão?”

— “Ele fugiu. Mas você ficou. Agora, é nossa. E vai fazer o que mandarmos. Se não obedecer... sua filha morre.”

Nesse momento, minha perna amolece. O coração quer pular da boca. Eu penso na Júlia com a franja torta, no dente mole, no desenho do boi que ela rabiscou na parede da cozinha.

— “O que vocês querem de mim?”

O chefe tira uma foto de dentro da mochila. Um homem elegante, bonito, cara de quem passa perfume francês até pra ir ao banheiro.

— “Pierre Scott Moreau. Juiz federal. Renomado. Frio. Inteligente. E precisa morrer.”

— “Morrer? Moço... eu nem mato barata com veneno! Só jogo o chinelo e rezo pra ela se assustar e fugir!”

— “Você vai matá-lo. Está decidida a missão. Se não cumprir… Júlia morre. E depois você.” — Ele ameaça.

Respiro fundo. Tento pensar. Tento gritar. Mas tudo que sai da minha boca é:

— “Posso, pelo menos, tomar um café antes de virar assassina?”

Silêncio.

Até o encapuzado do canto dá uma risadinha abafada. Mas ninguém responde. Eu fico ali, sentada no chão frio, tremendo, com o coração disparado e a cabeça girando igual carro de pamonha.

Geraldo me meteu nessa. Fugiu. Me largou.

E agora eu, Valentina Fonseca, doceira, caipira, mãe solo e piadista oficial da roça… tenho que matar um juiz. Um tal de Pierre Scott, que, se o nome não for de perfume, é de problema.

— “Ô vida… me bota pra vender empada no semáforo, mas não me dá uma arma na mão…”

Mas agora não tem volta. Se quero salvar minha filha, vou ter que entrar nesse jogo sujo.

E descobrir… quem é esse tal juiz Pierre. Porque se for pra matar, eu preciso conhecê-lo. Ou talvez... talvez eu arrume outro jeito de sair dessa.

Comédia, tragédia ou novela das seis, tô dentro. E dessa vez… é matar ou morrer. Literalmente.

Continua...

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Comments

Margarida Viturino

Margarida Viturino

ESTA AMA CAFÉ ☕️ DE VERDADE KKKKK MINHA IRMA GÊMEA KKKK

2025-05-21

1

Maria Isabel

Maria Isabel

Fiz xixi na calcinha kkkkkkkk

2025-05-20

2

marlene morais

marlene morais

É muito bom ler comédia. Obrigada autora.

2025-05-20

1

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – Ovos, Poeira e Promessas Furadas
2 Capítulo 2 – Viagem Sem Volta
3 Capítulo 3 – E lá vou eu, na carroça do capeta
4 Capítulo 4 – Fuga, susto e promessa com gosto de lágrima
5 Capítulo 5 – Um atropelo, um alvo e uma língua solta
6 Capítulo 6 – A maluca volta, e dessa vez é na minha porta
7 Capítulo 7 – A Caipira Doméstica e o Juiz em Surto
8 Capítulo 8 – A Esquiva Caipira e o Juiz Paranoico
9 Capítulo 9 – Faxineira por acidente e beijo quase por sorte
10 Capítulo 10 – A noiva improvisada e a confusão no hospital
11 Capítulo 11 – Noivado de mentira, e um quase enforcamento romântico
12 Capítulo 12 – Confissões, chantagens e um plano que provavelmente vai dar ruim
13 Capítulo 13 – Operação Caos Calculado (ou quase)
14 Capítulo 14 – A Invasão da Pequena General
15 Capítulo 15 – A Perua Ataca Novamente
16 Capítulo 16 – Faxina, Confusão e Sequestro (de novo!)
17 Capítulo 17 – O Segredo de Pierre
18 Capítulo 18 – Eu, o Pierre e o Mistério da Mãe Maluca
19 Capítulo 19 – Criminosos, Cuscuz e Confissões
20 Capítulo 20 – Família, Fuzuê e um Quase Beijo
21 Capítulo 21 – Dívidas e Decisões
22 Capítulo 22 – Ramon, o Sentinela e a Fugitiva de Tranças
23 Capítulo 23 – A Fugitiva das Tranças e o Reino dos Baixinhos
24 Capítulo 24 – Justiça, Barraco e Uma Dama Nada Gentil
25 Capítulo 25 – Barraco, Carona e Bombas Judiciais
26 Capítulo 26 – Justiça, Escândalo e Gargalhadas no Tribunal
27 Capítulo 27 – Jantar de Luxo e Conversa de Coração
28 Capítulo 28 – Pedido, Beijo e Bolo de Três Andares
29 Capítulo 29 – O Casamento e o o Tio Caipira
30 Capítulo 30 – Lua de Mel, Jegue no Paraíso e Coração na UTI
31 Capítulo 31 – A Nora, o Nariz e o Almoço de Família
32 Capítulo Final – Do Rodinho à Fazenda
Capítulos

Atualizado até capítulo 32

1
Capítulo 1 – Ovos, Poeira e Promessas Furadas
2
Capítulo 2 – Viagem Sem Volta
3
Capítulo 3 – E lá vou eu, na carroça do capeta
4
Capítulo 4 – Fuga, susto e promessa com gosto de lágrima
5
Capítulo 5 – Um atropelo, um alvo e uma língua solta
6
Capítulo 6 – A maluca volta, e dessa vez é na minha porta
7
Capítulo 7 – A Caipira Doméstica e o Juiz em Surto
8
Capítulo 8 – A Esquiva Caipira e o Juiz Paranoico
9
Capítulo 9 – Faxineira por acidente e beijo quase por sorte
10
Capítulo 10 – A noiva improvisada e a confusão no hospital
11
Capítulo 11 – Noivado de mentira, e um quase enforcamento romântico
12
Capítulo 12 – Confissões, chantagens e um plano que provavelmente vai dar ruim
13
Capítulo 13 – Operação Caos Calculado (ou quase)
14
Capítulo 14 – A Invasão da Pequena General
15
Capítulo 15 – A Perua Ataca Novamente
16
Capítulo 16 – Faxina, Confusão e Sequestro (de novo!)
17
Capítulo 17 – O Segredo de Pierre
18
Capítulo 18 – Eu, o Pierre e o Mistério da Mãe Maluca
19
Capítulo 19 – Criminosos, Cuscuz e Confissões
20
Capítulo 20 – Família, Fuzuê e um Quase Beijo
21
Capítulo 21 – Dívidas e Decisões
22
Capítulo 22 – Ramon, o Sentinela e a Fugitiva de Tranças
23
Capítulo 23 – A Fugitiva das Tranças e o Reino dos Baixinhos
24
Capítulo 24 – Justiça, Barraco e Uma Dama Nada Gentil
25
Capítulo 25 – Barraco, Carona e Bombas Judiciais
26
Capítulo 26 – Justiça, Escândalo e Gargalhadas no Tribunal
27
Capítulo 27 – Jantar de Luxo e Conversa de Coração
28
Capítulo 28 – Pedido, Beijo e Bolo de Três Andares
29
Capítulo 29 – O Casamento e o o Tio Caipira
30
Capítulo 30 – Lua de Mel, Jegue no Paraíso e Coração na UTI
31
Capítulo 31 – A Nora, o Nariz e o Almoço de Família
32
Capítulo Final – Do Rodinho à Fazenda

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