cap 5

Capítulo 5: Visitas do Passado

Local: Chalé da Toscana — Final da Tarde

A chuva havia cessado, deixando o ar com aquele cheiro fresco de terra molhada. Enzo lia um livro encostado à grande janela da sala, enquanto Viktor finalizava uma receita de massa caseira na cozinha. Tudo parecia em harmonia, até que o som de um carro interrompeu a quietude.

Viktor ergueu o olhar, a testa franzida. Ninguém os visitava sem avisar. Caminhou até a porta com passos cautelosos, e ao abrir, congelou por um segundo. Diante dele estava Helena.

Ela usava um sobretudo escuro, os cabelos presos com elegância e o olhar cheio de uma mistura estranha entre saudade e algo inconfessável.

— Viktor...

Ele não respondeu de imediato.

— Helena. O que você está fazendo aqui?

— Precisava te ver. Depois de tudo, eu... soube que você saiu. Que está diferente. Eu precisava entender.

Enzo se levantou, sentindo o peso do silêncio na entrada. Quando apareceu na sala, seus olhos encontraram os de Helena. A tensão era quase palpável.

— Quem é? — perguntou Enzo, direto.

— Helena, uma antiga... amiga. — Viktor respondeu, a voz tensa.

Helena deu um passo à frente.

— Fui mais que isso. Fui parte da vida dele, quando o mundo ainda era feito de sangue e promessas quebradas.

Enzo se calou, o maxilar travado. Viktor deu um passo entre eles, como se pudesse impedir que memórias antigas contaminassem o presente.

— Helena, não é um bom momento.

Ela suspirou, mas manteve o olhar firme.

— Só quero entender. O homem que conheci mataria por poder. Agora vive entre videiras e cozinhas. O que mudou?

Viktor fitou Enzo por um longo momento antes de responder:

— Eu mudei. Porque encontrei alguém que me ensinou a viver sem me esconder da minha dor.

Helena observou Enzo como se finalmente entendesse tudo. Seu semblante suavizou.

— Então era verdade. Você encontrou paz... em alguém.

Enzo não disse nada, apenas cruzou os braços, ainda desconfiado.

— Eu não vim para estragar nada — ela continuou. — Só queria ver com os meus próprios olhos que Viktor, o mais temido da máfia russa, era capaz de amar assim.

Ela tirou do bolso um pequeno envelope.

— Aqui está o que restou da nossa antiga vida. Dossiês, contatos, segredos que talvez te assombrem um dia. Eu estou fora disso agora. Mas achei que devia saber.

Viktor pegou o envelope com relutância. Helena sorriu de leve.

— Cuide dele, Enzo. Ele merece ser feliz. — E então, partiu.

O silêncio retornou à sala. Viktor se aproximou de Enzo, mas antes que dissesse qualquer coisa, Enzo foi direto:

— Você ainda sente algo por ela?

— Não. Mas ela é parte da minha história. E você é meu presente... e meu futuro.

Enzo respirou fundo, e após um longo momento, assentiu.

— Então vamos deixar esse passado onde ele pertence. Com as lembranças. E seguir em frente.

Viktor o puxou para um abraço apertado, e ali, no calor do momento, souberam que por mais que o passado batesse à porta, o que construíam juntos era mais forte. E valia cada passo rumo ao desconhecido.

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