Capítulo 4: Marcas Que Ficam
Local: Chalé da Toscana — Dois Dias Depois
O céu amanhecia nublado, e uma leve garoa caía sobre as telhas do chalé, trazendo um som hipnótico de pingos constantes. Dentro do quarto, Viktor e Enzo ainda estavam na cama, envolvidos no calor dos cobertores e da presença um do outro.
Viktor acordou primeiro, mas não se mexeu. Apenas observou Enzo dormindo, seu rosto parcialmente coberto pelos lençóis. Tocou suavemente o ombro do amante, percorrendo com a ponta dos dedos as cicatrizes antigas. Cada uma contava uma história — de lutas, perdas, resistências. Mas agora, ali, pareciam apenas testemunhas do quanto haviam sobrevivido.
— Está me olhando como se fosse um mistério — murmurou Enzo, ainda de olhos fechados.
— Você é. Mas um que eu quero decifrar todos os dias.
Enzo abriu os olhos lentamente, encarando Viktor com aquele olhar escuro e intenso que sempre lhe tirava o fôlego. Eles se beijaram em silêncio, um toque que falava mais do que qualquer palavra dita em tempos de guerra.
A manhã foi lenta. Tomaram banho juntos, como faziam sempre — um hábito que se tornara íntimo, cheio de gestos suaves e toques silenciosos. Viktor lavou os cabelos de Enzo com cuidado, como se acariciasse porcelana. Enzo, em contrapartida, deslizou os dedos pelas costas de Viktor, mapeando os músculos, como quem reafirma que aquele corpo é agora um lugar seguro.
No café da manhã, Enzo trouxe à mesa uma antiga caixa de madeira que mantinha guardada desde os tempos da máfia. Viktor arregalou os olhos.
— Pensei que tivesse se livrado disso.
— Pensei em me livrar de tudo. Mas guardei isso porque... tem algo que você precisa ver.
Dentro da caixa, entre papéis queimados e fotos antigas, havia um anel. Um anel de prata fosca, simples, mas carregado de história.
— Esse era do meu irmão. Ele morreu por minha culpa. Durante anos, odiei o mundo. E me odiei também. Mas agora…
Enzo estendeu o anel para Viktor.
— Quero que fique com ele. Não como lembrança de dor. Mas como símbolo do que superamos. Você me salvou, Viktor.
Viktor pegou o anel com mãos trêmulas, emocionado. Beijou os dedos de Enzo antes de guardar o anel no bolso.
— Eu não salvei ninguém, Enzo. Você escolheu viver. E eu apenas te acompanhei.
Naquela tarde, saíram para caminhar sob a garoa leve, compartilhando lembranças que antes preferiam esconder. Viktor contou sobre a primeira vez que matou. Enzo sobre o dia em que pensou em tirar a própria vida. Não havia julgamento. Apenas escuta. Um espaço seguro onde a dor podia existir sem roubar a beleza do presente.
Ao voltarem, sentaram-se diante da lareira acesa. Viktor colocou um disco antigo para tocar, e Enzo se aninhou no colo dele. Ficaram ali, em silêncio, ouvindo as notas suaves preencherem o espaço entre as batidas de seus corações.
— Você acha que merecemos isso? — perguntou Enzo, olhando para o fogo.
— Eu acho que lutamos o suficiente para ter o direito de tentar. E se o mundo quiser nos tirar isso de novo, vai ter que nos arrancar um do outro.
Enzo fechou os olhos. Pela primeira vez, em muito tempo, não tinha medo do futuro. Porque o presente era mais do que suficiente. E estava cheio de amor.
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Atualizado até capítulo 26
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