5

O ar entre eles parecia ter cristalizado. Lucas conseguia sentir o calor do corpo de Adrian, o cheio discreto de seu perfume — algo amadeirado, caro — e, acima de tudo, o peso daquela frase que ainda ecoava na sala:

"Você é muito lindo, sabia?"

Ele engoliu seco, forçando-se a recuar alguns centímetros no sofá. O movimento quebrou o feitiço por um instante.

— Você… você tá zoando, né?

Adrian não pareceu ofendido. Pelo contrário, seus olhos azuis brilharam com diversão.

— Eu nunca zoou quando o assunto é beleza, Oliveira. Ele esticou as pernas, encostando-se no sofá com uma naturalidade que Lucas invejava. Mas falando sério agora… me conta mais sobre você.

Lucas franziu a testa.

— O quê? Por quê?

— Porque eu quero saber. Adrian encolheu os ombros, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Você é tipo um quebra-cabeça quietinho. E eu adoro desafios.

Lucas olhou para as próprias mãos. Não era como se ele tivesse muitos segredos. Sua vida era… vazia.

— Não tem muito o que contar. Eu estudo. Eu leio. Eu—

— Você fica sozinho. Adrian completou, a voz mais suave agora. Seus pais não ficam muito tempo com você.

Não era uma pergunta. Lucas sentiu um nó na garganta.

— É. Eles trabalham muito.

Adrian observou-o por um momento, e então, surpreendentemente, soltou um riso baixo.

— Parece que a gente tem mais em comum do que eu pensava.

Lucas olhou para ele, confuso.

— Seus pais também…?

— Ah, sim. Adrian fez um gesto vago em direção à casa luxuosa ao redor deles. Toda essa beleza arquitetônica, e eu janto sozinho 90% das noites. Ironia, né?

Havia algo na voz dele — uma ponta de amargura que Lucas nunca tinha ouvido antes. Era estranho pensar que Adrian Hart, o garoto que tinha tudo, também se sentia… sozinho.

— Eu não sabia.

Adrian sorriu, mas desta vez não alcançou os olhos.

— Ninguém sabe. Ou melhor, ninguém percebe. Ele inclinou a cabeça. Mas você… você percebe as coisas. É um dos seus superpoderes, eu acho.

Lucas não soube o que dizer. Ele nunca tinha pensado em si mesmo como alguém especial. Na verdade, ele sempre se sentira invisível.

Foi então que Adrian se mexeu novamente, aproximando-se mais uma vez. Desta vez, porém, seu toque foi diferente — não um flerte, mas algo mais suave. Ele colocou a mão no ombro de Lucas, dando um aperto rápido.

— Mas olha só, agora você tem amigos.

Lucas sentiu um calor estranho no peito.

— Eu tenho?

Adrian riu.

— Pô, depois de hoje você acha que eu vou te deixar escapar? Ele brincou, mas então sua expressão mudou, ficando mais séria. Falando nisso… como alguém tão lindo não tem amigos?

Lucas sentiu o rosto esquentar novamente.

— Para com isso…

— Não tô brincando. Adrian inclinou-se para frente. Se dependesse de mim, você virava até meu irmão.

A palavra pairou no ar. Irmão. Lucas olhou para Adrian, tentando decifrar o que havia por trás daquela declaração. Era só uma forma de falar? Ou…

— Irmão? Ele repetiu, cauteloso.

Adrian estudou seu rosto por um segundo, e então, num movimento fluido, passou a mão pelos cabelos de Lucas novamente — mas desta vez de forma despretensiosa, quase carinhosa.

— É. Irmão. Amigo. O que você quiser. Seus dedos pararam na nuca de Lucas, um toque quente e firme. Só não quero que você desapareça de novo naquela bolha de solidão, okay?

Lucas ficou paralisado. Ninguém nunca tinha dito algo assim para ele. Ninguém nunca tinha se importado assim.

— Okay. Ele murmurou, e pela primeira vez, sorriu de verdade.

Adrian pareceu satisfeito com a resposta. Ele recuou, pegando o controle do Playstation novamente.

— Bom, agora que a sessão de terapia acabou… mais uma partida?

Lucas olhou para ele, para a casa vazia, para o controle na mão de Adrian. E, de repente, tudo parecia um pouco menos assustador.

— Só se você me prometer que vai perder de propósito.

Adrian colocou a mão no peito, fingindo indignação.

— Trair meu próprio sangue? Nunca.

E quando ele riu, Lucas percebeu que, talvez pela primeira vez, ele não estava só fingindo rir junto.

O som dos botões do controle sendo apertados rapidamente ecoava na sala de estar ampla, iluminada apenas pela luz azulada da TV. Lucas estava concentrado na tela, sua língua pressionando levemente o canto da boca — um hábito nervoso que surgia quando ele estava realmente imerso em algo.

— Tá vendo? Eu posso ganhar quando quero, disse Lucas, sorrindo pela primeira vez ao ver seu personagem cruzar a linha de chegada em primeiro lugar.

Adrian jogou o controle no sofá, fingindo indignação.

— Isso foi pura sorte. E trapaça. Muita trapaça.

— Trapaça? Lucas riu, um som estranho até para seus próprios ouvidos — quanto tempo havia passado desde que ele rira assim? Você só tá com vergonha de perder pro "nerd".

Adrian olhou para ele, e algo na expressão do loiro mudou. Seus olhos azuis escureceram, percorrendo o rosto de Lucas como se estivesse vendo algo novo.

— Você devia rir mais.

A declaração simples fez Lucas engolir seco. A atenção de Adrian era como um farol — intensa, inescapável. E o pior? Lucas estava começando a gostar disso.

— Eu… Ele começou, mas não soube como continuar.

Felizmente (ou não), Adrian mudou de assunto abruptamente. Ele esticou os braços para cima, revelando uma faixa de pele clara onde sua camiseta subiu.

— Tá com fome?

Lucas desviou os olhos daquela faixa de pele.

— Hm?

— Fome, Lucas. Aquele negócio que a gente sente quando não come há horas? Adrian sorriu, levantando-se do sofá. Vou fazer um sanduíche. Quer?

Lucas deveria dizer não. Já era tarde, ele já tinha abusado da hospitalidade de Adrian. Mas a verdade era que ele não queria ir embora. Não ainda.

— Tá bom.

Adrian pareceu satisfeito com a resposta.

— Bom garoto.

Na Cozinha

A cozinha era enorme, toda em aço inoxidável e mármore branco — parecia mais uma foto de revista do que um lugar onde alguém realmente cozinhava. Adrian, no entanto, movia-se com familiaridade, pegando pão, queijo e presunto da geladeira gigantesca.

Lucas ficou parado na entrada, observando.

— Você… sabe cozinhar?

Adrian olhou para ele por cima do ombro.

— Surpreso?

— Um pouco. Lucas admitiu. Parece que você tem empregados pra tudo.

— Tenho. Adrian pegou uma faca e começou a cortar o pão com habilidade surpreendente. Mas quando você passa tanto tempo sozinho, ou você aprende a se virar, ou morre de fome.

Havia uma história ali, Lucas podia sentir. Mas antes que pudesse perguntar, Adrian continuou:

— Meus pais viajam muito. No começo, a Maria — a governanta — deixava tudo pronto. Mas um dia eu percebi que, se eu não aprendesse pelo menos o básico, eu ia ficar totalmente dependente. Ele deu de ombros. Então eu aprendi.

Lucas observou as mãos de Adrian trabalhando — firmes, precisas. Havia algo íntimo em vê-lo assim, longe da persona de garoto popular, fazendo algo tão comum.

— Eu só sei fazer ovo. Lucas admitiu, encostando-se na ilha da cozinha.

Adrian riu.

— Ovo é um começo. Te ensino o resto depois.

Depois. A palavra ficou pairando no ar. Adrian estava assumindo que haveria um depois. Lucas sentiu um calor estranho no peito.

Em silêncio, eles montaram os sanduíches juntos — Adrian cortando os tomates, Lucas espalhando a maionese. Foi… bom. Fácil. Como se já tivessem feito aquilo mil vezes.

A Confissão

Sentados novamente no sofá, com os pratos no colo, Adrian olhou para Lucas de repente.

— Você gosta da atenção, não é?

Lucas quase engasgou com o sanduíche.

— O quê?

— Minha atenção. Adrian inclinou-se para frente, os cotovelos nos joelhos. Você fica todo nervosinho, mas eu vejo como você reage quando eu te elogio.

Lucas sentiu o rosto pegar fogo. Era verdade? Ele gostava?

— Eu não…

— Tá tudo bem, sabia? Adrian sorriu, mas desta vez era um sorriso diferente — mais suave, quase terno. Eu gosto de te dar atenção.

Lucas não soube o que dizer. A honestidade de Adrian era assustadora.

— Por quê? A pergunta escapou antes que ele pudesse pará-la.

Adrian pensou por um momento, girando o anel que usava no polegar.

— Porque quando eu te elogio, você olha pra mim como se ninguém mais tivesse te visto antes. Ele encarou Lucas. E isso… isso é meio viciante.

O ar entre eles mudou. Lucas conseguia ouvir seu próprio coração batendo. O que Adrian estava dizendo? O que ele estava sentindo?

Antes que pudesse responder, Adrian recuou, pegando o prato vazio.

— Bom, já que você tá cheio agora… que tal mais um jogo?

E assim, o momento passou. Mas Lucas sabia que algo havia mudado — em si mesmo, em Adrian, entre eles.

E, pela primeira vez, ele não tinha medo do que isso significava.

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