Acordei com o despertador berrando no meu ouvido, e por um segundo, esqueci onde estava. O teto desconhecido, a nova cama, o cheiro diferente do apartamento… tudo isso ainda me dava uma sensação estranha de deslocamento. Mas logo a memória voltou: Chicago, nova identidade, nova vida.
Levantei, espreguicei e fui direto para o banheiro. Depois de um banho rápido e um café improvisado com o que eu tinha em casa (basicamente pão de ontem e um café instantâneo duvidoso), vesti um traje mais formal, como exigido para o primeiro dia de aula. Uma saia e uma blusa branca. Nada muito chamativo, mas o suficiente para parecer profissional.
Antes de ir para a faculdade, eu precisava comprar alguns materiais.
A loja de materiais ficava a algumas quadras do campus, então caminhei rápido para não perder tempo. Assim que entrei, fui recebida pelo cheiro familiar de papel novo e plástico.
Uma vendedora, uma mulher de meia-idade com óculos na ponta do nariz, sorriu ao me ver.
— Bom dia! Posso te ajudar?
— Ah, sim! Preciso de uma mochila, um caderno e algumas canetas.
Ela acenou com a cabeça e me guiou pelos corredores.
— Primeiro dia na faculdade?
— Sim.
— Bom, nesse caso, recomendo essas mochilas aqui. São resistentes e têm bastante espaço. — Ela apontou para uma prateleira repleta de mochilas de todas as cores e estilos.
Passei a mão pelos tecidos, avaliando. Não queria nada muito chamativo, então escolhi uma preta básica, mas com um design bonito.
— Ótima escolha. Agora os cadernos...
Fui até a seção de papelaria e peguei um caderno de capa dura, de cor azul escura. Algo discreto, mas elegante. Também peguei um estojo pequeno e algumas canetas pretas.
— Acho que é só isso.
— Perfeito. Vou passar no caixa para você.
Após pagar, saí da loja e conferi o relógio. Droga. Já estava ficando tarde.
Caminhei o mais rápido que pude até a faculdade. O vento frio de Chicago chicoteava meu rosto, mas eu não podia me dar ao luxo de diminuir o ritmo.
Assim que passei pelos portões, me direcionei diretamente à portaria, onde os alunos pegavam seus broches de identificação. O segurança me entregou o meu e eu o prendi na blusa sem nem parar para olhar direito. Estava focada em uma única missão: achar minha sala antes que a aula começasse.
Mas é claro que minha pressa acabou me traindo.
No meio do caminho, esbarrei com tudo em alguém. O impacto foi forte o suficiente para nos derrubar no chão.
— Oh, boceta! — exclamou uma voz feminina e irritada.
Levei um segundo para processar o que aconteceu antes de me levantar de imediato.
— Perdão! Me perdoe, eu não te vi. — falei rápido, estendendo a mão para ajudar a garota a se levantar.
Ela aceitou minha ajuda, mas me olhou com um misto de incredulidade e humor. Tinha longos cabelos vermelhos e olhos castanhos intensos. Seu uniforme estava impecável, exceto pelo pequeno desastre a seus pés.
— Tudo bem, gatona, só que agora você me deve um saco de rosquinhas fritas.
Foi então que percebi. Havia rosquinhas espalhadas por todo o chão. Um pacotinho de papel amassado indicava que eu tinha acabado de arruinar o café da manhã dela.
— Ah, merda... Me desculpe por isso. — fiz uma careta.
— Tudo bem. Mas me diz aí, por que tanta pressa?
— Quero encontrar minha sala o mais rápido possível. Não posso perder a primeira aula.
Ela arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços.
— Qual o seu nome?
— Odessa Gray.
Os olhos dela brilharam de reconhecimento.
— Ah, então é você!
— Eu?
— Sim! Você tá na mesma sala que eu e a Sophi, nega. Todo mundo já se conhece por lá, mas hoje de manhã atualizaram a lista na porta, e seu nome estava lá. A única desconhecida até então.
Soltei um suspiro aliviado. Pelo menos agora eu sabia que não entraria na sala completamente sozinha.
— Que bom! Assim não corro mais o risco de esbarrar em ninguém.
A garota riu, ajeitando os cabelos.
— Eu sou Miranda. Miranda Martins.
Ela estendeu a mão para um cumprimento, e eu apertei, sorrindo.
— Prazer, Miranda.
— Vem, vou te levar até a sala antes que você atropele mais alguém no caminho.
Eu ri e a segui pelos corredores, já sentindo que esse primeiro dia talvez não fosse tão ruim assim.
Miranda me levou até a sala, e, para minha sorte, assim que entrei, anunciaram que o professor do primeiro horário estava atrasado.
— Ótimo! Primeira aula e já temos tempo livre. Eu sabia que esse curso era uma boa escolha. — Miranda comemorou, batendo palmas.
Antes que eu pudesse decidir o que fazer, ela já estava puxando meu braço.
— Vem com a gente. A Sophi quer babar nos jogadores de hóquei.
— Ei! Não diga isso! Eu só gosto de ver eles jogarem. — defendeu-se uma garota de cabelos curtos, bufando.
Ela me olhou com um sorriso simpático.
— Oi, eu sou a Sophi.
— Odessa Gray.
— Ótimo, Odessa, vem com a gente. Eu preciso ver aqueles gostosos jogando. — disse Miranda, entrelaçando o braço no meu. — E aposto cinco dólares dessa vez, Sophi.
Levantei uma sobrancelha, curiosa.
— O que exatamente vocês estão apostando?
Sophi revirou os olhos, claramente envergonhada.
— Nada importante.
Miranda, por outro lado, estava radiante para compartilhar.
— Então, a Sophi tá afim de um dos jogadores de hóquei, mas é uma franga e morre de medo de contar pra gente quem é.
— Eu não sou franga!
— É sim. Então, pra aliviar o clima, a gente faz apostas sobre o time. Tipo, quem vai ser o primeiro a tirar a camisa depois do treino. Ou até mesmo... — ela se inclinou um pouco mais perto e sussurrou com um sorriso travesso: “Qual dos caras tem o pau maior.”
Paralisei por um momento.
— Vocês… ficam observando o tamanho do pau dos jogadores?
Miranda deu de ombros, como se estivesse discutindo o clima.
— Observar é um termo muito forte. A gente apenas faz estimativas baseadas na análise do porte físico, confiança e volume da sunga.
— Ciência pura. — completou Sophi, tentando parecer séria.
Eu segurei o riso, mas falhei miseravelmente.
— Isso é um nível de dedicação ao esporte que eu nunca vi antes.
— Obrigada, obrigada. Agora vem, porque o treino já começou e eu preciso ganhar esses cinco dólares.
E assim, sem nem perceber como, fui arrastada para um passatempo que definitivamente não estava no guia do aluno.
Fui arrastada pelos corredores movimentados da faculdade até um enorme ginásio coberto, que cheirava a uma mistura intrigante de suor, desodorante masculino e gelo derretido. O eco das lâminas dos patins raspando contra o gelo soava pelo espaço, misturando-se aos gritos de incentivo de outros estudantes que haviam se reunido para assistir ao treino.
Havia arquibancadas laterais, mas Miranda e Sophi me puxaram direto para uma área mais próxima ao vidro que separava o público do rinque.
— Aqui é o nosso camarote VIP. Melhor vista do espetáculo. — anunciou Miranda, encostando-se na grade como se estivesse prestes a narrar um jogo.
No meio do rinque, os jogadores de hóquei deslizavam com habilidade, desviando dos adversários com rapidez e, de vez em quando, derrubando uns aos outros sem a menor piedade. O treinador gritava ordens do outro lado, mas a maioria dos jogadores parecia mais preocupada em impressionar as poucas pessoas assistindo do que realmente seguir as táticas do técnico.
Sophi apoiou o queixo nas mãos e suspirou dramaticamente.
— Ai, amo homens que podem me carregar no colo e me arremessar pra longe se necessário.
— Isso não deveria ser um critério saudável de atração. — comentei, rindo.
— Shhh! Estamos em solo sagrado.
Eu ainda estava processando a seriedade do que estava acontecendo quando Miranda cutucou minha costela.
— Ali, ali! Se liga no número 8. Olha aquele porte físico. Aposto que ele vai ser o primeiro a tirar a camisa.
Sophi revirou os olhos.
— Você sempre aposta no número 8, porque ele tem cara de exibido.
— E até agora nunca errei. Ele é previsível.
Observei o tal número 8,um cara alto, forte, que claramente sabia que era bonito. Ele deslizou pelo gelo com facilidade, sorrindo de lado como se tivesse certeza de que alguém estava o admirando.
— E então, Odessa? Quer entrar na aposta? — perguntou Miranda, sorrindo com malícia.
— O que eu ganho se acertar?
— Cinco dólares e o respeito eterno.
— E se eu errar?
— Nada, porque somos legais e não vamos fazer a caloura pagar na primeira rodada.
Cruzei os braços e observei os jogadores por um instante, sentindo-me ridícula por levar aquilo a sério.
Foi quando meus olhos pararam no jogador de número 10. Diferente dos outros, ele parecia concentrado no treino de verdade. Não sorria, não tentava chamar atenção, e parecia meio irritado toda vez que o treinador dava alguma instrução. Seu porte físico também era impressionante, mas sem a atitude convencida dos outros.
— Ok. Eu aposto no número 10. Ele tem cara de quem vai se irritar com o calor e tirar a camisa por puro estresse.
Miranda e Sophi pararam o que estavam fazendo para me encarar.
— Número 10? — Miranda franziu a testa.
— Sério? — Sophi arqueou uma sobrancelha.
— O que foi? Escolhi mal?
— Não, não... só foi... inesperado. — Miranda deu de ombros. — Bom, veremos quem vence.
A tensão no rinque estava aumentando, e não era por causa do jogo. O treinador parecia ter escolhido o número 10 como seu saco de pancadas pessoal, porque cada ordem, cada bronca, cada grito era direcionado para ele.
— LANCASTER, VOCÊ TÁ ME OUVINDO OU QUER QUE EU DESENHE?!
O tal número 10—meu palpite na aposta—soltou um suspiro audível, parando no gelo por um momento antes de esfregar o rosto com as mãos.
— AH, VAI TOMAR NO MEIO DO SEU CU, CARA!
Meu queixo caiu.
Miranda deu um assobio impressionado.
— Nossa. Poético.
— Meu Deus, ele sempre xinga assim? — perguntei, chocada.
— Sempre. O Lancaster tem o temperamento de um porteiro de balada às três da manhã. — respondeu Sophi, mordendo o lábio com uma mistura de preocupação e fascínio.
O treinador, que claramente não estava nem um pouco abalado pelos xingamentos, cruzou os braços e continuou berrando.
— SE VOCÊ GASTASSE ESSA ENERGIA NO TREINO EM VEZ DE XINGAR, TALVEZ A GENTE GANHASSE ALGUMA COISA NESSE ANO!
— OU TALVEZ VOCÊ PODIA PARAR DE ENCHER O MEU SACO!
As meninas e eu trocamos olhares tensos, acompanhando a cena como se fosse um reality show.
Miranda, porém, parecia prestes a entrar no rinque e quebrar o treinador no meio.
— Olha pra essa cara de boceta! — exclamou, apontando para o treinador com indignação.
Minha expressão ficou completamente confusa.
— Perdão?
— Não liga não, ela é brasileira. — explicou Sophi, como se isso justificasse absolutamente tudo.
— Ah... sim.
No rinque, o número 10 já estava prestes a jogar o próprio taco de hóquei no chão de tanta raiva. Miranda cruzou os braços.
— Quer saber? Tô começando a torcer pra ele ganhar só de ódio.
E, pelo jeito que o treino estava indo, talvez ela tivesse razão.
O clima no rinque ficou pesado num instante. O treinador continuava gritando, mas o número 10 já estava no limite. Ele parou no meio do gelo, os ombros subindo e descendo com a respiração acelerada, as luvas apertadas em punhos cerrados.
Então, sem aviso, ele arrancou o capacete com força e o jogou contra o gelo, onde deslizou até bater contra a lateral do rinque com um baque seco.
— FODA-SE ESSA MERDA! — ele explodiu, sua voz ecoando pelo ginásio.
Os outros jogadores congelaram no lugar. O treinador, que já estava vermelho de tanto berrar, arregalou os olhos.
Mas o camisa 10 não parou por aí. Ele virou na direção do técnico, caminhando para a borda do rinque com passos firmes e cheios de raiva. Assim que ficou frente a frente com ele, levantou a mão sem hesitar e exibiu o dedo do meio com um desprezo absoluto.
A arquibancada ficou em silêncio.
Meu coração deu um salto no peito.
Foi quando o reconheci.
Os cabelos escuros, as tatuagens visíveis no antebraço onde a manga do uniforme estava ligeiramente dobrada. O maxilar travado, a expressão de puro desdém.
— Oliver?! — sussurrei, o choque percorrendo meu corpo.
Meus olhos se arregalaram enquanto eu processava o que via. O homem quieto e reservado, que morava no apartamento ao lado, o mesmo que havia me ajudado a montar meu guarda-roupa ontem à noite... era o camisa 10.
E, pelo jeito, ele estava muito, muito puto.
Miranda deu um tapinha no meu ombro, os olhos brilhando de animação.
— Vamos ver se ele vai tirar a camisa! — disse ela, praticamente vibrando no assento.
Sophi cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha.
— Eu aposto que não. O Lancaster nunca tira a camisa.
— Eu já te disse que hoje é o dia, Sophi. Sinto isso no meu útero.
Eu arregalei os olhos.
— Meninas, podem ir sem mim — murmurei, tentando me encolher no assento.
As duas viraram a cabeça para mim ao mesmo tempo, como se eu tivesse falado algo completamente absurdo.
— O quê? — exclamou Miranda, piscando rápido, como se tentasse processar minha decisão.
— Eu... simplesmente não posso — tentei desconversar, mexendo na alça da minha bolsa como se minha vida dependesse disso.
Sophi me encarou com uma expressão desconfiada.
— Peraí. Como assim "não pode"? Odessa, ninguém nunca viu o Lancaster sem camisa! Isso é tipo... o Santo Graal dos times masculinos!
— Aposto que ele tem um abdômen esculpido pelos próprios deuses do esporte — disse Miranda, sonhadora. — Ou... talvez ele tenha um terceiro mamilo! Nunca se sabe!
— Não posso ver ele sem camisa. — insisti, mais firme.
As duas trocaram olhares e depois se voltaram para mim, claramente intrigadas.
— Por que não? — perguntou Sophi, estreitando os olhos.
Mordi o lábio e suspirei, sabendo que não ia escapar dessa.
— Porque... ele é o meu vizinho.
Por alguns segundos, o silêncio reinou.
Até que Miranda bateu uma mão no peito e a outra na testa, como se tivesse sido atingida por um raio.
— ME SEGURA, SOPHI, MINHA PRESSÃO FOI LÁ NO PÉ COM ESSA NOTÍCIA!
Sophi arregalou os olhos e segurou os ombros de Miranda, mas ainda sem acreditar no que eu tinha dito.
— Você tá me zoando, né?
— Eu juro — respondi meio sem jeito, me encolhendo enquanto as duas me olhavam como se eu fosse um unicórnio andando pelo campus.
— MENINA! VOCÊ É VIZINHA DO OLIVER?! DO OLIVER LANCASTER?! — Miranda quase gritou, balançando os braços no ar.
— Nem fodendo. — Sophi colocou uma mão na boca, chocada.
— Do Lancaster? Do nosso camisa 10 misterioso, explosivo e gostoso?! — Miranda continuava com a mão no peito, como se estivesse tendo um ataque.
Assenti devagar.
— MEU DEUS DO CÉU, NEGADA, OLHA ISSO! — Miranda virou para a arquibancada, como se quisesse anunciar a notícia para todo o ginásio.
— Fala baixo! — sibilei, puxando o braço dela.
Sophi cruzou os braços e me olhou de cima a baixo, analisando cada detalhe.
— E como raios você não mencionou isso logo?
— Eu não sabia que ele jogava hóquei até cinco minutos atrás!
— Você mora do lado do Oliver Lancaster, e não sabia que ele era um jogador do time da faculdade?! — Miranda parecia ofendida.
— Ele nunca mencionou nada! Só descobri agora porque ele surtou no meio do gelo!
Sophi balançou a cabeça, chocada.
— Meu Deus, então você já viu ele de perto... tipo, bem de perto.
— Vocês já conversaram? — Miranda se inclinou para mim como se estivesse esperando uma fofoca de milhões.
— Sim, ele me emprestou uma furadeira outro dia.
As duas arregalaram os olhos.
— ELE TE EMPRESTOU O QUÊ?! — exclamou Miranda, parecendo prestes a desmaiar.
— Uma furadeira. Eu precisava montar meu guarda-roupa.
Sophi me olhou com descrença.
— Meu Deus do céu, essa é a frase mais inesperada que eu poderia ouvir sobre o Oliver Lancaster.
— E vocês falaram sobre o quê? — Miranda se aproximou ainda mais, os olhos brilhando de curiosidade.
— Nada demais! Ele só... me ajudou a montar o guarda-roupa e foi embora.
Miranda e Sophi trocaram olhares suspeitos.
— Isso foi antes ou depois dele te olhar com aqueles olhos de "sou um bad boy misterioso e possivelmente problemático"? — perguntou Miranda, piscando rápido.
— Eu não sei! Ele só me ajudou e pronto!
— Mas você gostou dele? — Sophi estreitou os olhos, como uma investigadora interrogando uma testemunha.
— O QUÊ?! — quase engasguei. — Claro que não!
— Hmmmm — Miranda sorriu de canto. — Sei...
Sophi ainda me olhava desconfiada, mas deu de ombros.
— Bom, pelo menos agora sabemos que você tem um vizinho gostoso.
— E barraqueiro. — acrescentei, olhando para o gelo, onde Oliver ainda discutia com o treinador.
— E gostoso.
— E briguento.
— E gostoso.
Suspirei, levando a mão à testa.
— Meu Deus...
— E gostoso.
— CHEGA!
Miranda e Sophi riram, claramente se divertindo às minhas custas.
E eu, bem... eu só queria enfiar minha cabeça num buraco e desaparecer.
Oliver lançou um olhar rápido para nós antes de sair do rinque. Foi um instante. Um olhar breve, mas que fez Miranda congelar como se tivesse sido atingida por um raio divino. Ela colocou a mão no peito e, sem nenhum pudor, soltou:
— Eu tô no meu período fértil, eu preciso dar a minha boceta com urgência.
Eu engasguei com o próprio ar.
— MIRANDA!
Sophi, em vez de se chocar, simplesmente arqueou a sobrancelha.
— Ué, mas você não deu pro camisa 6?
Miranda deu de ombros, como se estivéssemos falando sobre um sanduíche que ela comeu no almoço.
— Sim, não foi nada sério, mas foi uma delícia.
Eu coloquei as mãos na cabeça, desesperada.
— Vocês não têm filtro?!
Sophi balançou a cabeça, tranquila.
— Não.
Miranda suspirou dramaticamente.
— Amiga, quando a gente vê um homem daquele nível, com aquela altura, aqueles braços tatuados e aquela voz grossa... o instinto de cadela ativada fala mais alto.
Sophi assentiu como se estivesse prestes a receber um diploma.
— É a seleção natural, Odessa. Ele tem os genes fortes.
— Vocês precisam de tratamento. — resmunguei, olhando ao redor, com medo de que alguém estivesse ouvindo essa conversa absurda.
— Não, querida. — Miranda rebateu. — O que eu preciso é de um homem forte, grande e musculoso me prensando contra uma parede e dizendo "fica quietinha, princesa"...
— Pelo amor de Deus! — tampei os ouvidos, sentindo meu rosto esquentar.
— E a gente só tá falando! Você ainda não nos viu em campo, querida. — Sophi piscou.
Eu segurei o braço das duas e comecei a puxá-las para longe do rinque.
— Tá bom, já chega! Vamos sair daqui antes que eu tenha que chamar um padre pra exorcizar vocês.
Miranda ainda tentou olhar para trás, suspirando profundamente.
— Adeus, Oliver gostoso Lancaster. Um dia, quem sabe, nossos caminhos se cruzam no motel mais barato dessa cidade...
Sophi riu, me deixando completamente sem paciência. Eu definitivamente estava andando com as pessoas erradas e loucas, mas é divertido.
Caminhávamos em direção à sala de aula quando, antes de chegarmos ao destino, avistei Oliver conversando com alguns amigos no corredor. O grupo parecia distraído, jogando conversa fora enquanto recobravam o fôlego depois do treino. Foi quando um dos garotos soltou, sem nenhuma cerimônia:
— Eu deveria comer a mulher dele.
Parei no meio do caminho, piscando algumas vezes. O quê?
Oliver apenas riu de canto, cruzando os braços.
— Não esquenta com isso. Ele sempre pegou no meu pé mesmo.
Miranda, que já estava há cinco segundos sem fazer um comentário absurdo, aproveitou o momento para suspirar dramaticamente enquanto passava pelo grupo.
— Se precisar de ajuda para essa missão, me chama. — murmurou, lançando um olhar intencionado para os jogadores, como se estivesse se oferecendo para qualquer atividade extracurricular que envolvesse cama e pouca roupa.
— Pelo amor de Deus, Miranda! — sibilei, puxando-a pelo braço para que não parasse no meio do corredor só para dar em cima dos caras.
Foi então que senti um arrepio subir pela minha nuca.
Oliver.
Ele estava me olhando.
Me virei para confirmar e, de fato, ele me encarava com aquele maldito sorriso travesso que parecia dizer algo como "Te peguei no flagra, vizinha".
Corei instantaneamente e virei o rosto, fingindo que não vi nada.
— Andem logo, antes que essa menina me mate de vergonha. — puxei Miranda e Sophi, apressada para entrar logo na sala.
Assim que entramos, suspirei de alívio.
— Finalmente. Agora é só focar na aula e—
Antes mesmo que eu terminasse a frase, Oliver entrou na sala logo atrás de nós e seguiu direto para um dos lugares no fundo da sala. Meus ombros tensionaram.
Sophi notou minha inquietação e sorriu de canto.
— O que foi? — perguntou baixinho.
— Por que ele está aqui? — sussurrei de volta.
— Porque ele estuda aqui, dã.
— Mas... na nossa sala?!
Sophi deu de ombros.
— Ele só vem na segunda aula. Ele e alguns outros jogadores têm permissão pra perder a primeira por causa do treino.
Eu fechei os olhos por um instante, tentando absorver essa informação.
— Ótimo... — murmurei, já sentindo que isso não ia acabar bem.
Me ajeitei na cadeira, tentando ignorar tudo e me concentrar no ambiente. Foi então que senti um olhar fixo nas minhas costas.
Oliver.
Ele estava sentado bem atrás de mim.
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Atualizado até capítulo 25
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