Entre Olhares e Silêncios

Capítulo 4 –

Sophie estava exausta. O dia foi longo e a noite prometia ser ainda mais. A faculdade não esperava. Subiu no ônibus lotado com sua mochila simples nos ombros e os pensamentos agitados. A lembrança do olhar de Dante ainda pairava em sua mente. A forma como ele a observava com aquele olhar intenso e frio, como se tentasse desvendar algo nela que ela mesma não sabia. Aquilo a incomodava, mas ao mesmo tempo, fazia seu coração bater mais rápido.

Ela se sentou no fundo, encostando a cabeça na janela. Tentou se concentrar na aula de Administração que teria logo à noite, mas a sensação de estar sendo observada não a deixava em paz. O que Dante queria dela? Por que ele parecia tão interessado?

— Você ainda tá pensando nele, né?

disse Isabela ao telefone, do outro lado da linha, trazendo Sophie de volta à realidade.

— Não. Tô pensando na minha prova de amanhã.

— Aham. Sei.

Sophie sorriu de canto. Isabela sempre conseguia arrancar uma reação dela, mesmo nos dias mais confusos. As duas eram mais do que amigas, eram irmãs, companheiras de todos os momentos. Elas moravam juntas, e era Isabela quem sempre fazia Sophie dar uma pausa no trabalho e na faculdade para lembrar que havia algo além das responsabilidades.

**

Na manhã seguinte, Sophie entrou cedo no prédio da Moretti Global. O grande edifício de vidro refletia o céu cinza da manhã. A empresa ainda estava silenciosa, como se o prédio também soubesse da pressão constante que se escondia em cada andar. Sophie sentiu um leve alívio ao caminhar pela recepção vazia. Não haveria olhares curiosos ou conversas desconfortáveis, pelo menos por enquanto.

Luca, o primo de Dante, apareceu de repente, um sorriso simpático nos lábios.

— Bom dia, Sophie.

Ela se virou, com um leve susto. Não esperava encontrá-lo tão cedo.

— Bom dia, senhor Luca.

— Pode me chamar só de Luca. Não sou tão formal quanto meu primo.

Ela piscou, surpresa. Ele não parecia nada como Dante. Luca exalava simpatia e um toque de leveza que fazia qualquer ambiente pesado parecer mais fácil de respirar.

— Você é primo do Dante?

Sophie perguntou, um pouco cautelosa. Ela não sabia o que esperar de um homem tão intimamente ligado ao seu chefe.

— Sim. Primo e sócio. Mas não se preocupe, não sou tão assustador quanto ele.

Sophie sorriu, sem querer. Havia algo muito mais acessível em Luca. Ele parecia genuíno, sem a frieza que definia Dante.

— Você sempre chega tão cedo?

Luca perguntou, tentando puxar uma conversa.

— Gosto de começar antes que o prédio encha. E tenho aulas à noite, então tento terminar meu turno antes das seis.

— Administração, certo?

ele perguntou com naturalidade.

Sophie ficou surpresa, mas não demonstrou. Como ele sabia disso?

— Sim... como você sabe?

— Isabela já falou muito bem de você.

Ela relaxou um pouco, sorrindo discretamente. Isabela sempre gostava de falar sobre ela, mas nem imaginava que falava tão bem.

— Ela fala demais.

— Talvez. Mas pelo que vejo, não está exagerando.

Antes que ela pudesse responder, Dante passou pelo saguão, lançando um olhar direto para os dois. Frio. Intenso. Quase cortante. A tensão entre eles foi palpável, e Sophie sentiu seu coração acelerar, mesmo sabendo que Dante provavelmente não sentia nada disso. Luca apenas o cumprimentou com um aceno e continuou a conversa como se nada tivesse acontecido, mas Sophie sabia que o clima entre os três mudara.

**

Horas depois, durante o almoço, Sophie comentou com Isabela:

— Seu amigo é gentil demais. Isso sempre me deixa desconfiada.

— Luca? Ele é um dos poucos que não age como um deus nesse prédio. Mas cuidado, hein... ele é o tipo que se interessa rápido.

Sophie revirou os olhos, mordendo um pedaço de sua maçã.

— Não tenho tempo pra romance, Isabela.

— E o Dante?

Sophie suspirou, deitando a cabeça contra a parede.

— Ele é outra coisa. Ele é como... um enigma. E eu não quero me perder tentando decifrá-lo.

Isabela a olhou com aquele sorrisinho malicioso, como sempre fazia quando achava que Sophie estava se entregando a algo que não queria admitir.

— É... mas você já começou.

Sophie não respondeu. Ela não queria admitir que, de alguma forma, Dante já tinha deixado uma marca nela. E talvez Luca fosse o menos complicado dos dois, mas ele também estava começando a mexer com ela de uma forma que ela não esperava.

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