Mortal que me chama

Em meu castelo de pedra, a luz lunar trespassa as altas janelas, acentuando a solidão que permeia a sala do trono. A quietude, outrora familiar, agora ecoa com a presença constante de um humano em meus pensamentos. Conhecido por sua arrogância, seu comportamento lascivo e sua natureza violenta, paradoxalmente, algo visceral emana dele, capturando minha atenção de maneira inusitada.

Seus cabelos curtos e negros emolduram um rosto de pele morena, realçando a vivacidade de seus olhos cor de âmbar. A musculatura de seu corpo é adornada por tatuagens, um mapa que anseio desvendar. Eu, um ser secular, um vampiro que se proclama lorde, vejo-me intrigado por essa criatura desprovida de elegância e majestade. Contudo, ele exerce um chamado inexplicável sobre minha eternidade.

Suas mentiras, negando a aceleração de seu coração em minha presença, apenas intensificam meu desejo de desvendá-lo. A experiência fugaz de seus lábios quentes contra os meus gélidos despertou uma pulsação há muito adormecida em meu peito, aquecendo meu sangue frio com uma intensidade surpreendente.

Sua estatura, mais alta que a minha – e considero minha altura respeitável –, é um detalhe que me agrada. Em contraste com minha elegância formal e pele alva, ele exibe uma beleza morena e selvagem. Meus longos cabelos, um atributo que prezo, emolduram meus olhos vermelhos, um inegável selo de minha natureza vampírica, revelando minha essência a todos que me contemplam.

Confesso meu tédio secular, e a ousada ideia de utilizá-lo como um brinquedo para um ser de incontáveis anos, destituído do medo de se queimar em sua pele incandescente, assola-me. Anseio pela sensação de seu toque, uma loucura que não experimento há eras. E ele... ele está despertando em mim desejos há muito adormecidos.

Preciso afastar-me. Urge buscar o ar exterior, abandonar temporariamente as muralhas do meu castelo, na vã tentativa de dissipar sua imagem de minha mente. Não almejo esta obsessão por um ser que não compartilha minha natureza fria e mortal. Sou imortal, contudo, talvez a solidão prolongada tenha me tornado vulnerável a este anseio proibido.

Encontro-me agora fora de meus domínios, deixando que o vento dance ao meu redor. Sua temperatura me é indiferente, meu corpo não possui essa sensibilidade. Contudo, a memória do calor emanado de sua pele permanece vívida. Questiono-me sobre essa estranha capacidade de sentir seu calor, mas não o clima ao meu redor.

Enquanto divago sobre a natureza efêmera dos mortais, sinto a sanidade esvair-se. Com um estalar de dedos, ordeno que os portões de meu castelo se abram. Preciso caminhar, respirar, qualquer coisa para silenciar este turbilhão de pensamentos e esquecer sua existência.

Caminho entre as árvores da floresta próxima ao meu castelo, e a estranheza em meu interior se intensifica. Questiono-me sobre a maneira mais adequada de interagir com um ser mortal. E se sua índole não for amigável? Essa é uma questão para meu eu futuro, talvez eu descubra formas de tornar as coisas... interessantes. A vida é um jogo que conheço bem, e certamente encontrarei meios de mantê-lo próximo. Talvez precise apenas de um novo brinquedo para meus longos anos.

Chego a um riacho de águas cristalinas. Os ventos se intensificam, fazendo meus longos cabelos dançarem e chicotearem minhas costas, evocando memórias de eras geladas. E se, apenas talvez, nesta existência eu pudesse ter alguém ao meu lado, mesmo que sua vida seja efêmera como a de um mortal? Estaria eu pronto para uma brincadeira assim?

Anseio por conhecimento, pois mesmo um ser como eu não detém toda a sabedoria. Desejo reviver, ter algo que aqueça minha existência imortal, marcada por séculos vividos. Contudo, o medo de ferir-me novamente me assombra. Não suportaria morrer interiormente mais uma vez. Já perdi tanto que não posso me permitir outro romance fracassado ou algo semelhante.

Lentamente, liberto-me de minhas vestes, a sensação de ser observado intensifica-se. Meus sentidos vampíricos aguçados – audição precisa, percepção apurada, olfato inconfundível – denunciam a presença de alguém familiar. O aroma amadeirado com um toque cítrico não deixa dúvidas. Ele não se esforça para ocultar-se de meus dons, mas decido fingir ignorância, simulando alheamento à sua vigilância. Por que não me revelar?

No entanto, uma demonstração sutil de minha essência vampírica será mais intrigante. Elevo as mãos, meus olhos servindo como catalisadores de meus poderes. Uma porção da água do riacho eleva-se, dançando no ar. Sinto o pulsar acelerado de seu coração. Medo? Admiração? Ah, como anseio desvendar seus pensamentos, mas resistirei à tentação. Desejo apenas encantar seus olhos, testemunhar sua reação – temor, deslumbramento ou o impulso de fugir.

Cesso a manifestação de meus poderes, uma risada baixa, rouca e maliciosa escapa de meus lábios. A ânsia de mordê-lo, de sentir seus olhos fixos em mim, é quase insuportável. Mas o tempo está ao meu lado. Em breve, aqueles belos olhos âmbar contemplarão este meu corpo. Sim, reconheço minha beleza e admito meu egocentrismo; é a natureza de um lorde como eu."

Volto-me, recolhendo apenas a parte superior de minhas vestes. Permaneço de calças, revelando o suficiente para atiçar a curiosidade. A camisa branca e leve delineia meu corpo esguio, enquanto as calças realçam o contorno de minhas pernas. Intensifico o brilho de meus olhos, um aviso silencioso de que percebo sua presença e a agitação de seu coração. Desejo prolongar essa interação, mas não hoje. Hoje, ele terá apenas um vislumbre do meu poder. Que aprenda, esse mortal, que sou capaz de revelar muito mais.

Encaro por um instante as árvores que o ocultavam, e então, em um piscar de olhos, teletransporto-me de volta ao meu castelo. Retorno ao meu trono, um símbolo de minha linhagem, mas que, apesar de sua grandiosidade, ecoa com a solidão de meus séculos. Anseio por vivacidade nestes salões extensos, por um sopro de alegria.

Percorro os longos corredores, banhados pela luz lunar que adentra as altas e estreitas janelas. Chego à minha cozinha e pego uma taça. Servirei-me de um vinho antigo de minha adega, um néctar que espero acalme meus pensamentos e me permita olvidar o encontro na floresta.

O vinho desceu frio, um contraste com a agitação que o mortal despertou. O sabor antigo não ofereceu o conforto habitual; a imagem dos olhos âmbar persistia. Depositei a taça na mesa de ébano, o som ecoando no silêncio. Um suspiro involuntário escapou. A noite avançava, a luz da lua alongava sombras nos corredores enquanto me movia para meus aposentos.

Cada passo ressoava, um lembrete da vastidão deste castelo, da minha solidão secular. As tapeçarias pareciam observar. Abri a porta do quarto. A escuridão era quase total, a luz da lua apenas delineava os móveis. A cama de casal de época dominava o centro. As cortinas de veludo cor de vinho tinto estavam semicerradas.

Caminhei até a cama. Meus dedos roçaram a seda fria da colcha. Sentei-me, a mente ainda perturbada pelo encontro na floresta. Uma curiosidade perigosa havia sido despertada.

Olhei para a lua alta na janela antes de me deitar. O silêncio do quarto era opressor, permitindo que os pensamentos me envolvessem. Os olhos âmbar, o pulso acelerado... uma trama de incerteza se formava. A noite seria longa, a quietude do quarto ancestral amplificava a perturbação causada por um mortal. O vinho falhou em trazer o esquecimento desejado.

Continua....(⁠θ⁠‿⁠θ⁠)

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