Livia narrando ..
O que começou com a suspensão dos repasses virou uma avalanche.
Na terça-feira, fui chamada à coordenação do Instituto Aurora, onde dou aulas voluntárias a jovens carentes. O diretor me recebeu com olhos pesados e um suspiro fundo.
—Lívia… os três principais patrocinadores retiraram apoio esta semana. Sem aviso. Sem justificativas. E um dos representantes foi direto: disse que continuar vinculado a você é “arriscado”.
Livia - Arriscado? — repeti, com a voz falhando. — Eu… nunca fiz nada. Isso é um ataque pessoal.
— Eu sei. Mas infelizmente, não temos como sustentar o programa sem essas verbas.
O chão começou a desmoronar. Ali. Bem ali. Sob meus pés.
Quando cheguei em casa naquela noite, havia um envelope na porta.
Uma notificação. A casa seria vendida. E o novo proprietário exigia a desocupação em até trinta dias.
Meu mundo, antes equilibrado por fios frágeis de esperança e trabalho, agora estava sendo arrancado de mim. Peça por peça.
E eu sabia quem estava por trás.
Vinícius.
A raiva queimava por dentro, mas não havia onde descarregá-la. Ele estava fazendo tudo legalmente. Cada ataque era limpo, sutil. Uma dança perigosa entre a crueldade e a inteligência.
Me tranquei no quarto. Meus olhos fixos no teto. O mesmo teto sob o qual sonhei, planejei, chorei e recomecei tantas vezes.
Ele queria me deixar sem nada.
E pior… queria que eu dependesse dele.
Eu podia sentir isso no olhar dele. Aquela forma sutil de dominar sem encostar um dedo. Como um predador cercando a presa paciente, silencioso.
Mas ele não sabia do que eu era feita.
Podia estar abalada, mas não destruída.
Ainda não.
Jonas narrando ..
Quando entrei na sala de Vinícius naquela manhã, ele estava sozinho, em silêncio, com os olhos fixos na cidade abaixo da enorme parede de vidro.
Jonas - Os papéis da casa de Lívia foram finalizados. A propriedade agora pertence a um laranja, como pediu.
Ele não respondeu. Só assentiu com a cabeça.
Jonas - O Instituto cortou a verba. E a fundação social vai emitir o aviso de desligamento dela amanhã.
Ainda silêncio. Apenas um leve movimento dos dedos sobre a mesa.
Jonas - Vai conseguir o que quer, chefe — disse. — Ela está encurralada. Vai quebrar logo.
Foi quando ele falou, a voz baixa.
Vinicius- Ela não vai quebrar.
Jonas- Como assim?
Ele girou a cadeira para me encarar. O olhar duro, mas algo nos olhos… algo estranho. Quase arrependido. Quase.
Vinicius - Ela vai resistir. É o que sempre fez. Vai lutar até o fim. É isso que me enlouquece.
Jonas - Então… qual é o próximo passo?
Ele respirou fundo.
Vinicius- Eu quero ela na minha casa. No meu controle. Precisa vir até mim por vontade própria. Fragilizada, mas sem desconfianças.
Jonas- E depois? — perguntei, ainda sem saber se queria a resposta.
Vinicius- Depois… vou dar a ela meu nome. Um anel no dedo. Uma cama ao lado da minha. E quando estiver completamente minha…
Jonas- Vai interná-la?
Ele não respondeu. Mas o silêncio foi mais do que suficiente.
Foi ali que percebi: Vinícius estava cruzando uma linha. E talvez… não voltasse mais.
Eu conheço Vinícius desde que ele tinha doze anos. Vi aquele garoto crescer entre cifras, heranças e expectativas. Vi o amor surgir nos olhos dele cada vez que a pequena Lívia Rocha entrava na sala — mesmo quando fingia não notar.
Por isso, ali, enquanto ele falava em aliança e manicômio na mesma frase, eu soube que algo estava muito, muito errado.
Ele estava prestes a enterrar a última parte boa que ainda restava nele.
Jonas- Vinícius — chamei, devagar. — Posso te perguntar uma coisa?
Ele se recostou na cadeira, como se estivesse cansado. Mas sei que não era cansaço. Era exaustão emocional. Fúria sufocada. Obsessão disfarçada de estratégia.
Vinicius- Fala, Jonas.
Jonas- Você tem certeza disso? Tem certeza do que está fazendo com ela?
Ele não respondeu. Apenas me encarou, como se medisse até onde eu ousaria ir.
Jonas- É que… você sempre amou essa garota. Desde moleque. Até seu pai percebia. Lembra? Augusto falava que você era um idiota por não ter contado a ela.
Um músculo da mandíbula dele se contraiu.
Vinicius- Isso não tem nada a ver com amor — ele rosnou.
Jonas- Tem, sim. Tudo a ver. Porque ninguém destrói tanto assim alguém que odiou. Só se destrói nesse nível quem você já amou demais.
Vinícius desviou o olhar para a janela, onde a cidade brilhava sob o céu nublado.
Vinicius- O que eu sinto… morreu no dia em que enterraram meu pai.
Jonas- Você tem certeza disso? — insisti. — Ou está tentando matar esse amor do único jeito que conhece: sufocando ela junto?
Silêncio.
Jonas- Olha, chefe… você é como um filho pra mim. Mas se seguir por esse caminho, vai destruir não só a Lívia. Vai destruir você junto. E talvez, quando acordar… não tenha mais volta.
Ele fechou os olhos por um instante. Um instante.
Mas então abriu. E o gelo havia voltado.
Vinicius- Agradeço sua lealdade, Jonas. Mas não preciso de conselhos agora.
Levantei-me devagar, sentindo o peso da frustração nas costas.
Antes de sair, falei por fim:
Jonas- Só espero que, quando ela estiver trancada naquela clínica, e você deitado em uma cama vazia com seu anel no dedo… esse vazio que sente hoje não esteja ainda maior.
Fechei a porta. E rezei em silêncio para que ele ainda tivesse salvação.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Maria
No final do livro Lívia não pode ficar com ele como se tudo que vem fazendo e vai fazer na vida fosse só perdoar e pronto, e o psicológico dela como fica ? Ele pode até virar um Santo , que Lívia encontre uma pessoa que de amor e suporte para ela passar por isso.
2025-05-13
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Leoneide Alvez
falou só verdade ele ainda vai implorar pelo o amor dela
2025-05-10
2
Marlene Almeida
vc vai aí arrepender muito pôr TD isso coitada não tem culpa
2025-05-11
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