4 Ele quer me dominar

Livia narrando ..

Minha vida parecia um castelo de cartas em queda livre.

A cada novo dia, uma parte de mim era arrancada. Meu trabalho no hospital se tornou um campo de tensão. O Instituto Aurora desligou-me oficialmente naquela manhã. E agora, ao chegar em casa, havia um aviso pregado no portão:

“Imóvel sob nova posse. Desocupação em 15 dias.”

Tentei manter a calma, respirei fundo, mas o pânico começou a se espalhar como fogo seco. Liguei para o advogado da família, que me recebeu com a voz fria e objetiva.

— A casa foi vendida legalmente. Nome do comprador: empresa de fachada registrada no interior. Nada ilegal.

Livia- Eu não vou sair daqui! — gritei, sentindo a garganta arranhar.

— Se não sair, o despejo será judicial. E, Lívia… com os escândalos sobre os cortes de verba, sua imagem pública não vai te proteger. Muito menos seus recursos.

Ele desligou. E eu desabei.

Naquela mesma tarde, recebi um convite. Formal. Com meu nome escrito em letras cursivas.

“Jantar anual beneficente da Fundação Vasconcellos. Presença confirmada. Mesa de honra.”

O papel parecia zombar de mim.

Uma armadilha.

Só podia ser.

Mas eu sabia que não tinha escolha. Estava sendo empurrada para uma única direção. E talvez, se o enfrentasse ali, diante de todos, com luzes e testemunhas, ele recuaria. Talvez.. começo a me arrumar faço uma maquiagem bem feita deixo os cabelos soltos como eu amo e coloco um vestido vermelho cravado de pedras ele marcava meu corpo de cima a baixo

O salão do evento era luxuoso, sofisticado, repleto de empresários, políticos, e toda sorte de sorrisos falsos. Eu estava de vestido preto, discreto, cabelo preso, tentando parecer menos arrasada do que realmente estava.

Foi quando o vi.

Vinícius.

Terno impecável, barba aparada, os olhos escuros me atravessando como lâminas. Ele se destacava no meio de todos. Não pela riqueza. Mas pelo poder. Ele era o homem que todos temiam e admiravam ao mesmo tempo.

Ele se aproximou da mesa onde eu estava. Com um sorriso.

Um sorriso.

Vinicius- Que bom que veio, Lívia — disse, com a voz baixa e perfeitamente calculada.

Vinicius- Estava ansioso para ver você.

Livia- Ansioso para terminar de me destruir? — murmurei entre os dentes, sem sorrir.

Ele se inclinou ligeiramente para mim, para que só eu ouvisse:

Vinicius - Destruir você? Não. Quero salvar você… do caos que o seu próprio sobrenome causou.

Fingi rir, amarga.

Livia- Isso aqui é um teatro, Vinícius. E você é o ator principal.

Vinicius- É um jogo — ele corrigiu. — E você ainda não entendeu que já está nas minhas mãos.

Livia- Eu não vou me curvar.

Ele se aproximou mais, roçando os lábios perto do meu ouvido.

Vinicius- Você vai. E quando perceber… vai achar que foi escolha sua.

Eu tremi. De raiva. De impotência.

De medo.

Mas eu não baixei os olhos. E ali, naquele salão iluminado, com centenas de testemunhas sorrindo entre brindes e discursos vazios, eu percebi:

O monstro que ele se tornou nasceu do amor que sentia por mim.E talvez, a única forma de vencê-lo… fosse fazê-lo lembrar.

Ou então, veremos quem cai primeiro nessa guerra.

O salão já estava tomado por luzes douradas, música elegante e taças de cristal tilintando no ar.

Discursos vinham e iam no palco, homenagens a Augusto Vasconcellos, sorrisos calculados. Tudo impecável exceto pelo furacão que girava dentro de mim.

Vinícius estava a poucos metros, cercado por empresários, mulheres bem vestidas e bajuladores. Mas eu sabia que os olhos dele me procuravam. E eu queria que ele me visse. Que me notasse. Que sentisse o mesmo desequilíbrio que plantou em mim.

Levantei da mesa com calma, peguei uma taça de champanhe e deslizei entre os convidados com a leveza de quem tem o controle mesmo que o mundo estivesse desabando.

O vestido vermelho que usava delineava cada curva do meu corpo como se tivesse sido costurado em silêncio pelas mãos da tentação. Era ousado, mas elegante. Uma mistura precisa entre a mulher que ele tentou destruir e a que ele nunca pôde ter.

Me aproximei dele.

Livia- Achei que um anfitrião fosse mais sociável — murmurei, me posicionando ao lado dele.

Vinícius me olhou com lentidão. Os olhos escuros varreram meu corpo de cima a baixo. Mas o rosto… permaneceu firme. Controlado. Frio.

Vinicius- Achei que uma convidada arruinada estivesse mais discreta — ele respondeu, seco.

Sorri. Me aproximei mais. Delicadamente, deixei meus dedos tocarem seu braço, como quem busca equilíbrio.

Livia- Você tem feito tanto por mim, Vinícius. Acho que mereço retribuir.

Ele arqueou uma sobrancelha, cínico.

Vinicius- Retribuir? E o que exatamente acha que tem a oferecer?

Aproximei meus lábios do ouvido dele e sussurrei:

Livia- A mesma coisa que você tenta esquecer todas as noites… o que você nunca conseguiu tocar de verdade. E que agora está bem aqui, provocando você.

Por um segundo, apenas um, os olhos dele vacilaram.

Mas logo voltaram ao aço.

Vinicius- Sabe o que é mais fascinante, Lívia? — ele murmurou, virando-se para mim. — O quanto você acha que ainda tem alguma vantagem nesse jogo.

Livia- Talvez eu tenha — desafiei. — Você sente algo. Isso te torna vulnerável.

Ele riu, um som baixo, quase sombrio.

Vinicius- O que eu sinto por você não é amor, Lívia. É dívida. E estou aqui para cobrar.

Livia- Você está aqui porque ainda pensa em mim quando fecha os olhos.

Vinícius me encarou com tanto ódio… e algo mais. Desejo? Fúria? Dor? Talvez tudo junto.

Vinicius- Continue provocando — ele disse entre os dentes. — E no fim da noite, posso acabar provando que você não me desestabiliza… mas que eu sou perfeitamente capaz de te quebrar, lentamente, com um beijo.

O silêncio entre nós ficou denso. Quente.

Mas ele se afastou.

Frio.

Calculado.

Inquebrável.

Ainda.

Mas eu vi. Vi a tensão nos ombros dele. Vi o punho fechado.

E mais importante… vi o fogo.

Ele quer me dominar.

Mas vai ter que me tocar para isso.

E quando fizer… pode ser ele quem se perde primeiro.

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