Amor e Croissants na Sombra e Sabor
O segredo de Fantasma II
Depois de segundos quase eternos de surpresa e silêncio, Verônica pronuncia o nome com a voz embargada:
O homem à sua frente — alto e presença suave — apenas assentiu com um leve movimento de cabeça. Seus olhos, ainda carregando algo felino e antigo, repousaram sobre ela com delicadeza.
Fantasma
Meu nome verdadeiro não importa mais...
Disse ele, com a voz baixa e melancólica
Luciano se aproximou devagar, instintivamente ficando ao lado de Verônica. A estufa, com seus vidros empoeirados e plantas esquecidas, parecia conter a respiração.
Fantasma deu alguns passos para o centro, onde uma trepadeira solitária envolvia a estrutura de ferro enferrujado.
Fantasma
Durante muito tempo, fui o que vocês chamariam de cupido. Uma entidade feita para entrelaçar corações, guiar encontros, inspirar gestos. Eu via as possibilidades no coração humano e apenas soprava um vento na direção certa.
(Ele sorriu, com os olhos perdidos em alguma lembrança distante)
Fantasma
Mas em uma dessas jornadas, encontrei alguém... diferente.
Fantasma
Seu nome era Nocturna.
Fantasma
Uma humana, mas sua alma...
Fantasma
Sua alma parecia pertencer a outro mundo.
Verônica prendeu a respiração, como se já soubesse o que viria.
Fantasma
Um erro imperdoável.
Fantasma
Os cupidos não podem amar. Devem observar, guiar... mas jamais se envolver. E eu? Eu quis quebrar tudo por ela.
Fantasma
Então, escolhi a única forma de estar perto sem ser descoberto.
Luciano arregalou os olhos.
Fantasma
sim. Me transformei e vivu como um gato por todo esse tempo...
Completou Fantasma, com um sorriso triste.
Fantasma
Um animal comum, silencioso, invisível ao que é divino... e ao que é perigoso.
Fantasma
Vivi ao lado dela, dia após dia, me contentando em ser apenas uma presença, um calor no pé da cama, um olhar na janela.
Verônica sentiu um nó no peito. Aquela confissão era mais do que uma história fantástica — era uma dor que atravessava vidas e formas.
Verônica
E ela nunca soube?
Fantasma
Não. E talvez nunca saiba.
Fantasma
Se ela souber... tudo o que vivi ao lado dela pode se apagar. Inclusive eu.
O silêncio caiu como um manto sobre os três. O vento soprou por entre os vidros rachados da estufa, como se também ouvisse a história com reverência.
Fantasma
Mas mesmo assim, eu continuo.
Ele disse, voltando a olhar para Verônica e Luciano.
Fantasma
Continuo unindo corações.
Fantasma
Porque cada casal que ajudo a se encontrar, cada amor que faço florescer... é minha forma de lembrar que o amor vale o risco. Mesmo quando é impossível.
Ele deu um passo para trás, e sua silhueta começou a se contorcer novamente, a pele sumindo sob pelos cinzentos, até que ali estava: Fantasma, o gato, com os mesmos olhos antigos, sentado entre as sombras.
Verônica se ajoelhou diante dele, com o olhar suave.
Verônica
Você amou como ninguém. E agora... nós também amamos, por sua causa.
Fantasma miou baixinho, antes de desaparecer pela claraboia quebrada, voltando à noite, onde corações esquecidos ainda esperavam por seu toque silencioso.
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