Dois
A noite havia chego. Os corredores ficando um pouco mais agitados diferente da sala de descanso que se encontrava quase vazia.
A luz suave amarelada criando sombras suaves nos cantos.
Olívia, não costumava ir até à sala de descanso. Mas foi algo que acabou entrando por precisar de uma mesa, enquanto como de costume, os olhos cinzas estavam concentrados organizando alguns papéis importantes em uma pasta preta, já se preparando para deixar a sala também.
Quando Helena entrou na sala, as mãos inquietas assim que achou quem ela estava a um tempo caçando com o olhar. Apertando a alça da bolsa ao ombro, já tinha chego o horário que ela podia ir embora... mas ela queria tentar algo antes.
Por uns instantes ficou ali, parada a porta encarando a canadense. O método metódico de como Olívia dobrava os papéis, o olhar afiado que sempre parecia saber de tudo, mesmo sem falar.
Respirou fundo duas vezes, dando uma última olhada para o corredor, tomando coragem, Helena se aproximou com o sorriso meio espontâneo meio nervoso.
A pálida não levantou a cabeça, muito menos o olhar do que estava fazendo. Apenas arqueou a sobrancelha como resposta, único sinal que estava dando um pouco de atenção para a morena perto.
Helena limpou a garganta ao travar, deixando um risinho tímido escapar antes de continuar:
Helena
Eu estava.. pensando... já que terminamos o nosso plantão juntas hoje. Talvez a gente podia... pudesse... sei lá... sair para comer alguma coisa?
O som dos papéis pararam, Helena sentiu a respiração falhar um momento juntamente com o parar dos movimentos dos dedos de Olívia.
Finalmente, Olívia ergueu os olhos para ela. O olhar sempre clínico, analistico - o tipo de olhar que sempre fazia Helena sentir como se estivesse sendo completamente radiografada.
Sentindo como se aquele olhar cinzento pudesse medir cada batimento de seu coração rapidamente.
Olívia piscou então, mais lento, inclinando a cabeça brevemente com uma pontada de confusão, estreitando um pouco o olhar como se a estudasse. Perguntando sem rodeios, com a voz carregada em ceticismo:
Olívia
você quer sair... comigo?
Helena
É, tipo amigas... sabe? comer algo rápido, relaxar. Acho que a gente merece... depois de um plantão puxado assim.
O sorriso de Helena aumentou tentando esconder o nervosismo, fazendo um gesto vago com a mão.
Olívia inclinou levemente a cabeça, como um gato curioso. Era óbvio que percebia o nervosismo da mais nova - o jeito que Helena evitava seu olhar, as palavras saíam mais apressadas do que o normal.
Por fim, Olívia respondeu em um tom neutro.
Olívia
Helena... Eu não gosto de sair...
Era meio caminho andado para um "não", pensou Helena. Mas antes que pudesse abrir a boca desfazer o convite, Olívia, contra todas as expectativas acrescentou enquanto guardava a pasta na bolsa em um estalo seco:
Olívia
Mas... se for rápido. Tudo bem
Alí sentiu o coração saltar ao peito, o sorriso se abrindo mais aos lábios praticamente iluminando o rosto.
Helena
Prometo! Algo rápido, sem pressão.
Olívia concordou com um manear de cabeça seco, como sempre, mas Helena percebeu algo sutil que se não tivesse a prestando atenção, teria passado despercebido. A guarda estava baixa, um relaxamento nos ombros.
Isso fez sentir uma esperança quente ao peito.
Se virando seguindo até a porta quase não conseguindo conter a animação por ela ter aceitado o convite, enquanto Olívia andava logo atrás ainda com o olhar atento a observando. Deixando analisar a morena uma última vez enquanto saiam da sala, montando o quebra cabeça que ela escondia tão mal.
Olívia deixou um suspiro baixo escapar, decidindo apenas seguir, não sentindo problema ou vendo perigo nela. Igual como via em outras pessoas que tentavam se aproximar... decidindo seguir sem antecipar todas as possibilidades ruins que poderia acontecer.
O lugar era perto do hospital, o que permitiu com que andassem até o lugar sem preguiça, mesmo que tivessem passado um tempo longo de pé andando pelo hospital naquele dia.
Helena não deixando de falar, animada ainda por ter a cardiologista ao seu lado, contando alguma coisa que aconteceu na ala da enfermagem nos momentos que não estava ao lado de Olívia. Sobre alguma história que escutava dos pacientes da mesma, enquanto Olívia apenas andava ao seu lado com o olhar focado ao caminhou ou para o chão. E mesmo sem olha-la, Helena sabia que estava sendo ouvida por conta das poucas expressões que arrancava dela, ainda mais com coisas que jurava ser exagero das histórias dos pacientes contando. Helena ria concordando que realmente, parecia mentira de fofoca para parecer mais legal.
Isso fez o caminho ser mais calmo e suave, quase nem percebendo quando chegaram.
A lanchonete não parecia ser muito chique como outras coisas da região, o ambiente era simples mas acolhedor para pessoas cansadas também. Mesinhas de fórmica, luz florescente levemente amarelada, e o aroma padrão de fritura no ar.
Poucos clientes espalhados por ali, entre eles, podiam ver serem também do hospital pelos jalecos ou roupas de plantão provavelmente em pausa.
Olívia entrou a frente, passos decididos com o olhar percorrendo o ambiente de maneira automática rapidamente. Quase como se analisasse o local com possíveis riscos, um hábito que nem percebia.
Helena logo atrás, ainda sorria parando de falar apenas para observar a mais velha tomar o seu minuto olhando em volta rapidamente. Mesmo um pouco cansada pelo dia de trabalho, ainda estava animada, sentia um sentimento similar a vitória.
Ao chegar no balcão, a mulher atendente com olhar entediado virou para elas enquanto mascava um chiclete. Perguntando o que iriam querer.
Os olhos cinzas de Olívia já haviam passado sobre o cardápio simples em cima pendurado na parede, sendo mais rápida para responder.
Olívia
sanduíche de peito de frango, sem molho.
Helena levou um momento ainda parecendo indecisa.
Helena
Quero um pastel e uma coxinha.
A atendente concordou afastando as mãos do balcão e perguntando se queria alguma bebida. Olívia já fez uma pequena careta ao olhar novamente para as imagens de café estilizado que havia do outro lado, hesitando um momento antes de decidir, escutando Helena ser mais rápido dessa vez.
Helena
Um refrigerante para mim e um chá verde pra ela, sem açúcar.
A mulher concordou brevemente e se virou indo pegar os pedidos.
Olívia virou a cabeça lentamente para Helena, o olhar cinza como aço afiado encarando-a como se tivesse reprocessando o que ela tinha acabado de pedir por si.
Helena
Desculpe, você queria outra coisa?
Olívia
Como você sabe do que eu gosto?
Helena
Ah... eu apenas reparei, você tem um tipo de chá para cada periodo do dia. E não gosta de café.
Helena
Bem.. sim. Eu sempre te acompanho e vejo também você sempre recusando o café que o pessoal oferece no hospital. Às vezes faz até uma cara como se tivesse provando veneno.
Helena falou tentando ser casual fingindo não se sentir novamente meio nervosa com o olhar dela sobre si. Enquanto balançava os ombros rindo brevemente, enrolando um dos cachos sobre o dedo.
Olívia manteve o olhar fixo nela sem dizer nada por mais alguns segundos, não esperando que alguém realmente reparasse em algum detalhe tão banal dela...
Olívia
Um lado atenta... isso é bom.
Helena
Bem. Estou aprendendo com a melhor.
Tentou ser soar casual, mas a voz dela tremeu no final.
Aquilo fez a pálida travar, ficando alguns segundos sem se mover enquanto Helena fingia que não tinha nada demais.
Quando o que pediram veio a frente delas no balcão, Helena agradeceu estendendo o caneca com Chá para a outra que finalmente pareceu voltar a si pegando o próprio lanche.
Ela não respondeu sobre aquilo, o que fez Helena suspirar um pouco aliviada, não querendo ficar mais sem graça. A canadense seguiu frente escolhendo a mesa que ficariam, uma mesa ao canto que ficava mais afastada da janelas, uma escolha instintiva dela novamente.
Ao se sentarem, Olívia apoiou os cotovelos sobre a mesa entrelaçando os dedos à frente do rosto. Observando Helena como se estivesse lendo cada microexpressão dela.
Helena engoliu um pouco do suco de forma rápida quase sentindo-se engasgar pelo nervosismo.
Olívia
Estou apenas percebendo algo
Olívia piscou apenas mais duas vezes rápido antes de desviar o olhar, pegando o sanduíche e começando a comer.
Helena colocou uma mecha do cabelo para trás da orelha enquanto bebia mais um pouco do suco, sabia que a cardiologista conseguia ver muitas coisas apenas olhando ou observando algo.Aquilo a deixou mais desconcertada imaginando o que ela poderia estar percebendo... mas tentou desviar daquilo e puxar outro assunto.
Helena
Você... sempre todo mundo assim?
Olívia
Sempre. É mais fácil de entender intenções antes que causem problemas
Helena
Parece cansativo... viver sempre desconfiando.
Olívia
Bem... já é algo natural, prefiro isso do que ser lenta e ficar a mercê de alguém
Helena
Sabe, nem todo mundo pode estar preparado para te controlar e manipular
Olívia
É difícil, alguém hoje em dia que não tem segundas intenções ao se aproximar de outra pessoa é praticamente peça rara
Olívia
Você tem o forte senso de achar que todos tem um lado bom.
Olívia
Pensamento de criança. Se fosse... o mundo era melhor
Como um ponto final, Olívia desviou o olhar se concentrando no próprio lanche. Helena mordeu o lábio por um momento breve.
Helena
Bem, você já encontrou gente assim... que não tem segundas intenções com você.
Os olhos cinzentos não voltaram a ela, apenas se estreitaram, Helena entendeu que aquilo era quase uma pergunta de 'quem'
Helena
O Hiroshi... e eu..
Um sopro nasal escapou da mais velha, quase como um riso. O que era praticamente o máximo que poderia arrancar dela de quem ainda não era próximo...
Olívia
Hiroshi... ele tem um senso de herói, os comentários sobre mim ativou a proteção dele. Além de ser bonzinho demais, até com quem não deveria. Por isso insistir em me seguir e me chamar de irmã
Helena
Por que ele gosta de você e vê mais do que... os outros vêm
Olívia
Você e ele tem isso em comum.
Olívia
De serem bonzinhos de mais e verem bondade onde não tem
Helena desviou o olhar sentindo-se sem graça, mexendo o canudo no copo.
Helena
Diz como se... estivesse se referindo a você mesma
Helena a encarou esperando por uma continuação, talvez algo mais cínico ao dizer que ela também havia algo assim mesmo que fosse boa. Mas não... fazendo a morena entender um detalhe ali.
Olívia
O que te faz pensar isso?
Helena
Você trabalha salvando vidas, ajuda os outros mesmo quando estão te subestimando e nunca responde as provocações
Olívia
Isso... é apenas pelo meu trabalho. Isso é tudo, e quando acabo ajudando.. não passa disso. E não respondo por que simplesmente não vale a pena
Helena piscou absorvendo aquilo. A resposta foi crua, seca, mas sem agressividade - como se fosse realmente um fato de sua vida.
É claro que ela seria tão seca sobre aquilo e ainda era assim que ela se via... não mudaria ou suaveria as palavras tão fácil.
Helena abaixou o olhar, pegando finalmente a coxinha, o sorriso voltando a estar presente em seus lábios, mas agora menor, terno.
Helena
Mas... se você resolver um dia, confiar em alguém... espero que eu esteja na lista.
Olívia piscou lentamente olhando Helena enquanto ela agora se distraia comendo. O que fez a morena não perceber o olhar suavizar, como se estivesse ponderando a ideia. Como se a frase tivesse plantado uma sementinha inesperada em seu raciocínio.
Agora mais tranquila, Helena não demorou a começar a falar, menos do que o caminho, dando espaços entre uma coisa e outra.
Olívia respondia as coisas apenas o necessário, sem a importância habitual que sempre via nas salas e corredores do hospital. Isso deixava Helena mais do que contente enquanto continuava falando.
Os pratos praticamente vazios, só restando as migalhas e o cheiro morno do chá no ar. Olívia terminava de tomar o último gole do chá com calma, logo deixando a caneca de lado a mesa quase com uma precisão cirúrgica. Helena ainda brincava com o canudo entre os dedos, enrolando a tomar o restinho de seu suco, como se pudesse prolongar aquele momento calmo entre elas por mais tempo.
Foi quando um toque começou a tocar, era uma música que Helena não demorou a reconhecer como uma das clássicas de 𝘔𝘪𝘤𝘩𝘢𝘦𝘭 𝘑𝘢𝘤𝘬𝘴𝘰𝘯 o que a deixou um pouco surpresa enquanto observava Olívia pegar o celular em mãos e atender a ligação.
Foi um breve momento de conversa dela, respostas rápidas e precisas, algo menos de dois minutos até que desligasse e guardasse o celular novamente com um suspiro.
Olívia
Uma emergência, preciso voltar ao hospital.
Olívia
Não, você pode ir para casa.
Helena
Tem certeza? você pode precisar de..
Olívia
Está tarde, precisarei de você descansada e disposta amanhã. É melhor você ir.
Hannah abaixou o olhar assentindo largando o canudo, ajeitando a alça da bolsa ao ombro.
Levantaram juntas, caminhando para fora da lanchonete. A aproximação da madrugada do lado de fora era fria, o vento cortava as ruas sem piedade.
Fazia Helena tremer um pouco e se encolher a jaqueta, o vento fazia seus cachos dançarem em torno de si e rosto. O sorriso ainda contornava seus lábios - leve e meio bobo - mas genuíno.
Olívia estava pronta para se virar e seguir o caminho de volta ao hospital que mesmo a distância, conseguia ver o prédio grande passando por cima dos outros a rua. Quando Helena se virou para ela.
Helena
Obrigada por ter vindo, Olívia.
Olívia
Foi... tolerável. um tanto agradável.
Para qualquer outra pessoa, teria soado como grosseria. Mas para a morena, foi quase uma declaração de amizade, que havia gostado de estar ao seu lado. Um riso escapou dela balançando a cabeça enquanto se aproximava mais da mais velha, tocando-a suavemente o braço de forma mais tímida.
Helena
Pra mim, foi ótimo. Tenha uma boa noite Dra. Olívia.
Sem esperar por resposta, afastou-se começando a seguir para a direção do prédio que morava. Que por sorte, também não era longe do hospital, decidindo morar na região por caso de se atrasar ou a chamarem com pressa.
Olívia permaneceu parada por uns segundos, assistindo-a ir embora enquanto os cachos balançavam as suas costas em meio ao vento. Sozinha agora, enfiou as mãos nos bolsos do casaco e virou-se para seguir seu caminho a passos mais rápidos ao lado oposto. Sentindo o vento gelado batia contra o seu rosto, mas ela quase não sentia enquanto sua mente trabalhava em silêncio, revendo o acontecimento da noite como fazia quando com qualquer caso médico complicado.
A análise do comportamento de Helena, o tom de voz, os gestos nervosos, a fuga de seus olhos, o toque que lhe deu ao braço.. tudo indicava algo mais.
Ela suspirou fechando os olhos, aquilo seria complicado...
Comments
tal.d.jay
vai no bagulho mais popular
2025-05-12
1
tal.d.jay
Nah, olha as ideia 🧐
2025-05-12
1
tal.d.jay
por que é mesmo irmãzinha ☝🏻☝🏻 uma pessoa incrível demais ai
2025-05-12
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