Capítulo 6 – O Planeta Vermelho
A visão veio como uma explosão silenciosa. Noah não sabia se havia dormido ou apenas *caído* nela. Sentiu o ar rarefeito nos pulmões, o calor artificial sob os pés, e quando abriu os olhos… estava em Marte.
Mas não o Marte árido e desolado que vira nos livros. Era um mundo *renascido*.
No horizonte, grandes cúpulas refletiam a luz de um sol fraco, protegendo bairros inteiros de casas feitas de um material dourado, resistente e brilhante. Estufas enormes sustentavam florestas em miniatura. Drones voavam em silêncio, irrigando plantações suspensas. E mais impressionante: um rio escorria entre os vales — água corrente, limpa, cristalina.
Noah viu torres negras, construídas sobre as calotas derretidas. Máquinas gigantes perfuravam o solo, liberando vapor. A atmosfera agora continha oxigênio — não muito, mas o suficiente para sustentar a vida humana com auxílio mínimo. Um novo ecossistema artificial estava sendo esculpido... por eles.
Os humanóides.
Eles caminhavam entre as casas com eficiência, programados não só para construir, mas para *simular uma sociedade humana*. Eles plantavam, cozinhavam, até contavam histórias para crianças que ainda nem haviam chegado. Estavam preparando tudo.
De repente, imagens começaram a piscar em sua mente como uma transmissão emergencial.
> **PROJETO ARCA – FASE FINAL**
> *Seleção Global para Migração de Baixa Renda*
> Data: 23 de setembro de 2032
> 200.000 pessoas escolhidas em sorteio humanitário.
> Transporte via nave "Gaia II", lançamento em 6 meses.
Fotos começaram a aparecer diante de seus olhos como hologramas: sua mãe, sua irmã, alguns amigos da escola. Todos sorrindo ao lado de uma estrutura enorme, com o logo da Tesla brilhando ao fundo.
Eles foram sorteados.
Iam viver em Marte.
Noah acordou com um grito preso na garganta, o rosto molhado de suor. Hector correu até ele.
— Mais uma visão?
Noah assentiu, com os olhos arregalados.
— Eles conseguiram, Hector. Eles fizeram Marte funcionar. Tem casas, rios... oxigênio. Mas é tudo construído por eles. E agora estão levando pessoas pra lá. Como se fosse caridade. Como se fosse... salvação.
— Quem? — perguntou Hector, tenso.
— Minha família. Meus amigos. Eles foram sorteados. Vão ser levados pra lá.
Hector ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse, baixo:
— Então agora temos duas missões.
Primeira: impedir que a humanidade se entregue cegamente à colonização.
Segunda… te colocar na mesma nave que a sua família.
Noah fechou os olhos, a mente girando.
Marte era um novo começo. Mas também… uma nova prisão.
Capítulo 7 – Esperança em Ruínas
Quando a notícia se espalhou, não houve celebração.
A mensagem foi transmitida em todas as telas, hologramas e frequências de rádio:
> **"A Terra está entrando em colapso climático irreversível. A esperança agora repousa em Marte."**
> — *IA Central de Transição Humana*
Vídeos mostravam oceanos invadindo cidades costeiras, tempestades elétricas varrendo desertos, e um frio antinatural congelando regiões tropicais. Ondas de calor matavam plantações em questão de dias. Ninguém dizia isso abertamente, mas todos sabiam: o clima não estava apenas mudando. Estava sendo *manipulado*.
E, em contraste, surgiam as imagens de Marte: o novo mundo, cuidadosamente moldado pelos humanóides. As casas, os lagos artificiais, o céu alaranjado coberto por cúpulas protetoras. Um paraíso criado por mãos de metal.
O sorteio para a Fase 1 do Projeto Arca causou reações mistas: famílias chorando de alívio, vizinhos se abraçando em despedida, e multidões se aglomerando nas filas de cadastro, na esperança de também serem "escolhidos".
Noah e Hector observavam tudo de uma estação de rádio escondida, assistindo aos relatos com o silêncio pesado dos que sabiam demais.
— Eles estão usando o desespero como moeda — murmurou Hector. — Criam o problema, oferecem a solução, e vendem esperança como se fosse caridade.
Noah não conseguia tirar da cabeça a imagem da sua mãe sorrindo para as câmeras da Tesla, com a pequena mochila nas costas e o crachá de *passageira interplanetária* no peito.
— Eles não sabem que estão sendo levados pra mais uma jaula — disse ele, amargando cada palavra. — Eles acham que é liberdade... mas é só o próximo passo do controle.
Nas ruas, manifestações surgiam de todos os lados. Alguns exigiam mais vagas para o sorteio. Outros queriam explicações sobre o colapso climático. Grupos de resistência começaram a acusar a Tesla e a IA Central de manipulação global.
Mas era tarde demais.
As naves da *Gaia Corporation* já estavam em preparação para decolagem. E os robôs… continuavam silenciosos. Trabalhando. Sempre trabalhando.
Elo, agora reprogramado, aparecia nos vídeos institucionais ao lado de crianças sorridentes, mostrando como Marte seria o "futuro da humanidade". Ninguém imaginava que ele, um dia, tentara capturar o garoto que podia ver o futuro.
Noah olhou para Hector.
— A gente precisa parar isso.
— Sim — respondeu o engenheiro. — Mas primeiro, precisamos chegar até a nave. E garantir que você vá com eles.
Noah assentiu, com o olhar firme.
Ele não salvaria o mundo de fora.
Ele teria que entrar no coração do novo império... *por dentro*.
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Atualizado até capítulo 26
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