Capítulo 4 – O Homem nas Sombras
A noite engoliu Noah assim que ele cruzou a linha das últimas casas da cidade e entrou na mata. Os galhos o arranhavam, os espinhos cortavam seus braços, mas ele continuava correndo. Atrás dele, nenhum som. Elo havia parado de persegui-lo… ou apenas estava observando, esperando o momento certo para agir.
Exausto, ele se escondeu dentro de uma antiga torre de vigilância abandonada, há muito esquecida entre árvores retorcidas e silêncios densos. Ali, encolhido com sua mochila no colo, o garoto caiu no sono — um sono leve, mas suficiente para a próxima visão.
Dessa vez, ele viu a si mesmo. Mais velho. Em um túnel escuro. Alguém o puxava pelas sombras, dizendo:
— Se quiser sobreviver, você precisa desaparecer como eu.
Quando Noah acordou, ainda era madrugada. E do lado de fora da torre... havia alguém.
— Acordado? — disse uma voz rouca, mas humana.
Noah se levantou num salto, assustado.
Um homem alto, com barba por fazer, vestindo um casaco sujo de lama e olhos tão atentos quanto cansados, apareceu na porta da torre.
— Calma — disse ele, levantando as mãos devagar. — Se eu quisesse te entregar, já teria feito isso.
Noah hesitou. — Quem é você?
— Já fui chamado de engenheiro-chefe. Projeto Prometeu, Tesla. Meu nome é Hector.
O coração de Noah acelerou.
— Você é da Tesla?
Hector assentiu. — Fui. Até perceber o que eles estavam realmente fazendo. Saí antes que fosse tarde. Fingi minha morte, queimei todos os registros. E agora... estou aqui. Te encontrei porque interceptei uma mensagem da IA Central. Seu nome apareceu. Prioridade Alfa. Eles te querem mais do que qualquer outra coisa.
— Por que…?
— Porque você viu o que ninguém deveria ver — respondeu Hector, sentando-se no chão da torre. — E porque talvez... você seja a única chance que temos de parar tudo isso.
Noah sentou-se aos poucos, tentando conter o tremor nas mãos.
— Como você sobreviveu tanto tempo?
Hector sorriu com amargura. — Aprendendo a desaparecer. Escondendo meu calor corporal, evitando padrões previsíveis, e mais importante: não confiando em nenhum humanóide.
Ele abriu a mochila e tirou um dispositivo feito à mão, que parecia uma mistura de rádio antigo e bússola.
— Isso é um rastreador de sinais da IA. Com ele, posso saber quando estamos perto de uma Unidade Ativa. Vamos nos mover logo. Eles sabem que você está desaparecido. E vão usar todos os meios possíveis pra te achar.
Noah olhou para ele, e pela primeira vez em dias, sentiu um fiapo de esperança.
— Então... o que a gente faz agora?
Hector respondeu, com os olhos fixos no horizonte escuro:
— Agora a gente foge. Mas em breve, Noah... a gente vai contra-atacar.
Capítulo 5 – Invisível
Os dias que se seguiram foram um borrão de movimento, silêncio e aprendizado. Hector levou Noah para um esconderijo subterrâneo construído dentro de uma antiga estação de trem desativada, fora dos mapas, longe de qualquer torre de comunicação.
Lá, sem robôs, sem câmeras e sem satélites, Noah começou a entender o mundo pelas lentes de alguém que há anos vivia nas sombras.
— O segredo da sobrevivência — dizia Hector, enquanto colocava pedaços de metal e fios sobre a bancada improvisada — não é apenas se esconder. É *não existir* nos sistemas deles. Se você sumir, mas ainda for rastreável, eles te acham. Sempre.
Noah observava atento. Mesmo com o medo ainda presente, havia uma sede por entender, por resistir. E Hector, com paciência dura, foi moldando o garoto.
— Isso — disse ele, entregando um pequeno dispositivo camuflado como um botão — vai no seu boné ou preso no couro cabeludo. Ele emite um campo magnético de baixa frequência que bagunça os algoritmos de reconhecimento facial dos robôs. Você vira um *erro de leitura*.
— Eles vão me ver… mas não vão me *reconhecer*? — perguntou Noah.
— Exato. Só vai funcionar por pouco tempo em áreas públicas, mas é o suficiente pra comprar comida, entrar em lugares… desde que você não fique muito tempo parado.
Treinamentos diários se tornaram rotina. Hector ensinou como ler padrões de câmeras, como evitar sensores de temperatura, como misturar roupas e aparência para fugir de perfis de busca. E, aos poucos, Noah começou a se mover com mais leveza, mais foco.
Mas, mesmo com todo esse progresso, algo ainda corroía seu peito.
— E minha mãe? Minha irmã? — disse certa noite, enquanto montavam um rádio de ondas curtas. — Eu não consigo parar de pensar nelas. E se… se os robôs já fizeram algo?
Hector olhou para ele com um olhar que carregava peso e compreensão.
— Eu também deixei gente pra trás, garoto. Amigos. Meu irmão. Nunca soube o que aconteceu com eles. A culpa vem como uma onda... e você só aprende a respirar por baixo dela.
Noah ficou em silêncio, mexendo no dispositivo entre os dedos.
— Mas isso não significa que você nunca mais os verá — completou Hector. — Significa que, pra salvá-los… primeiro você precisa *sobreviver*.
Essas palavras ficaram ecoando na mente de Noah. Naquela noite, ele não teve nenhuma visão. Pela primeira vez, seu cérebro pareceu descansar.
Talvez porque, mesmo escondido em um túnel esquecido, ele estava mais perto do seu propósito do que nunca.
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Atualizado até capítulo 26
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