5

O relógio marcava quase duas da manhã. A luz fraca do abajur jogava sombras suaves pelo quarto, e o silêncio agora era menos pesado — mas ainda presente.

Isa continuava sentada ao meu lado no chão, os joelhos abraçados contra o peito. O cabelo caía solto, escondendo parte do rosto, mas eu sabia que ela não chorava mais. Tinha passado da fase do choro. O que restava agora era exaustão. E um olhar distante, machucado.

Foi quando ela falou, sem me encarar:

Isa- Eu acho que o Cael tá com outra.

Demorei alguns segundos pra processar.

Dante - Como assim?

Ela respirou fundo, a voz falhando:

–Isa- Ele tem estado cada vez mais frio. Esconde o celular. Sai sem dizer pra onde vai. E… mudou. Não olha mais pra mim como antes. Não me toca. Às vezes parece que ele me odeia, mas não tem coragem de terminar.

Fiquei em silêncio. Não queria acreditar. Não queria pensar que meu irmão seria capaz disso. Mas ao mesmo tempo… conhecia o Cael. Sabia que ele podia ser impulsivo, egoísta nas horas erradas.

Dante- Você tem certeza? – perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

Isa- Não. Mas sinto. E isso me mata mais do que qualquer confirmação.

Ela virou o rosto e me olhou. Dessa vez, sem filtro, sem barreiras.

Isa- Eu pensei em você por isso. Não por saudade. Mas porque você sempre foi… verdadeiro comigo. Mesmo quando doeu. Mesmo quando acabou. E eu só queria isso de novo. Alguém que olhasse pra mim e dissesse: ‘eu tô aqui’.

Aquelas palavras me atingiram como um soco lento no peito.

Dante- Isa… – murmurei. – Eu nunca parei de me importar com você. Isso não vai mudar. Mas eu não sou mais o seu lugar seguro.

Isa- Eu sei – ela respondeu, com um sorriso amargo.

Isa- Mas hoje, só hoje… eu precisava acreditar que você ainda era.

Ela encostou a cabeça no meu ombro. E ficamos ali. Em silêncio.

O peso de tudo que não deu certo entre nós suspenso no ar.

E por mais que meu coração estivesse tentando ir em outra direção…

Parte de mim ainda sangrava por ela.

E talvez, de algum jeito, sempre fosse sangrar.

Isa bocejou baixinho, os olhos cansados, quase fechando sozinhos. Ainda estava encostada em mim, mas agora seu corpo parecia mais leve, como se desabafar tivesse tirado um pouco do peso que ela carregava.

Dante- Vem – falei baixinho, levantando devagar e estendendo a mão.

Ela aceitou o gesto com um olhar manso, quase infantil. Me seguiu até a cama, deixando que eu a cobrisse com o edredom. Isa se deitou de lado, puxando os joelhos contra o peito. A luz fraca do abajur criava sombras suaves em seu rosto.

Isa- Você fica? – ela perguntou, num sussurro.

Me ajoelhei ao lado da cama, passei os dedos levemente pelo cabelo dela, afastando algumas mechas do rosto.

Dante- Não aqui – respondi, com calma.

Dante- Mas tô na casa. No quarto de hóspedes.

Só pra garantir que você vai dormir bem.

Ela fechou os olhos. Não insistiu.

Acho que, no fundo, ela sabia. E até agradecia por isso.

Fiquei ali por mais alguns minutos. Só olhando.

Relembrando tudo que ela foi pra mim.

E tudo que nós dois decidimos deixar pra trás.

Quando a respiração dela ficou mais ritmada, levantei em silêncio e saí do quarto, fechando a porta com cuidado.

O corredor parecia longo demais naquela hora da noite. Cada passo ecoava com as lembranças que eu ainda carregava. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu não me sentia preso a elas.

Entrei no quarto de hóspedes. Luz apagada. Silêncio.

Tirei a jaqueta, os sapatos, me joguei na cama com um suspiro lento.

O colchão era estranho, a sensação de estar de volta ali mais ainda.

Peguei o celular. Duas mensagens não lidas.

Clara:

“Você sumiu.”

“Tá tudo bem?”

Olhei para a tela por alguns segundos, digitei uma resposta e apaguei antes de enviar. Não era hora.

Coloquei o celular virado pra baixo na cômoda.

Fechei os olhos.

Tentei dormir.

Mas tudo que conseguia pensar…

Era que o passado nunca some de verdade.

Ele só espera o momento certo pra bater de novo.

E dessa vez, eu não sabia mais o que isso queria dizer.

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