A mensagem chegou pouco depois das onze da noite. Eu ainda estava no sofá, olhando fixo para a televisão desligada, com a cabeça longe longe demais depois de tudo que rolou com Clara.
O celular vibrou.
Cael:
“Irmão tô fora da cidade. Preciso que você vá ver a Isa. Ela não tá bem. A gente brigou feio. Tô com medo de que ela faça alguma merda. Por favor.”
Li três vezes antes de reagir.
Não era comum Cael pedir ajuda. Muito menos sobre Isa.
Senti o estômago afundar.
Dante:
“O que aconteceu?”
A resposta veio rápida:
Cael:
“Ciúmes. Achei que ela ainda tava falando com você. Falei merda. Ela chorou. Disse que se sentia sozinha. Sumiu dentro de casa. Tranca a porta do quarto. Não atende. Você conhece ela.”
Sim. Eu conhecia.
E era exatamente isso que me assustava.
Me levantei, joguei uma jaqueta por cima da camiseta e peguei as chaves do carro.
Tentei não pensar em Clara.
Tentei não pensar em como a vida parecia brincar comigo: sempre que eu me permitia seguir em frente, Isa voltava — como uma ferida mal curada que rasga outra vez.
O caminho até a casa deles foi rápido demais. Ou talvez minha mente estivesse ocupada demais pra registrar o tempo.
Quando estacionei em frente ao portão, todas as lembranças voltaram de uma vez.
A risada dela no quintal.
O cheiro do café nas manhãs de domingo.
O toque dos dedos dela quando ainda éramos “nós”.
A dor no peito foi real. Mas não era saudade. Era outra coisa. Era culpa.
Toquei a campainha. Nada.
Insisti mais uma vez.
Dante- Isa… sou eu. Abre a porta.
Silêncio.
Peguei a chave reserva debaixo do vaso, como sempre. Entrei.
A casa estava escura. Silenciosa demais.
Dante- Isa? – chamei, mais uma vez. – Tô entrando.
O som da maçaneta girando me fez prender a respiração. A porta do quarto dela se abriu devagar.
Isa estava lá. De pé. Com os olhos inchados, o cabelo bagunçado, vestindo uma camiseta enorme do Cael que batia nas coxas. Ela parecia pequena. Quebrada.
Mas viva.
Quando me viu, os olhos se encheram de lágrimas de novo. Ela não disse nada. Só veio até mim, devagar, como se o tempo voltasse a correr.
E então ela fez o impensável.
Ela me abraçou. Forte. Desesperada.
E eu…
Eu abracei de volta.
Não porque queria confundir as coisas.
Mas porque, naquele momento, ela precisava de mim.
E apesar de tudo, eu ainda me importava.
Isa começou a chorar no meu peito.
Isa- Eu tô cansada, Dante… Cansada de me sentir invisível.
A voz dela saiu baixa, quase sem vida.
E ali, entre memórias e mágoas, percebi que o passado não tinha sido enterrado.
Tinha só adormecido.
Isa continuava ali, afundada no meu peito, como se não quisesse que o tempo avançasse.
A camiseta do Cael pendia dos ombros dela como uma lembrança irônica de tudo o que a estava ferindo. E eu? Eu segurava aquele corpo frágil, familiar, com a mesma força que já tinha usado pra tentar esquecê-la.
Ela tremia. Mas não de frio.
Isa- Ele acha que eu ainda te amo – sussurrou, a voz rouca.
Isa- E talvez… talvez eu nem saiba responder a isso.
Fiquei em silêncio.
Não porque não tinha o que dizer.
Mas porque qualquer palavra naquele momento soaria como traição — a ela, a Cael, a mim mesmo.
Isa se afastou só o suficiente pra me olhar. Os olhos vermelhos, molhados, mas ainda lindos como sempre. Um tipo de beleza que não se apaga com o tempo, só muda de forma.
Isa- Você me ama, Dante?
A pergunta caiu como uma bomba.
Não porque eu não soubesse a resposta.
Mas porque a resposta, naquele contexto, era uma maldição.
Dante- Eu… – comecei, e parei.
Dante- Eu te amei mais do que devia. E isso me destruiu.
Ela assentiu devagar, como se já soubesse. Como se também tivesse sido destruída.
Isa - E agora?
Dante- Agora eu tô tentando seguir em frente – respondi.
Dante- Tenho alguém. Alguém que não vive entre os cacos do passado.
Isa baixou os olhos.
Isa- E eu sou só cacos, né?
Dante- Não. Você é mais do que isso. Mas comigo, Isa… só sabemos nos machucar.
Ela respirou fundo.
Isa- Às vezes eu queria voltar. Só por um instante. Quando ainda era simples. Quando você me olhava como se eu fosse tudo.
Dante- Eu ainda te olho assim, às vezes – confessei.
Dante- E é exatamente por isso que eu fui embora.
Ela fechou os olhos com força, como se quisesse apagar aquela frase. Ou guardá-la.
Isa- Eu não vou fazer besteira, Dante – disse, finalmente.
Isa- Eu só… não quero me sentir sozinha.
Dante- Você não está. Mesmo quando tudo desmorona… eu ainda tô por perto.
Ela sorriu, fraco.
Isa- Mesmo que seja errado?
Dante- Mesmo assim.
Nos sentamos no chão do quarto, lado a lado. Silenciosos.
Sem encostar.
Sem mais nada além da presença um do outro.
E pela primeira vez em muito tempo, não havia desejo.
Só lembrança.
Só dor compartilhada.
E um silêncio que dizia mais do que qualquer toque.
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Comments
Lorrainecristinioliveira Oliveira
eu estou achando q cael tem é outra será
2025-04-27
1
Sônia Ribeiro
Eu tbm acho que ele tem outra.🥰
2025-04-27
1
Socorrinha Lima
Quanto sofrimento deles dois
2025-04-30
0