Título: Casamento por Contrato Autora: Santos
Convivência Forçada A adaptação à nova rotina como casal foi tudo, menos fácil. Helena ainda tentava entender como havia chegado àquela situação — morando com um homem praticamente desconhecido, mesmo que casada no papel. Enrico, por outro lado, parecia mais focado em manter as aparências do que em qualquer tentativa de aproximação verdadeira.
A mansão em que passaram a viver era grande, fria e silenciosa. Os empregados foram orientados a tratá-los como um casal apaixonado, o que tornava as coisas ainda mais desconfortáveis para Helena, que mal conseguia conversar direito com Enrico.
Certa noite, ao descer para jantar, ela se deparou com a mesa posta para dois. Havia flores, velas, e até um vinho caro. Surpresa, ela olhou para Enrico, que, pela primeira vez, parecia hesitante.
— Achei que poderíamos... tentar jantar juntos — disse ele, com um tom quase gentil.
Durante o jantar, Helena percebeu que, por trás da postura rígida de Enrico, havia um homem cheio de barreiras emocionais. Ela tentou puxar assunto, contar histórias de sua infância, do pai e da época em que ajudava a montar casamentos nos eventos da antiga empresa da família. Enrico ouvia, às vezes com um leve sorriso no canto dos lábios.
— Você realmente acredita no amor, não é? — ele perguntou, repentinamente sério.
— Acredito. E você, não acredita?
Ele deu de ombros. — Nunca tive motivos pra isso.
Naquela noite, Helena foi dormir com uma sensação estranha. Algo em Enrico havia mudado — mesmo que só um pouco. E ela sabia, no fundo, que seria preciso paciência para descobrir quem era o homem por trás daquele contrato.
Enquanto isso, no escritório da empresa de Enrico, boatos sobre o casamento já corriam. Alguns funcionários diziam que era apenas por interesse; outros, que Enrico estava finalmente apaixonado. Nenhum deles sabia a verdade. Nem mesmo o próprio casal.
E em meio a tudo isso, Helena recebeu uma ligação do pai. Ele estava preocupado com ela, mas também aliviado por saber que a empresa estava salva — mesmo sem saber o quanto a filha havia sacrificado para isso. Ela mentiu, dizendo que estava tudo bem. Que o casamento estava indo bem. Que estava feliz.
Era uma mentira dita com amor. Mas ainda assim, uma mentira.
Helena desligou o telefone com os olhos marejados, se perguntando quanto tempo conseguiria sustentar aquela farsa... e se um dia, aquilo tudo deixaria de ser mentira para se tornar, enfim, verdade.
A convivência entre Helena e Enrico começava a revelar as primeiras rachaduras.
Por mais que ambos tentassem manter a aparência de um casal harmônico, era impossível ignorar o peso das diferenças entre eles.
Helena era espontânea, sorridente e acostumada a compartilhar seus sentimentos. Já Enrico, reservado e controlado, tratava a maioria das conversas como transações — calculadas e limitadas.
Naquela semana, a tensão explodiu pela primeira vez.
Tudo começou com uma reunião de família organizada pela tia de Enrico, uma mulher tradicional que sempre desconfiou da repentina decisão do sobrinho de se casar. A festa era uma oportunidade para impressioná-la e acalmar rumores. Helena sabia disso, e se esforçou para escolher um vestido elegante, aprender detalhes sobre a família e ensaiar respostas para perguntas constrangedoras.
Mas, ao chegar à casa da tia, foi tratada como uma intrusa.
Olhares tortos, cochichos e sorrisos falsos acompanharam Helena a noite inteira. E o pior: Enrico parecia indiferente.
Ele conversava com os outros convidados, falava de negócios e deixava Helena sozinha a maior parte do tempo.
Quando voltaram para casa, a discussão começou.
— Você me deixou sozinha! — acusou Helena, sua voz embargada de frustração. — Parecia que eu era invisível para você!
Enrico tirou a gravata com um gesto impaciente.
— Eu estava fazendo o que era necessário! Estava mantendo nossa imagem!
— Que imagem, Enrico? A de um marido ausente? — ela retrucou, com lágrimas nos olhos.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, como se procurasse as palavras certas.
— Eu não sou bom nisso, Helena — disse, enfim. — Nunca fui. Não sei como fazer isso parecer real.
Helena respirou fundo. Era difícil, muito difícil. Mas parte dela compreendia.
Afinal, ambos haviam entrado naquela relação por necessidade, não por amor.
— Talvez nós dois precisemos aprender — ela respondeu, mais calma. — Se quisermos que isso funcione, teremos que construir algo juntos. De verdade.
Enrico olhou para ela, pela primeira vez sem a máscara fria que usava como armadura. E naquele breve momento, Helena viu: havia uma dor escondida dentro dele. Uma dor que talvez ela pudesse ajudar a curar... se ele permitisse.
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Atualizado até capítulo 55
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