Tenho que admitir: foi bom voltar a jogar. Estava com saudade da adrenalina de estar em quadra. Às vezes também sinto falta de tocar — mas tenho minhas prioridades, e minha mãe sempre vem antes de tudo. Por isso larguei tudo. Ainda assim, preciso agradecer à insistência dela... me fez bem. Senti que relaxei um pouco hoje, mesmo sem interagir muito com a equipe. Eles parecem legais.
Só não sei qual é a do Solano. O cara tem cara de metido. Arrogante. Parece aqueles héteros que se acham os fodões e ainda carregam um quê de preconceito. Sei que estou julgando, minha mãe vive dizendo que a gente precisa dar uma chance antes de criar opinião... mas o cara não facilita.
Apesar de tudo... o desgraçado é um gato.
— Que isso, Juliano Pimentel? Ele não é do seu bico! — resmungo pra mim mesmo, revirando os olhos e tentando afastar o pensamento.
Saio dos devaneios quando percebo que estou chegando em casa.
— Chegueeeei, família! — grito, largando a mochila no canto da sala.
— Mas já, meu filho? Como foi o primeiro dia? Foi no treino? Os caras do time são legais? Fez amigos? — minha mãe, Belinda, aparece cheia de energia, como sempre.
— Respira, querida — meu pai ri. — Vai deixar o nosso filho maluco com tanta pergunta de uma vez.
— Os professores são bem exigentes, mas curti as aulas. E sim, fui pro treino. Os caras parecem ser gente boa — respondo, jogando no sofá.
— Entãooo... — ela insiste, com aquele olhar de quem tá prestes a vibrar.
— Foi bom voltar a treinar, mãe. Obrigado por insistir. Mas se você precisar de mim, é só chamar que venho correndo, tá?
— Você sabe que não precisa, filho — diz meu pai, com um sorriso tranquilo. — Agora estou trabalhando de casa, posso passar mais tempo com sua mãe.
— Eu sei, pai.
— Ei, estou aqui também, tá? — ela ri. — E você não respondeu: fez amigos?
— Conheci o pessoal do time. Troquei umas palavras com o Rick e com... o Solano.
— Que jeito é esse de falar o nome do garoto? — pergunta meu pai, franzindo a testa.
— O Rick parece ser legal. Ele e o Vitinho estavam no maior papo, pareciam amigos de infância. Mas esse Solano... sei lá. Não fui com a cara dele.
— Dá uma chance a ele, filho — diz minha mãe. — Não julgue sem conhecer.
— Por acaso senti um ciúmezinho do Vitinho aí? — solta meu pai com um sorrisinho.
— Claro que não! — respondo, rápido demais. — Tô de boa com isso. E pode deixar, mãe, vou tentar. Mas não prometo nada.
— Já é um começo — ela responde, contente.
O resto do dia segue tranquilo.
Aos poucos, começo a me adaptar à rotina. Faculdade, foco total nas aulas. Nas horas vagas, às vezes fico com o Vitinho e a Martinha. Outras vezes, acabo sozinho — já que os dois andam grudados no Rick e no Solano. Por mais que eu tente, eu e o Solano... a gente não se dá. Vivemos trocando farpas, dentro e fora da quadra.
Nos treinos, me dou bem com o Caio, o capitão. Ele é gentil, boa vibe... e gato. Mas, claro, também não é pra mim. Qual é o meu problema? Só fico de olho em hétero. Tô precisando de terapia urgente.
Meus amigos vivem reclamando que nunca saio com eles — termino o treino e vou direto pra casa.
Durante um intervalo, o Caio se aproxima.
— Ju... não me leva a mal, mas a garota que vem todo dia te ver treinar é tua namorada?
— Kkkkk, Deus me livre! A Martinha? As nossas mães são melhores amigas, e a gente acabou virando quase irmãos. Ela é aquela irmã mais nova irritante que a gente ama, mas quer esganar às vezes.
O olhar do Caio muda.
— Ahh, entendi... E ela é solteira?
— Solteiríssima. Se quiser, te apresento.
— Sério? Eu topo. Ela é mó gatinha.
— Bora lá então.
Seguimos pra rodinha onde estão o Rick, o Vitinho, o Solano e a Martinha.
— Quem é o gato, amorzinho? — Martinha pergunta assim que vê o Caio, os olhos brilhando de interesse.
— Essa guria não pode ver um homem — resmunga Vitinho, rindo. — Não tava agora dando em cima do Rick?
— Ué, tem Martinha pra todos! — ela dá uma piscadinha.
Todo mundo ri.
— Maluquinha, esse é o Caio, o capitão do nosso time — digo, e eles se cumprimentam com um aperto de mão firme.
Mas quando dou por mim... tô olhando pro Solano de novo.
Aquele olhar sério dele me desestabiliza. E o sorriso, quando surge, tira o fôlego.
Droga. Que raiva de mim mesmo. Por que sempre me pego nesse ciclo? Eu não posso — e não vou — cair nessa de novo. Ainda mais por um hétero arrogante e sem noção.
Ele me encara de volta com uma expressão dura. Desvio o olhar.
— E aí, vamos fazer um lanche no shopping? E depois aquele fliperama que vimos? — sugere Rick.
— Eu topo — responde Solano.
— Só se for agora! — diz Martinha, empolgada.
— Bora, Ju? — pergunta Vitinho.
— Eu passo, galera. Levem o Caio com vocês, se ele quiser.
— Ahhh, amorzinhooo, vamos lá, puuufaaavorzinho? — implora Martinha.
— Não rola, Martinha, e você sabe disso! Que saco! — acabo respondendo mais duro do que queria.
— Não precisa falar assim com a Martinha, seu grosso — solta Solano, seco.
— Qual é, cara? Isso é entre eu e ela.
— Calma, meninos — diz Martinha, levantando as mãos. — Obrigada pela defesa, Solo, mas não precisa. Eu e o Ju nos entendemos. Foi mal, amorzinho, só queria que você se divertisse um pouco mais. Mas entendo. Passo na tua casa depois, pode ser?
— Pode ser — respiro fundo. — Se me derem licença... tchau, gente. Se divirtam.
Me afasto e sigo pra casa. Meu coração meio apertado, minha cabeça cheia.
E o pior é que nem sei exatamente por quê.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Nara ingrid
se fosse eu sopor eu tá falando com ele minha amiga falava:
_vai da namoro🥰
2025-05-03
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