Bruno acordou com o som da chuva batendo contra os vidros da pequena quitinete improvisada que Lorena havia conseguido para ele. O lugar era apertado, com cheiro de mofo, mas possuía uma cama, um banheiro e uma janela que mostrava parte do caos urbano da cidade. Para quem passou noites em calçadas molhadas e becos escuros, aquilo era quase um palácio.
Ele se sentou, passando as mãos pelo rosto. Ainda não se acostumara a dormir sob um teto. O corpo, acostumado com o frio do concreto e a tensão constante da rua, ainda reagia com desconfiança ao conforto. Mas havia uma chama em seus olhos naquela manhã. Uma mistura de raiva, sede de justiça e... algo novo. Determinação.
Vestiu a roupa simples que Lorena deixara sobre a cadeira. Olhou-se no espelho trincado do banheiro. O homem que o encarava de volta não era mais o garoto ferido pelo abandono, nem o mendigo esquecido nas ruas. Era um homem com uma história sufocada, mas também com um destino a recuperar.
— Eles acham que eu morri com meu pai. Estão errados. O herdeiro está vivo.
Sua voz soou firme, como se jurasse algo diante de um tribunal invisível. Sabia que a jornada à frente seria sombria. Os nomes que destruíram sua vida ainda estavam no topo. Sua mãe adotiva, Vivian, mulher fria e ambiciosa, e o ex-melhor amigo de seu pai, César Moretti, agora controlavam tudo. Fortuna, empresas, propriedades. Até a memória de seu pai fora distorcida publicamente. Um "acidente". Um infarto misterioso. Nada foi investigado. Nada foi contestado. Porque ninguém esperava que restasse alguém com coragem de desafiar o império deles.
Lorena chegou pouco depois do meio-dia. Vestia um tailleur escuro, o cabelo preso com elegância, mas o rosto denunciava cansaço. Trazia uma pasta nas mãos.
— Encontrei coisas, Bruno. Muitas. Mas isso... isso é maior do que eu esperava.
Ela sentou-se no pequeno sofá rasgado enquanto ele se aproximava.
— Moretti não só desviou os ativos da empresa. Ele tem ligações com empresas fantasmas, subornos a juízes, compra de ações em nome de laranjas... Seu pai foi traído, Bruno. E, com o tempo, tudo foi sendo lavado, camuflado. Mas eu consegui acesso a documentos que ninguém ousou mexer.
Bruno apertou os punhos.
— Ele matou meu pai... O meu pai infartou por conta dele e daquela mulherzinha golpista.
Lorena hesitou.
— Eu não posso provar isso ainda. Mas... há indícios. De que seu pai não morreu imediatamente, ficou internado em um hospital pra onde foi depois de socorrido, e lá tomou medicamentos que ele nunca tomaria porque era saudável, registros falsificados, um sumiço estranho de exames. Temos que cavar mais fundo. Se isso vier à tona, vai explodir. Seu pai resitiu ao infarto mas estranhamente no hospital desfalecera depois de ser normalizada a sua situação.
Ele se levantou, começando a andar de um lado para o outro, como um animal em preparação para o ataque. Mas parou subitamente.
— Por que você está fazendo isso?
Lorena ficou em silêncio por alguns segundos. Então, com um suspiro, respondeu:
— Porque eu acredito em você. Porque quando te conheci naquela rua, sangrando e sujo, havia mais verdade nos seus olhos do que em todos os tribunais que já pisei. E... talvez porque você me fez lembrar de quem eu queria ser antes de me perder nesse sistema sujo.
O silêncio se instaurou, mas não era desconfortável. Era pesado, denso, como se ambos compreendessem que dali em diante não havia mais volta.
— Qual o plano? — ele perguntou, a voz cheia de firmeza.
Lorena sorriu.
— Primeiro, reconstruir sua identidade. Oficialmente, você desapareceu após a morte do seu pai. Precisamos que Bruno Vasconcellos Filho volte a existir nos registros. Tenho um amigo no cartório que pode nos ajudar, discretamente. Depois, vamos estudar cada movimento de Moretti. Cada contrato, cada nome. E então, quando ele menos esperar, você vai reaparecer... e exigir o que é seu por direito.
Bruno assentiu. Havia fogo em seus olhos.
— Eu quero ver cada um deles pagar. Um por um.
— Eles vão. Mas você não pode fazer isso como um andarilho. Vai precisar se reinventar. Vai ter que jogar o jogo deles.
Lorena puxou uma pasta menor e a entregou a ele. Dentro, estavam documentos falsos temporários com um novo nome: Daniel Souza. Um disfarce. Uma identidade provisória para movimentar-se sem chamar atenção.
Nos dias que seguiram, Bruno se transformou. Cortou o cabelo, fez a barba, passou a se vestir com roupas sob medida. Aprendeu a se portar como um executivo, a falar com frieza calculada. Lorena o treinava todos os dias, preparando-o para reencontrar o mundo que o rejeitou.
Mas à noite, sozinho, ele ainda sentia o peso de cada cicatriz. Lembrava do orfanato, das agressões, do choro sufocado. Da dor de crescer sendo chamado de "filho de bandido". Ele não esquecera. E isso era o que o mantinha forte.
O reencontro com o nome Vasconcellos estava próximo. E Bruno, agora renascido das cinzas, estava pronto para reclamar seu trono.
Mas nem ele, nem Lorena, imaginavam o quão sujo o jogo poderia se tornar. Alianças ocultas, traições inesperadas... e um segredo enterrado que mudaria tudo. Bruno estava reflexivo, cheio de traumas e dores que foi obrigado a fingir que não existiam para que conseguisse sobreviver à dura realidade que desde os 8 anos tivera que suportar. Das pedras que ao longo das noites se tornaram seu travesseiro, as calçadas, praças e ruas suas camas e o céu seu cobertor, por vezes a chuva era a coberta que escondia suas lágrima disfarçadas de coragem. Alí ele via um filme passar em sua mente e lembrava do quanto prometera que um dia daria a volta por cima. Mas nunca tivera oportunidade, como um pobre mendigo iria recomeçar se por vezes teve que comer os restos de comida que ahhh felizmente encontrava nas lixeiras e mesmo assim não preenchiam o vazio que estava em seu corpo e sua alma. Maltrapilho de vestes desumanas viva debaixo daquelas humildes veste a esconder sua beleza. Sim porque herdara de seus falecidos pais uma genética diferenciada. Digna de atrair atenções e suspiros desenfreados. Enfim, Bruno refletia sobre toda injustiça que sofreu. E você caro leitor, que tipos de injustiças já passou em sua vida, que podes refletir agora. E a pergunta que não quer calar. Você conseguiu dá a tão sonhada volta por cima
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 40
Comments