Cap 4
No dia seguinte, Taylane chegou mais cedo na escola.
Seus olhos estavam marcados por uma noite mal dormida, e sua cabeça girava com perguntas que pareciam não ter resposta.
A mensagem no celular ainda estava lá. Sem nome, sem foto, só aquelas palavras frias que pareciam saber mais sobre ela do que ela mesma.
“Não confie em tudo que vê, Taylane.”
Ela tentou contar às amigas, mas algo a impediu. Era como se, se ela dissesse em voz alta, tudo ficasse mais real... mais perigoso.
No primeiro tempo, todas as meninas continuavam falando de Mateus.
Era como se o colégio tivesse esquecido dos outros professores.
Até as mais quietas pareciam animadas com a aula de Educação Física que ia rolar naquele dia.
Taylane
Já reparou que ninguém sabe quase nada sobre ele?
(Taylane comentou com Jéssica no caminho pra quadra)
Taylane
Tipo... ninguém conhece de onde ele veio, quando ele chegou, se ele já deu aula em outro lugar...
Jéssica pensou por um momento.
Jéssica
Nossa... agora que você falou, é mesmo. Nem a diretora comentou muita coisa. Só disse que ele era qualificado e foi recomendado.
Taylane
Por quem? (Taylane murmurou mais pra si do que pra amiga)
A aula começou com Mateus dando instruções simples, mas o jeito que ele se movia... era estranho.
Quase ensaiado. Como se já tivesse feito aquilo cem vezes. Cada palavra, cada gesto, parecia déjà vu.
E Taylane sentia, mais uma vez, aquele arrepio percorrendo sua espinha.
Durante a aula, enquanto todos corriam em volta da quadra, ela se aproximou discretamente da sala da coordenação. Ninguém por perto.
Empurrou a porta com cuidado, entrou, e foi direto até o armário onde os arquivos dos professores ficavam guardados.
Procurou rápido. Nada de ficha do professor Mateus. Nenhum papel. Nenhuma foto. Era como se ele tivesse surgido do nada.
De repente, ouviu passos no corredor.
Fechou a gaveta num pulo, saiu pela porta dos fundos e correu de volta à quadra, o coração batendo acelerado.
Mais tarde, naquele mesmo dia, encontrou um antigo faxineiro da escola no portão.
Um senhor simpático que trabalhava lá há anos.
Taylane
O senhor sabe algo sobre o professor Mateus? (ela perguntou, tentando soar casual)
Bernardo (faxineiro)
Professor Mateus? Qual deles?
Taylane
— O novo, de Educação Física. Alto, sério, bonito....
O velho empalideceu um pouco.
Bernardo (faxineiro)
Esse nome, essas características... Se for o Mateus que eu estou pensando...
Bernardo (faxineiro)
Já ouvi antes. Mas não agora. Há muitos anos. Em outra escola. Tinha um professor com esse nome... e um monte de história estranha envolvendo ele.
Taylane sentiu o estômago afundar.
Taylane
Que tipo de história?
O velho olhou ao redor, como se tivesse medo de ser ouvido.
Bernardo (faxineiro)
Alunos que diziam ver ele nos sonhos...
Bernardo (faxineiro)
Coisas que se repetiam. E... uma menina que desapareceu. Diziam que ela sabia demais.
Ele a encarou por um segundo.
Bernardo (faxineiro)
Só... toma cuidado, menina. Tem coisa que é melhor não cutucar.
E pela primeira vez, teve certeza de que o que estava vivendo... não era coincidência.
Comments