Cap 2
A música já podia ser ouvida do final da rua.
A festa estava lotada, luzes coloridas piscavam, e o ar parecia mais quente do que o normal, não só pela aglomeração, mas por uma energia estranha, quase como eletricidade pairando no ambiente.
Taylane suspirou, observando a movimentação ao redor.
Taylane
Isso aqui tá mais cheio do que eu esperava... (murmurou)
Camila
É porque a galera do colégio vizinho também veio (explicou Camila, animada) Vai ser histórico.
Taylane
Não tô achando isso uma boa ideia... (disse Taylane, mas seguiu as amigas mesmo assim)
Lá dentro, luzes baixas, risadas altas e o cheiro de bebida misturado com perfume barato criavam um clima abafado e caótico.
Taylane pegou um copo de refrigerante e se encostou numa parede, tentando não parecer deslocada.
Foi quando sentiu. Aquela sensação. Como se alguém a observasse.
Ela olhou ao redor, e então, seus olhos encontraram os dele.
Um homem parado no outro lado do salão de dança. Alto, de postura firme, vestindo uma jaqueta escura.
Ele não sorria, apenas a observava com uma intensidade desconcertante.
Seus olhos tinham algo... antigo. Como se pertencessem a alguém que já viveu mais do que deveria.
Taylane
Quem é aquele ali? (sussurrou para Jéssica, sem tirar os olhos dele)
Jéssica olhou, mas não viu ninguém.
Ela piscou. O homem não estava mais lá.
Taylane
Tá brincando com a minha cara (murmurou, franzindo o cenho)
Jéssica
Talvez fosse o calor, ou a luz piscando... ou só a paranoia de estar numa festa cheia de gente estranha.
Taylane deu de ombros, mas ainda sentia aquele arrepio na nuca.
E foi só ao virar um corredor, mais tarde naquela noite, tentando achar um banheiro, que ela deu de cara com ele de novo.
Mateus
Procurando algo? (a voz dele era baixa, quase sussurrada, mas carregava um peso inexplicável)
Taylane parou. Ficou alguns segundos encarando-o.
Taylane
Um banheiro, na verdade (respondeu, tentando parecer natural, mas seu coração batia rápido demais)
Ele a encarou como se a conhecesse.
Mateus
Final do corredor. Porta da esquerda. (Ele indicou com a cabeça, mas não se moveu)
Taylane
Valeu... (Ela hesitou) Eu te vi mais cedo. Você tava me olhando.
Ele arqueou uma sobrancelha, um leve sorriso nos lábios.
Mateus
Talvez você só tenha sentido que eu estava.
Taylane
Isso é bem esquisito (disse ela, tentando rir)
Ele inclinou a cabeça levemente.
Mateus
Esquisito costuma ser real. As pessoas só não querem encarar.
Antes que ela pudesse perguntar o que aquilo queria dizer, uma galera barulhenta surgiu, fazendo Taylane desviar o olhar por um segundo.
Quando olhou de novo, ele já não estava mais ali. De novo.
Mas dessa vez, ela não achou que fosse coincidência.
Ela tentou esquecer. Dançou um pouco, riu com as amigas, fingiu que aquele olhar não tinha deixado algo vibrando dentro dela.
Mas por dentro, algo a incomodava. Como se tivesse sido tocada sem ser encostada
Já passava das três da manhã quando elas decidiram ir embora.
O caminho de volta foi tranquilo, com Camila cochilando no banco de trás e Jéssica cantarolando alguma música baixinha.
Mas Taylane estava em silêncio, encarando a janela, vendo o mundo passar embaçado.
Quando chegou em casa, tomou um banho rápido e se jogou na cama, mas demorou a pegar no sono. E quando finalmente dormiu… sonhou com aquele homem.
Estavam na escola. Ela no pátio, ele no alto da arquibancada do ginásio, olhando pra ela. A escola estava vazia, silenciosa demais. E havia uma névoa estranha em volta dos dois.
— Você não deveria estar aqui — ele dizia. Mas não com raiva. Com dor.
Antes que ela conseguisse responder, acordou assustada, o despertador tocando sem piedade. Primeiro dia de aula. Terceiro ano... de novo.
Taylane se arrumou sem muita pressa.
Ela desce as escadas e pega uma maçã e saí de casa
Quando chegou na escola, logo encontrou Camila e Jéssica no portão. As duas pareciam mais animadas que ela.
Camila
Pronta pra reviver tudo de novo? (brincou Camila)
Taylane
Engraçadinha (resmungou Taylane, revirando os olhos)
Elas caminharam até a quadra, onde a diretora faria uma apresentação de boas-vindas. Ao entrar, Taylane congelou.
Ali, no meio da quadra... com uma prancheta na mão e aquele mesmo olhar da festa... estava ele.
O homem da festa. O homem do sonho.
Mateus
Bom dia a todos (disse ele com a voz firme) Meu nome é Mateus. E a partir de hoje, sou o novo professor de Educação Física de vocês.
O coração de Taylane quase parou.
Taylane
*Não... Não pode ser* (pensando)
E, por algum motivo, ele a olhou como se soubesse exatamente quem ela era.
E pior... como se já tivesse conhecido ela antes. Muitas vezes antes.
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