Capítulo 4 – O Guerreiro do Mundo Três

O frio cortava o ar e Melina estava ajoelhada, ofegante. Seu corpo mal se mantinha de pé. As feridas abertas, o braço quebrado, as costelas doendo – até respirar era uma tarefa árdua. E como se a Dungeon quisesse testar ainda mais sua força, a neve começou a cair suavemente sobre ela.

Passos ecoaram atrás da garota. Um homem alto se aproximava, seu olhar vermelho como sangue, exalando uma aura esmagadora que quase a empurrava ao chão de novo.

— Humana, não vá para o vilarejo — disse ele, com a voz firme. — Aquele não é um vilarejo humano. É um vilarejo de monstros superiores. É pequeno, sim, mas entrar lá seria morte certa.

Ele se aproximou, farejando o ar. Seu olhar de predador percorreu o corpo ferido de Melina.

— Que cheiro horrível é esse? — Ele a cheirou diretamente. — Você precisa urgentemente de um banho.

Sem dizer mais nada, deu-lhe as costas e caminhou até o cadáver do lagarto de cauda vermelha. Agachou-se e começou a cutucar o corpo do monstro, examinando-o.

Melina se cheirou, fez careta. Desde que entrara na Dungeon não tomava banho. A constatação a deixou ainda mais desconfortável.

— Quem é você? — perguntou, a voz fraca.

— Darius — respondeu ele. — Guerreiro mestre, do terceiro mundo.

"Então ele é um humano... de outra Terra?" pensou Melina. Um sorriso involuntário se formou em seu rosto. Pela primeira vez, sentiu-se segura. E, com isso, o cansaço venceu. Seus olhos pesaram e o mundo se apagou.

— Que humana imprudente... — resmungou Darius. — Dormir assim? Bom, vou levá-la.

Ele olhou para o cadáver do lagarto.

— Ela parece gostar de comer tudo que mata... então o lagarto vai junto.

...

Lembranças. Melina corria por um parque ensolarado, gargalhando enquanto sua mãe a perseguia. A mulher a pegou no colo e sorriu:

— Existe um lugar mágico, com pessoas fantásticas. Com elas, você vive aventuras indescritíveis. E quando você chega no topo... pode fazer um pedido a Deus. Qualquer pedido.

— Mãe, o que você pediria?

Sua mãe sorriu e cochichou em seu ouvido. As palavras eram suaves como o vento.

...

Melina despertou. A lareira crepitava, o calor aquecia o ambiente e seus ferimentos estavam enfaixados com cuidado. Estava em uma cabana simples, mas acolhedora. Ao lado da fogueira, Darius mexia uma caldeira.

— Obrigada por me ajudar... Daeirus.

— É Darius — corrigiu ele, sem tirar os olhos da comida. — E de nada.

— Eu sou Melina. Da Terra Quatro.

— Entendi. Já vi alguns humanos da sua terra nos andares superiores, como em Antares, no quarto mundo.

— Você já foi até Antares? Que legal! — sorriu empolgada.

Darius serviu um chá em uma caneca e entregou a ela.

— Feito com plantas medicinais. Vai aliviar a dor.

Ela bebeu. Uma notificação apareceu.

Sistema: Você digeriu plantas com água. O efeito Comedor de Mana foi ativado.

Melina pensou consigo mesma: "Mesmo com as plantas na água, a habilidade ativou..."

— Então, Darius... esses olhos vermelhos, são da sua terra?

— Não. É uma característica do meu clã.

— Ah... assim... — Ela continuou bebendo o chá, sem jeito.

— Você já chegou ao limite do seu corpo nesse ecossistema — disse Darius. — Infelizmente, seu corpo ainda é fraco. A mana deste mundo está te envenenando. Volte para Apex, recupere estamina e força, depois retorne. Posso te levar até um portal de descida para Atreus.

Melina cuspiu o chá.

— Atreus!? Então estou em Ares!?

— Sim. Ares, o terceiro mundo. Você não lembra de como chegou aqui?

— Eu... eu só acordei e já estava aqui.

— Vi um portal se abrindo — explicou ele. — Era um portal de subida. Não era fixo. Um morcego superior voltava para Ares e trouxe cadáveres humanos. Vi você comendo insetos... e vi suas lutas contra a centopeia e o lagarto.

— E por que não me ajudou?!

— Porque você dava conta deles.

— Então por que apareceu no final?

— Porque você estava indo em direção ao vilarejo.

— Ah, é. O vilarejo... O que tem lá?

— Aquele é um vilarejo de orcs superiores. De alto nível.

Melina se arrepiou só de ouvir o nome.

— Se um dia você ficar forte e voltar para Ares, prometo caçar alguns orcs com você.

Melina olhou de lado, pensativa: "Eita... por que ele acha que quero isso? Cruz credo."

Darius lhe entregou um saco com pedaços do lagarto.

— Leve isso. É seu.

...

Pouco tempo depois, chegaram ao portal de descida. Darius lhe entregou um mapa.

— Este é o mapa de Ares. Não posso te entregar o de Atreus, nossos mundos são diferentes.

Melina respirou fundo. Estava pronta para voltar, para sobreviver... e, um dia, retornar mais forte.

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