Verdades e Feridas

A manhã amanheceu cinzenta, e o silêncio no apartamento de Enzo parecia mais pesado do que na noite anterior. Isabela despertou confusa, o corpo tenso, como se não tivesse descansado. A noite anterior ainda pulsava em sua mente como um sonho estranho — ou um pesadelo real. Estava envolvida com um homem perigoso que mal conhecia. E, pior, estava envolvida em algo que claramente era maior do que ela.

Caminhou até a sala com passos leves, os olhos atentos. Encontrou Enzo sentado na poltrona perto da janela, olhando a cidade silenciosamente. Um copo de uísque quase intocado repousava ao seu lado, e ele parecia imerso em pensamentos distantes.

— Bom dia — disse ela, num fio de voz.

Ele virou o rosto devagar. O olhar estava cansado, mas não hostil.

— Dormiu bem?

Ela hesitou antes de responder. — Suficiente para ainda me perguntar o que estou fazendo aqui.

Enzo não respondeu de imediato. Apenas encarou o horizonte antes de se levantar.

— Você está aqui porque ontem viu algo que não devia. Porque agora faz parte de uma cadeia de acontecimentos que pode te custar mais do que imagina. — Ele fez uma pausa. — E porque eu... não quis deixá-la sozinha.

Isabela cruzou os braços, sentindo o coração acelerar. — Isso não é justo. Você me jogou nesse mundo de repente. Um dia eu estava dançando num baile, e no outro estou trancada num apartamento com alguém que carrega armas como se fosse carteira.

Enzo arqueou uma sobrancelha, como se esperasse essa reação. Ele se aproximou, mas manteve uma distância respeitosa.

— Está certa. Mas também não posso mudar o que aconteceu. A única coisa que posso fazer agora... é garantir que nada te aconteça.

Ela respirou fundo. Ainda não sabia se confiava nele. Na verdade, sabia que não confiava. Mas havia algo em sua postura — no modo como evitava seus olhos, como sua voz ficava baixa quando falava com ela — que a fazia hesitar.

— Ontem... você disse que perdeu muita coisa — ela comentou, sentando-se no sofá. — Quem você perdeu?

Enzo se manteve em silêncio por alguns segundos.

— Minha mãe. Meu irmão. Meu pai foi assassinado quando eu tinha dezessete. Desde então, foi guerra atrás de guerra. Perdi muita gente.

Isabela sentiu um aperto no peito. Ainda assim, não sabia se isso justificava tudo. O que ele fazia, o que representava.

— E agora? Vai me manter aqui até quando?

— Até eu ter certeza que está segura. E até que eu descubra se aquele ataque de ontem foi realmente direcionado a mim... ou a você.

Ela arregalou os olhos. — A mim? Por quê?

Enzo apertou os lábios, como se tivesse falado demais. — Ainda não sei. Mas vou descobrir.

O resto da manhã seguiu num silêncio desconfortável. Isabela tentou se distrair com livros que encontrou em uma prateleira — a maioria sobre história da arte e literatura italiana. Curioso. Não esperava encontrar aquele tipo de acervo ali.

No início da tarde, Enzo precisou sair para resolver questões pessoais. Antes de ir, deixou um celular com ela e um número gravado.

— Qualquer coisa, liga. Só esse número.

Ela assentiu, e ele partiu.

Sozinha, Isabela andou pelo apartamento, explorando com mais calma. Parou diante de uma estante de fotografias em preto e branco. Em uma delas, um homem e uma mulher sorriam segurando uma criança. No verso, uma data antiga.

Ela virou a foto com curiosidade. O rosto da mulher... havia algo familiar. Mas talvez fosse apenas o momento, a tensão.

Deixou a foto de lado e foi até a varanda. O vento gelado arrepiava seus braços, mas ela não se moveu. Estava presa naquela confusão. Um homem desconhecido, com um passado sombrio, agora parte de sua vida, mesmo que ela não soubesse por quanto tempo.

Talvez o mais estranho fosse o fato de que, apesar de tudo, ela ainda queria entender quem ele era de verdade. E por quê.

Gente tô passando essa história de um caderno meu que eu tinha ideias de escrever e colocava em um caderno aí eu resolvir passar tudo pro mundo digital tô torcendo que gostem da história

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