CAPÍTULO 4

    Aquela manhã parecia tensa demais para pessoas comuns, mas para mim era apenas mais um dia.

Eu me chamo Scarlett Cole, a nova babá de Nicole Martinéz. E isso... é tudo o que precisam saber sobre mim.

    Saí do escritório do senhor Martinéz com o corpo ereto e a mente afiada, quando uma voz suave, inocente e surpreendentemente doce cortou o ar, como um raio de sol invadindo uma tempestade.

— Scarlett? Você tá aqui? — chamou Nicole, com os olhos brilhando e um sorriso tão puro que era quase impossível de encarar sem sentir algo estremecer por dentro.

Ela correu até mim com os bracinhos estendidos, e naquele instante, eu senti como se já a conhecesse há anos...

— Oi, princesa... — murmurei, ajoelhando-me para abraçá-la com força. — Você não imagina o quanto eu queria te ver de novo. Parece que o universo decidiu juntar a gente de novo, não é?

Ela se aninhou em meus braços como se pertencesse ali. Como se já me conhecesse desde sempre. E, por um breve momento, o mundo pareceu calar.

— Você veio conversar com o meu papai? — perguntou ela, com os olhos arregalados de curiosidade, a voz suave misturada com aquele tom esperto de criança que vê mais do que deveria.

Antes que eu pudesse responder, uma voz firme, baixa e perigosa interrompeu o momento.

— Scarlett será sua babá, pequeña.

Virei lentamente o rosto, e lá estava ele.

Gabriel Martinéz, escorado na moldura da porta com o ombro apoiado, mãos nos bolsos e aquele olhar cortante de predador em repouso. Observando. Avaliando.

Nicole arregalou os olhos, como se a notícia fosse o maior presente de todos.

— É sério mesmo?! — exclamou, quase pulando de empolgação. — Você vai morar aqui? Comigo? De verdade?

— Sim, Cariño (querida). — falei com ternura, acariciando suavemente sua bochecha corada. — Vamos passar muito tempo juntas. Prometo cuidar de você com todo o carinho do mundo.

Ela deu pulinhos de alegria, os cabelos bagunçados voando com o movimento, rindo alto como se tivesse acabado de ganhar um castelo inteiro.

— Oba! Oba! Isso é melhor que panqueca com carinha feliz!

Gabriel esboçou um meio sorriso discreto, quase imperceptível.

— Vou mandar um dos seguranças buscar suas coisas. — disse, já sacando o celular do bolso.

— Não precisa, senhor Martinéz. — retruquei com o tom calmo, mas firme. — Consigo me virar sozinha. Está tudo organizado.

Ele levantou o olhar, com uma sobrancelha arqueada, e disse como quem não dá espaço para discussão:

— Não seja orgulhosa, señorita. — Girou o rosto para o lado e falou com autoridade para um dos homens ao lado da porta. — Antonio, leve dois seguranças com você. Quero tudo da señorita Scarlett na mansão em menos de uma hora. Tratem isso como prioridade. Nada de erros.

O segurança assentiu e saiu com passos firmes, já no celular para organizar tudo. Eu apenas observei, em silêncio. Gabriel Martinéz parecia ser o tipo de homem que não pedia. Ele mandava. E quem ousasse questionar, não fazia isso duas vezes.

Abaixei-me mais uma vez diante de Nicole, tocando levemente seus joelhos com a ponta dos dedos.

— Bom... então vou indo agora, pequeña. — sorri. — Mas volto ainda hoje. E prometo que a gente vai se divertir bastante. Vamos brincar, rir, correr... e talvez até fazer uma bagunça daquelas, o que acha?

Ela riu e bateu palminhas animada.

— Promete mesmo? — disse, com os olhos ansiosos.

— Juro pela lua e pelas estrelas. — pisquei para ela, antes de abrir a bolsa. — Ah, e antes que eu esqueça...

De dentro do zíper, retirei um pequeno embrulho de papel de seda. Ao desfazê-lo, revelei um delicado globo de neve com uma bailarina cor-de-rosa girando no centro, cercada de flocos brilhantes.

— Comprei isso no dia em que te conheci... — murmurei, estendendo para ela. — Não sabia ainda que seria sua babá, mas algo me dizia que esse presente tinha uma dona muito especial. Era seu desde o começo.

Nicole pegou o globo com as duas mãos, os olhos brilhando como se tivesse recebido um tesouro.

— É... é lindo... — disse, com a voz embargada de emoção. — Obrigada, Scarlett...

E então ela fez algo que me desmontou: me abraçou de novo. Com força. Com confiança. Com o coração inteiro.

Atrás dela, Gabriel continuava parado, em silêncio. Mas eu senti. O olhar dele cravado em mim. Estudando. Medindo. Curioso talvez...

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