Clara se sentia deslocada ali. A casa era grande demais, silenciosa demais. O tipo de silêncio que fazia questão de lembrar que ela não pertencia àquele lugar.
Ela passava um pano no balcão da cozinha quando ouviu passos firmes atrás de si. Não precisou se virar para saber quem era. O cheiro amadeirado do perfume dele já denunciava.
— Vai se acostumar — disse ele, seco.
Ela se virou devagar, encontrando aquele olhar intenso que parecia atravessar qualquer defesa. Misterioso, como se escondesse mil segredos. Arrogante, como se o mundo devesse algo a ele.
— Não estou aqui pra me acostumar. Só pra trabalhar — respondeu ela, com o queixo erguido.
Ele sorriu de lado. Não um sorriso simpático, mas um quase desafio. Como se dissesse “vamos ver até onde vai essa pose”.
— Você tem resposta pra tudo, hein? — Ele se aproximou, parando perto demais. Clara sentiu a pele arrepiar, mas não deu o gosto da reação.
— Só quando falam comigo como se eu fosse um móvel da casa.
Por um segundo, algo mudou no olhar dele. Como se não esperasse aquela firmeza. Mas logo o tom voltou ao normal.
— Essa casa tem regras. Espero que saiba segui-las.
— E eu espero que saiba tratá-la como um lar. Nem que seja só por um tempo.
Silêncio. Um duelo mudo entre dois mundos opostos. Ele, acostumado ao controle. Ela, determinada a não ser controlada.
O jogo tinha começado.
Clara terminou de limpar a cozinha e foi até o quartinho dos fundos, onde ficaria hospedada. Era pequeno, mas limpo. Simples, como tudo o que ela conhecia. Sentou-se na cama e soltou um suspiro. Estava ali há poucas horas e já sentia que aquele homem ia ser um problema.
Um problema... perigoso.
Mas o pior era admitir que havia algo nele que a atraía. Não só o físico — embora isso fosse inegável —, mas a maneira como ele a olhava, como se enxergasse mais do que devia. Como se soubesse que por trás daquela fachada desafiadora, existia uma garota cansada de lutar sozinha.
Ela não queria que ele visse isso.
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Mais tarde, já escurecendo, Clara saiu para regar o jardim, tarefa simples que o senhor da casa insistira em manter na rotina dela. A água caía silenciosa sobre as flores quando ouviu novamente os passos. Sempre os passos dele.
— Não vai fugir toda vez que me ver, vai? — ele perguntou, encostando-se ao batente da porta. Estava de camiseta preta, braços cruzados, o olhar mais leve do que antes.
— Se eu fugisse, já estaria bem longe daqui — respondeu sem olhar pra ele.
— Então por que ficou? — A pergunta veio rápida, direta.
Clara parou de regar por um instante, mantendo os olhos nas flores.
— Porque eu preciso. E porque, diferente de você, eu não tenho o luxo de escolher.
Ele não respondeu. Só a observou em silêncio por alguns segundos, como se visse nela algo que nem ela mesma via.
Ela voltou a regar as flores, como se a conversa não tivesse acontecido. Mas por dentro, sentia o coração acelerar.
E ele também.
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Atualizado até capítulo 37
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