O convite (Aaron)

Aaron se avaliou no terno azul escuro.

    Estava bonito, elegante… talvez sério demais. Droga, ele iria para um Baile de um Colégio, não uma reunião de negócios de uma empresa.

    O Baile de Natal estava cada vez mais próximo e ele pretendia estar vestido bem o suficiente para deixar não só Linda, mas qualquer garota sem ar. Sem contar que depois dessa festa, era possível que os boatos sobre ele e Linda ficassem mais sérios, oficializando um relacionamento entre eles.

    – Acho que o outro cinza combinou mais. – comentou Bruce com o cenho franzido.

    – É, talvez. – disse Aaron já desfazendo os botões – Você vai levar qual?

    – O azul claro.

    – Bruce, você não vai envergonhar minha irmã na noite do Baile. Leve o verde musgo.

    – A cor favorita da Elisa é azul claro.

    – Usar a cor favorita dela não vai fazer ela gostar mais de você.

    – Já fez sua escolha, senhor Bijon? – perguntou o atendente de meia idade e sorriso gentil. Aaron assentiu, tirando o terno e vestindo suas roupas anteriores. Essa epóca em Parade ventava demais, então um conjunto de moletom preto parecia perfeito para ir em qualquer lugar.

    – Embale o cinza, por favor.

    – E você, senhor Gehoor?

    – Quero esse verde musgo, mas você tem um tamanho maior de terno? Acho que até o Baile eu vou crescer três centímetros nos ombros.

    – Claro. – disse o atendente pegando os ternos – Precisam de mais alguma coisa? Se aceitam uma sugestão, nossa nova coleção de sapatos de festa chegou ontem a tarde. Temos diversos modelos que combinam perfeitamente com os ternos. Gostariam de dar uma olhada?

    – Eu quero! – Bruce se colocou rápido de pé – Aaron, vamos?

    O celular de Aaron vibrou no bolso. Seu coração deu um salto ao ver o nome de Linda na tela.

    – Hm… Pode ir olhar, eu te espero no caixa. – ele viu o dar de ombros de Bruce e se afastou para um local menos movimentado da alfaiataria. Não que uma alfaiataria estivesse lotada ainda, com certeza o movimento ficaria maior faltando dias para o Baile. Atendeu o telefone sentindo o leve suor de nervosismo em suas mãos – Oi, Linda, sentiu saudade?

    – Oi, Aaron. – ele notou o tom de voz baixo dela, isso não era muito comum.

    – Está tudo bem? Ansiosa para o Baile?

    –  Bem… era sobre isso que eu gostaria de falar com você.

    – Aconteceu alguma coisa? – ele ficou sério no mesmo instante, escorando na parede.

    Linda ficou alguns segundos em silêncio, e esses segundos foram angustiantes para Aaron.

    – Eu… sinto muito, não vou poder ir com você ao Baile. Eu vou fazer uma viagem com meus pais, vamos partir logo após minha apresentação.

Desta vez Aaron quem ficou em silêncio.

    Talvez ele estivesse ouvindo errado. A garota que ficou trocando mensagens com ele até tarde da noite e lhe deu beijos quentes todas as vezes que se encontravam estava mesmo cancelando um compromisso com ele? Isso não seria um problema se ele não suspeitasse que Linda estava mentindo.

    – Isso é sério mesmo?

    – Sim, é. – ela disse devagar.

    – Então não vai se importar se eu for com outra garota?

    – Eu… – ficou calada na linha.

    – Linda, fale a verdade para mim. Eu odiaria começar nosso relacionamento com mentiras.

    – Nosso…? – outra vez o silêncio – Eu falei a verdade, por favor. Até mais.

    E desligou.

    Aaron respirou fundo repassando o que acabou de acontecer. Ele tentou retornar a ligação para Linda uma vez, duas, cinco. Não foi só ignorado como as ligações começaram a cair na caixa postal.

    Algo de errado não estava certo.

    Aaron não tinha dúvidas que algo estava acontecendo, mas não sabia o que e não fazia ideia do por quê. Ele estava se dando bem demais com ela para que faltando apenas duas semanas para o Baile tudo fosse arruinado por uma viagem repentina.

    Sem mais o que fazer, ele foi ao caixa esperar por Bruce, seu amigo podia lhe dizer algo sobre essa situação.

    O sino da porta da alfaiataria soou cortando um pouco seus pensamentos. Aaron não se virou para ver quem foi o cliente que entrou, seus olhos já lhe davam uma boa percepção de quem era.

    Era um garota e parou ao lado dele.

    Ela tinha cabelos escuros acima das orelhas, olhos verdes e roupas demais no corpo. Calista Haut, ele já havia ouvido falar dela. Todos conheciam a esquisita da Família mais pobre das Elites de Parade, ele mesmo já fez muitas piadas sobre ela.

    – Olá, Calista. – disse a atendente com um sorriso sincero – Como está o pequeno Alekos?

    – Olá, Sra. Grazi. Ele está crescendo muito e esse é o motivo de eu ter vindo aqui. – tirou um pacote de dentro de sua bolsa, os lábios apertados em cada movimento – Gostaria que a bainha da calça do uniforme fosse aumentada sete centímetros. E a manga da blusa, cinco.

    – Claro.

    – Se importa se eu pagar quando vier buscar?

    – Sem problemas. Eu só vou preparar um recibo para você poder fazer a retirada.

    Aaron notou o sorriso forçado de Calista.

    Ela sempre parecia tensa ou muito avoada perto das pessoas. Ele já havia ouvido falar que ela tinha um problema de pele que a impedia de tocar nas pessoas, mas nunca chegou a conversar com ninguém para confirmar o boato. O máximo que sabia era que ela vivia com o irmão pequeno numa casa pobre sem futuro. Isso despertou nele certa curiosidade. Se as coisas continuassem assim, a Família Haut não iria durar muito tempo.

    – Está me deixando desconfortável. Consigo sentir seus olhos em mim desde que entrei.

    Isso o pegou de surpresa.

    – Sinto muito, com meus olhos é inevitável não olhar para tudo. – ela não respondeu, apenas olhou incomodada para o chão, corando um pouco – Então, você vai ao Baile? – ele perguntou não tão interessado. Eles estudavam no mesmo Colégio, afinal.

    – É, sim… eu vou. Você vai?

    – Vou. Estava olhando meu terno agora.

    – É, faz sentido.

    Então ele realmente olhou para ela. Notou que as bochechas estavam coradas, os lábios franzidos e o olhar fixo no balcão. Sua postura era um pouco curvada, claramente desconfortável. Ela era bonita desde quando? Mesmo que tivesse bons olhos, Aaron não se lembrava de Calista ter a pele aveludada e delicada. Não havia marca alguma em seu rosto. Nenhuma espinha, somente leves olheiras.

    – Você já tem par? – ele perguntou não conseguindo desviar os olhos.

    – E-eu… não.

    – Calista Haut, certo? – ela assentiu surpresa – Não ouvimos falar muito sobre sua Família.

    – Somos muito reservados.

    – Isso não te preocupa? Sem boas conexões, sua Família não terá bons acordos. Todos sabem que você tem problema de pele. Se não consegue sequer ser tocada por alguém, como vai continuar o legado da sua Família? Mesmo que seu irmão cresça, há boatos que seu pai é um homem endividado e os devedores estão querendo seu irmão como prêmio. Então como sua Família vai permanecer?

    Aaron notou os ombros encolhidos dela, as mãos tremendo agora.

    – O que está insinuando?

    – Vocês são inúteis. – disse simplesmente – Não me leve a mal, estou apenas apresentando fatos. Vocês nunca estão presentes nas reuniões, não estão no meio dos eventos e suas habilidades não são proveitosas. Vocês sequer têm dinheiro. Por isso, quer ir ao Baile comigo? – ele notou os olhos de Calista ficarem confusos.

    – O que?! Está mesmo me convidando depois de humilhar minha Família?

    – Eu não humilhei ninguém, só falei a verdade. Você devia reconhecer que ser minha parceira no Baile daria  muito crédito aos Haut.

    – Pensei que já tivesse par.

    – Houve um imprevisto, então estou sem ninguém no momento. Você quer ir ao Baile comigo ou não?

    Aaron reparou em como ela pareceu relutar um pouco, mas finalmente assentiu.

    – Claro, seria bom.

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