Pele de Papel (Calista)

Perto das cinco horas, o silêncio da lanchonete foi preenchido pelas risadas animadas das garotas que acabaram de sair do treino. Elas eram líderes de torcida e estavam treinando muito para a apresentação de fim de ano. Era a última apresentação da vida delas como animadoras antes de se formarem, e isso talvez as deixava mais empolgadas que qualquer outra coisa. Apesar do frio, elas usavam shorts justos e tops de yoga.

Calista as invejou por isso.

Com o corpo praticamente todo coberto com roupas de frio, ela ainda conseguia sentir o ar gélido contra sua pele. Droga de pele. Sempre parecia sensível demais. Queria ser um pouco mais como aquelas líderes de torcidas graciosas que não tinham a mínima vergonha ou fragilidade pelo simples toque.

Ela assoprou o café quente mais algumas vezes antes de levá-lo à boca. Queimou. Ela o afastou chateada. Precisava de mais bons minutos para que a temperatura ficasse aceitável.

Como cachorros sentindo o cheiro de cadelas no cio, um grupo de rapazes do time de futebol entraram fazendo muito barulho. Calista os ignorou, eles a ignoraram também.

Ela tentou focar sua atenção no cardápio do lugar, mesmo que não quisesse pedir nada. Ela só queria um momento para si.

Então ela o viu entrar na lanchonete.

Aaron Bijon.

Ele era alto, loiro e tinha um sorriso que fazia as garotas quase se dobrarem aos seus pés. Sempre de óculos escuros, ele parecia confiante e inalcançável. Ao lado dele, estava seu melhor amigo, Brendon, ou seria Bruce? Algo com B, ela achava. Ele tinha cabelos cacheados e escuros, menor que Aaron e mais tímido, ainda assim tinha certo charme com seus óculos quadrados, piercings nas orelhas e fones de ouvido.

Não demorou para que Aaron se aproximasse das garotas, de uma na verdade. Linda Taste, a capitã do time. Ele sorria enquanto Linda se deleitava com as coisas que ele dizia.

Calista observou a interação quieta, tentando não parecer muito estranha por encarar demais.

Eles faziam um casal lindo. Na verdade, todos eram lindos. Todos eles tinham vidas boas. Eles eram acessíveis uns para os outros. Enquanto ela…

– Saia. – disse a garçonete ao lado dela.

– Como? – ela perguntou baixo, assustada.

– Você está aqui há trinta minutos, só pediu um café e a lanchonete está começando a lotar. Se não for pedir mais nada, por favor, saia.

Calista sentiu o rosto ficando quente, os olhos inquietos para o caso de alguém ter ouvido. Ela viu que o amigo de Aaron a olhava segurando o riso.

– Ãh, claro… Sinto muito. – ela se levantou, indo ao caixa para pagar pelo café. Durante o trajeto, sem querer uma das líderes de torcida esbarrou nela. Foi um toque leve, quase imperceptível, mas Calista se encolheu como se tivesse levado um soco.

– O que…? Eu em, estranha. – disse a líder de torcida.

Calista tentou ignorar os olhares que estavam sob ela. Que ideia estúpida de ter saído para uma lanchonete. Ela devia ter ficado em casa. Agora as pessoas estavam olhando para ela, não estavam? Eles sabiam sobre sua pele, não sabiam? Eles sabiam que ela era um fracasso…

Ela saiu apressada, mesmo que o simples toque na maçaneta da porta fosse como formigas picando sua pele.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!