O sol da tarde ainda batia forte sobre as calçadas de Pine Plains, mas, para Sophie, o mundo parecia girar devagar e em silêncio. Seus passos eram curtos, hesitantes, como se cada centímetro longe daquela casa fosse um alívio e, ao mesmo tempo, uma confusão. A mão pequena tremia dentro da de Clara, e seus olhos, normalmente atentos e cheios de vida, estavam agora arregalados, úmidos, tentando entender o que acabara de acontecer.
Clara percebeu. Percebeu tudo.
Olhou para a filha com cuidado, abaixando-se um pouco para ficar na altura dos seus olhos. O rosto de Sophie ainda estava pálido, o peito subia e descia depressa, como se tivesse corrido uma maratona. A respiração era curta, trêmula. Seu coração, batendo tão forte, parecia gritar para ser ouvido.
— “Filha...” — Clara disse com uma voz mansa, mas firme. — “Olha pra mim...”
Sophie demorou a levantar os olhos. Quando finalmente o fez, havia neles um medo que Clara nunca tinha visto antes. Era um medo confuso, como se a própria menina ainda estivesse tentando dar nome ao que sentia.
— “Tá tudo bem agora. Eu tô aqui. Só eu e você, tá? Ele não tá aqui.” — Clara continuou, segurando as duas mãos da menina. — “Você pode me contar. Com toda a calma do mundo. Eu tô aqui pra te ouvir, Sophie.”
Sophie apertou os lábios e desviou o olhar. Seus ombros tremiam. Um nó se formava em sua garganta, impedindo que qualquer palavra saísse. Ela tentou falar, tentou mover os lábios, mas só saiu um sussurro rouco:
— “Eu... eu não sei...”
Clara não pressionou. Ajoelhou-se na calçada, ignorando quem passava, e envolveu a filha num abraço apertado, daqueles que só mãe sabe dar. Sophie chorou baixinho, tremendo nos braços da mãe.
— “Você não precisa entender agora. Nem precisa falar se não conseguir. Mas quero que saiba que você nunca está sozinha. Nunca. E se tem alguma coisa te machucando, por menor que pareça... eu vou estar aqui. Sempre.”
Sophie apenas assentiu com a cabeça, ainda em silêncio. Pela primeira vez, se permitiu sentir um pouco de segurança fora daquelas paredes que já não pareciam mais um lar.
Enquanto caminhavam juntas para longe de casa, Clara segurava firme a mão da filha. No fundo, uma dor começava a tomar forma. Ainda era uma dúvida, um sussurro. Mas mães sentem. E Clara sabia que aquela tarde havia mudado tudo.
O dia amanheceu calmo em Pine Plains. Os primeiros raios de sol entravam pela janela da cozinha, aquecendo suavemente a casa ainda silenciosa. Clara já estava de pé há algum tempo. Os movimentos na cozinha eram lentos, quase automáticos — como se mexer a colher no café e virar os pães na frigideira fosse sua forma de tentar manter a mente no lugar.
Sophie ainda dormia no quarto. Ou pelo menos fingia dormir.
Clara ajeitou a mesa com cuidado. Pôs duas xícaras, manteiga, geleia, ovos mexidos. Tudo como sempre fazia. Mas hoje, nada parecia como sempre.
Quando ouviu os passos pesados descendo as escadas, respirou fundo. Seu coração batia um pouco mais rápido, mas seu rosto estava sereno. Ela não gritou, não chamou. Esperou ele entrar na cozinha.
James apareceu com a camisa amassada e o cabelo bagunçado. Sentou-se à mesa sem muito entusiasmo, coçando o rosto com os dedos pesados.
— “Bom dia...” — ele murmurou.
Clara serviu o café sem responder. Depois sentou-se também, olhando diretamente para ele, e, num tom baixo, calmo, firme, disse:
— “James, eu preciso conversar com você.”
Ele levantou os olhos, ainda sonolento.
— “Sobre o quê?”
Ela hesitou por um segundo, mas não desviou o olhar. Sua voz saiu firme, sem raiva, mas carregada de dor.
— “Sobre a Sophie.”
James franziu o cenho.
— “O que tem ela?”
Clara engoliu seco.
— “Ontem... eu vi alguma coisa. Algo no jeito que ela saiu da sala. O medo no olhar dela. E... eu preciso te perguntar uma coisa, mesmo que doa.”
Ele ficou em silêncio.
— “Você... tem alguma má intenção com a minha filha, James?”
A frase ficou no ar como uma bomba prestes a explodir. Clara continuou:
— “Eu não tô aqui pra fazer escândalo. Nem pra brigar. Eu só preciso saber. Porque... se você tiver, por favor, me diga agora. Porque eu vou pedir o divórcio. Sem confusão. Mas eu não posso, não vou, ficar ao lado de alguém que machuque a minha filha. Ela é tudo o que eu tenho.”
James arregalou os olhos por um instante. Tentou rir, como se achasse absurdo, mas o riso morreu antes de nascer.
— “Clara... Você tá me acusando de quê?”
Ela o interrompeu com calma:
— “Eu tô te perguntando. Porque eu sou mãe. E meu instinto está me dizendo que tem algo errado. Eu não quero fingir que não vi. E muito menos me calar.”
O silêncio entre eles era quase sólido. James encarou a xícara de café, sem responder de imediato. Mas, naquele momento, o mais assustador para Clara não foi o que ele disse. Foi o que ele não disse.
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Atualizado até capítulo 110
Comments
Mara Melo
Já não gostei ,onde essa mulher está com a cabeça para tentar uma conversa civilizada com um assediador, ele já mostrou o que é ,o certo seria ela tirar a menina da casa e ir embora com a filha ,não fazer perguntas idiotas que ele não vai responder com verdades .
2025-04-27
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