Os dias pareciam passar com a suavidade de uma brisa suave que invade o campo no amanhecer. A rotina na casa de Clara e James era simples, mas tinha uma harmonia que, à primeira vista, poderia enganar qualquer um que a observasse. A casa, modesta e de aparência simples, era um refúgio para os três. Era lá que Sophie passava suas manhãs, com seus livros espalhados pelo chão, seus cadernos de anotações e seu universo de palavras, frases e histórias que ela devorava com avidez. Aos sete anos, Sophie já estava alfabetizada, uma habilidade que sua mãe a ensinou com paciência e amor, se dedicando a uma educação simples, mas significativa.
Clara, apesar de se sentir sobrecarregada com o trabalho e a responsabilidade de ser a cuidadora principal, sempre se orgulhou da inteligência de sua filha. Sophie gostava de ler livros sobre aventuras, mitologia, e até assuntos mais complicados para sua idade, mas sempre com uma curiosidade imensa que encantava sua mãe. Ela adorava ver a filha mergulhada nos livros, sem perceber que o mundo ao seu redor começava a mudar de uma forma que ela ainda não compreendia.
James, por sua vez, estava começando a mudar. Ele ainda era o homem protetor e atencioso que Clara conheceu, mas havia algo diferente em sua maneira de agir. Nos primeiros meses, a vida parecia estar se encaixando, mas logo as coisas começaram a se distorcer. Durante a manhã, enquanto Clara preparava o café e cuidava das tarefas da casa, James se sentava na mesa, lendo o jornal ou assistindo TV. Mas seu olhar, frequentemente, se voltava para Sophie, que estava absorta em seus livros ou brincando em algum canto.
Era algo sutil, quase imperceptível, mas Clara começava a notar. Os comentários de James sobre o crescimento de Sophie, sobre seu “corpo que já estava começando a ficar bonito” ou “como ela ia ser uma mulher linda quando crescesse”, começaram a deixá-la inquieta. Ela tentava se convencer de que eram apenas palavras ditas sem malícia, talvez apenas um homem que olhava a filha de forma natural, mas a sensação estranha não a deixava.
— "Sophie vai ser uma mulher bonita, Clara. Você viu o jeito que ela se comporta? Ela tem algo nela, uma elegância natural." — James disse certa vez, com um sorriso que Clara não soubera explicar.
Clara sorriu timidamente, mas no fundo, algo a incomodou. Ela tentava ignorar, pensando que poderia ser apenas a sua mente exagerando. Afinal, ele era o pai da criança agora, e deveria olhar para ela como qualquer pai olha para a filha.
Mas com o passar dos meses, os comportamentos de James começaram a se intensificar. Ele frequentemente dizia coisas como: "Sophie precisa começar a usar roupas mais bonitas. Ela está crescendo, e um dia vai precisar aprender a se comportar com os meninos." E quando ele falava sobre ela "crescer", seu tom de voz carregava algo mais. Era uma mistura de orgulho e... não se sabia bem o que mais.
Sophie, com seus olhos curiosos e inteligência aguçada, começava a perceber o que estava acontecendo. Ela não entendia completamente o que os adultos falavam entre si, mas sentia o desconforto no ar. Um olhar mais demorado de James para ela, uma palavra que ela não compreendia muito bem. E a mãe dela? Clara parecia cada vez mais distante, mas Sophie sabia que, no fundo, ela confiava em James. O padrasto sempre fora atencioso com ela, mas algo agora parecia estar fora do lugar.
Sophie adorava estudar. Ela gostava de aprender, de explorar o mundo que os livros lhe ofereciam. E, de alguma forma, isso fazia ela se sentir diferente. Ela percebia que, na escola, as outras crianças não tinham o mesmo interesse que ela pelos livros. Algumas vezes, suas amigas a chamavam de “nerd”, mas Sophie não ligava. Ela sabia que a inteligência era uma coisa que ninguém podia tirar dela. Sua mãe sempre lhe dizia: “Você tem um talento, Sophie. Nunca deixe ninguém te fazer pensar o contrário.”
Mas o que Sophie não sabia era que aquele “talento” seria o que a faria se distanciar de seu lar e até do próprio padrasto, que, aos poucos, começava a mostrar uma face que ela nunca imaginou.
Certa tarde, depois da escola, Sophie estava lendo em sua cama quando ouviu o som da porta da cozinha se fechando. James estava em casa. Ele sempre chegava mais cedo que Clara, que ainda estava no trabalho. Sophie não pensou duas vezes, guardou o livro e desceu para a sala. Quando entrou, encontrou James deitado no sofá, a TV ligada, mas sem realmente prestar atenção na tela.
— "O que você está lendo, Sophie?" — ele perguntou, virando a cabeça e a observando com um sorriso estranho.
— "Uma história sobre mitologia grega. Sabia que os deuses tinham muita inveja dos mortais?" — Sophie respondeu, orgulhosa de compartilhar o que havia aprendido.
James riu. Não era uma risada engraçada, mas uma risada que parecia vir de um lugar mais sombrio.
— "Eu aposto que você vai saber tudo sobre deuses e mortais, Sophie. Vai saber muito mais do que eu um dia. Você é esperta, menina." — James disse, com os olhos fixos nela de forma intensa.
Sophie não sabia por que, mas algo naquelas palavras fez com que um arrepio percorresse sua espinha. Ela sorriu, tentando ignorar a sensação estranha, e saiu de perto de James, indo para o jardim. O sol estava baixo no horizonte, e ela sentia uma paz momentânea enquanto olhava as flores que sua mãe cuidava com tanto carinho.
Clara, como sempre, estava no trabalho até tarde. E enquanto ela trabalhava para sustentar a família, a dinâmica de casa parecia mudar cada vez mais. Sophie, com seus olhos verdes e inteligentes, sentia que algo não estava certo. Algo estava prestes a acontecer, e ela não sabia como reagir.
Mas a vida seguia, e as verdades estavam começando a se revelar, embora Sophie ainda não estivesse preparada para enfrentá-las.
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Atualizado até capítulo 110
Comments
Mara Melo
ué, mas o que deu para entender ele é o pai biológico dela ,mas agora está sendo mostrado como padrasto ,por que ?
2025-04-27
1
Vivi
pai ou padrasto?????
2025-04-21
0