O silêncio pairou na cozinha, pesado e carregado de tensão. Bernardo observava o pai, esperando uma resposta, uma concessão, qualquer sinal de mudança de postura. Mas Josué apenas cruzou os braços, a expressão implacável.
Josué: Olha, eu estou cansado. Cansado dessa situação, cansado de toda essa discussão. Se Gabriel continuar assim, se ele não arrumar um emprego e parar de beber, eu vou colocá-lo para fora de casa. Simples assim. Não estou nem aí mais.
Bernardo sentiu um choque. A ameaça do pai era direta, brutal, e o atingiu em cheio. Ele sabia que Josué era um homem de palavra, e a possibilidade de Gabriel ser expulso de casa era real, e aterradora.
Bernardo: Pai, você não pode fazer isso! Expulsá-lo de casa só vai piorar as coisas. Você não pode simplesmente abandoná-lo.
Josué: Abandoná-lo? Eu estou tentando ajudá-lo há anos! Mas ele não quer ajuda! Ele prefere se afogar no álcool do que assumir a responsabilidade pela própria vida.
Bernardo: Mas pai, você não está tentando da maneira certa. Você está sendo duro demais. Não adianta só gritar e ameaçar. Isso só vai piorar a situação.
Josué: E o que você sugere então? Que eu banque as terapias e os tratamentos dele enquanto ele continua bebendo e destruindo tudo? Eu não sou um banco, Bernardo! Eu tenho limites.
Bernardo: Eu sei, pai. Mas expulsar ele de casa não é a solução. Por favor não desista dele.
Josué ficou em silêncio, a expressão dura.
Maria, que até então permanecera em silêncio, falou, a voz firme, apesar do tremor perceptível.
Maria: Josué, você não vai colocar o Gabriel para fora dessa casa. Se ele sair, eu saio também.
Josué olhou para dona Maria, surpreso. Ele não esperava essa reação. A firmeza em sua voz era algo que ele raramente via.
Josué: Maria… o que você está dizendo?
Maria: Estou dizendo que não vou permitir que você abandone nosso filho. Ele está doente, precisa de ajuda, e eu não vou abandoná-lo. Se você o expulsar, eu vou com ele. E se você não quiser que eu vá, então ele tem que ficar.
Um silêncio profundo se instalou na cozinha. Bernardo observava a cena, incrédulo. A mãe, normalmente tão submissa, demonstrava uma força e uma determinação surpreendentes. Josué parecia estar em choque, processando as palavras da esposa.
Josué: Maria… você está falando sério?
Dona Maria: Nunca estive tão séria na minha vida. Eu não vou deixar meu filho sozinho, à mercê. Eu vou lutar por ele, e se você não quiser me ajudar, então eu vou lutar sozinha. Mas eu não vou abandoná-lo.
Josué: (Suspirando) Eu… eu não sei o que dizer.
Dona Maria: Você não precisa dizer nada agora. Só precisa pensar. Pense no seu filho, Josué. Pense no quanto ele precisa de você, de nós. Pense em como podemos ajudá-lo, juntos.
A porta da cozinha se abriu e Yara entrou, soluçando, os olhos vermelhos e inchados. Ela se jogou em uma cadeira, deixando cair a bolsa ao lado.
Yara: Mãe… eu briguei com o Diogo… de novo… Ele… ele disse coisas horríveis…
Maria se aproximou de Yara, envolvendo-a em um abraço caloroso.
Maria: Calma, minha filha. Conta tudo para mim. Vamos resolver. Eu vou conversar com o Diogo.
Nesse momento, Josué, que estava sentado à mesa, interrompeu, a voz carregada de impaciência.
Josué: Olha só… mais um problema. Outra que não tem vergonha na cara, vive brigando com esse traste aí e corre para cá para chorar. Vai cuidar dos seus problemas, Yara!
Yara se afastou do abraço da mãe, os olhos cheios de lágrimas. Ela olhou para o pai, a voz tremendo.
Yara: Pai… como você pode falar assim? Eu estou sofrendo…
Josué: Sofrimento? Você se mete em brigas e depois vem aqui chorar no colo da sua mãe. Resolve seus problemas, Yara! Não venha me encher com suas lamúrias, daqui a pouco volta igual um cachorrinho.
Yara, tomada pela raiva e pela dor, respondeu com a voz embargada:
Yara: Você não entende nada! Você nunca entendeu! Você só sabe julgar e criticar! Eu estou precisando de apoio, não de julgamento!
Bernardo, que observava a cena com crescente preocupação, interveio, a voz firme.
Bernardo ( coça a cabeça) Chega! Os dois! Vocês precisam parar! Essa discussão não vai resolver nada. Yara, você precisa se acalmar. Pai, você precisa ser mais compreensivo. Vamos resolver isso com calma, sem gritaria. Primeiro, Yara, conta o que aconteceu. Depois, a gente pensa em como ajudar.
Josué: (Resmungando) Ajudar? Ela não tem o que fazer, fica correndo atrás daquele sem-valor. Quem tem que se ajudar é ela mesma, parando de ser idiota! Se ela não consegue resolver os próprios problemas, problema dela.
Bernardo: Pai, você não pode falar assim! Yara está sofrendo.
Josué: Ela precisa de uma lição de realidade! Precisa aprender a se valorizar e a se afastar desse Diogo, que só a faz sofrer. Essa mania de ficar correndo atrás de homem…
Maria, que até então permanecera em silêncio, interveio, a voz firme.
Maria: Josué, as coisas não são tão simples assim, custa você apoiar nossos filhos?
Josué: Apoio? Ela precisa de uma boa surra de realidade! Precisa aprender a se respeitar e a não se deixar humilhar por aquele…desempregado...
Bernardo: Pai, chega! Você está sendo injusto, meu Deus pra que isso...
Josué: (Suspirando) Eu só quero que ela seja feliz, Bernardo. Mas essa situação com o Diogo… é complicado.
Maria: hum...
Josué ficou em silêncio.
Bernardo: fica calma Yara, logo tudo se resolve.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 23
Comments