— Não pergunta nada, Olívia, só me escuta. Eu… eu tô presa. — a voz dela soou trêmula, como se estivesse segurando o choro.
Meu corpo inteiro enrijeceu.
— Como assim presa?! O que você fez dessa vez, mãe?! — disparei, já me levantando num sobressalto.
— Eu… fui pega. — disse ela, com a voz falhando. — Preciso que venha aqui, por favor. Me ajuda a sair dessa…
— Em qual delegacia você tá? — perguntei, tentando manter a calma, mesmo com o estômago virado.
Ela me passou o endereço e eu desliguei sem pensar duas vezes. Peguei a bolsa, prendi o cabelo num coque bagunçado, calcei o tênis e corri para o ponto de ônibus. O trajeto foi um tormento. As mãos suando, a mente em espiral. Eu conhecia bem o histórico da minha mãe… os vícios, as recaídas, as decisões impulsivas.
Cheguei à delegacia e me identifiquei no balcão.
— Eu vim ver minha mãe, Elaine Hale. Ela foi presa hoje.
O policial me lançou um olhar de pena, como se já soubesse que minha visita não traria boas notícias.
— Acompanhe-me, senhorita. — disse ele, e me guiou até uma pequena sala de atendimento.
Alguns minutos depois, um policial mais velho, com expressão séria, entrou e se sentou diante de mim.
— Senhorita Hale, você é estudante de Direito, certo?
Assenti.
— Estou no penúltimo semestre. Posso saber o que aconteceu com a minha mãe?
Ele cruzou os braços sobre a mesa e soltou a bomba com a frieza de quem já fez isso centenas de vezes.
— Sua mãe foi pega em flagrante tentando vender substâncias ilícitas. Cocaína, para ser exato. Quantidade suficiente para ser configurado tráfico.
Senti o chão sumir sob meus pés.
— Não… não pode ser. Ela... ela não usava mais, ela estava tentando... — minha voz falhou.
— Entendo que seja difícil, mas as evidências são claras. Havia mensagens no celular dela combinando entregas. A situação dela é grave, senhorita Hale. A promotoria vai pedir prisão preventiva sem direito a fiança.
— Sem fiança? — minha voz saiu num fio de desespero.
— Isso mesmo. E com os antecedentes que ela tem, vai ser difícil alguém aceitar assumir a defesa de graça. O processo vai ser rápido, e ela deve ser transferida para uma penitenciária nas próximas 48 horas.
Fechei os olhos por um momento, sentindo a pressão no peito aumentar. Eu não tinha dinheiro. Nem rede de apoio. E, para completar, havia acabado de ferrar meu estágio com Dante Miller. A única pessoa que, com um estalar de dedos, talvez pudesse mudar o destino da minha mãe.
— Eu... posso vê-la? — perguntei com a voz embargada.
O policial assentiu com a cabeça.
— Cinco minutos. Prepare-se. Ela não está em boas condições.
Fui vê-la.
E o que encontrei... partiu algo dentro de mim.
Ela estava encolhida no banco gelado de concreto, os joelhos pressionados contra o peito, os olhos vermelhos, o rosto manchado de lágrimas secas e sujeira. O cabelo desgrenhado, a roupa amassada e suja. Minha mãe parecia uma sombra do que já foi um dia.
Aproximei-me da grade de ferro com o coração em pedaços.
— Mãe… — sussurrei, com a garganta apertada. — Sou eu… tô aqui.
Ela ergueu o rosto devagar e, ao me ver, começou a chorar de novo, soluçando como uma criança.
— Me desculpa, minha menina… me desculpa por tudo… — sua voz era rouca, quebrada, carregada de culpa. — Eu sempre... sempre acabo te decepcionando.
Aquelas palavras me rasgaram por dentro.
— Olha pra mim, mãe… — pedi, com os olhos marejados. — Eu vou dar um jeito, tá me ouvindo? Eu não sei como, nem quando… mas eu vou tirar você daqui. Você não vai apodrecer nesse lugar. Eu prometo.
Mentira. Eu não fazia ideia do que fazer. Mas eu disse mesmo assim. Porque ela precisava acreditar. E porque, no fundo, eu também precisava me agarrar a alguma coisa.
Ela balançou a cabeça, desesperada.
— Não tem jeito, filha… eles vão me enterrar viva aqui dentro. Eu... eu tentei sair dessa vida, juro que tentei, mas não consegui… o vício fala mais alto… e a dor… a dor nunca passou…
Fechei os olhos, tentando conter as lágrimas que queimavam. Eu sabia. Eu sabia de onde vinha aquela dor. Anos de espancamentos, de gritos atrás das portas, de medo constante. Meu pai... aquele monstro… destruiu tudo o que havia de bom na minha mãe. Quando ele desapareceu, achamos que ela teria paz. Mas não foi isso que aconteceu. Ele sumiu, mas as marcas ficaram. As que sangram por dentro.
Ela afundou nas drogas pra fugir. E, quando o dinheiro acabou, começou a vender pra manter o vício. Eu achei que ela tivesse conseguido parar. Achei que, com minha ajuda, ela estava limpa.
Mas eu estava errada.
Apesar de tudo… ela ainda era minha mãe. E nunca foi má. Na verdade… ela só errava quando tentava acertar.
O tempo acabou. Um guarda veio buscá-la e me lançou um olhar silencioso, talvez solidário. Ela foi levada chorando, arrastando os pés, e eu… fiquei ali.
Vazia.
Saí da delegacia como um zumbi. As luzes da cidade pareciam zombar da minha desgraça.
Peguei o celular. Liguei pra todos que conhecia. Colegas da faculdade, professores, advogados conhecidos, até Ethan.
Nada. Ninguém podia ou queria ajudar. O caso dela era pesado demais. Sujo demais. Caro demais.
Ela pegaria anos. Uma vida.
Eu precisava fazer alguma coisa, e eu faria o que fosse preciso.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Estefany
ela poderia encontrar outro mafioso que fizesse uma proposta tbm pra ela aí ela ficaria em dúvida entre os dois mais ela teria que aceitar ele
2025-04-11
3
Maria Luiza Giuliani
vai dar o braço a torcer...
2025-04-11
0
Joselma Trajano
a vida de Olívia não tá fácil🥺 a menina vai entrar no caminho de submisao , e vai virar a cabeça de Dante 🤭
2025-04-13
0