Sede Implacável

Sede Implacável

      Albert não conseguia recolher as presas, devido ao feitiço de Tessália.   Estava confuso e com medo.  Para tentar raciocinar com clareza, buscando encontrar uma solução, saiu sozinho para caçar.   Entretanto, por mais que pensasse não conseguia encontrar uma saída... estava encurralado.   Quando retornou ao seu quarto pela manhã, a herege ainda dormia.  Exausto e desorientado deitou-se ao seu lado para esperar que ela acordasse, com o coração despedaçado e com a cabeça cheia de problemas e preocupações, acabou cochilando.   Pouco tempo depois acordou sobressaltado com a voz de Wynnie o chamando:

       — Albert... você está aqui?  Eu... eu tive um sonho horrível... sonhei que o espirito de sua ex mulher voltou dos mortos e planejava me matar...

       — Minha bela... é você? — Perguntou incrédulo.

       — E quem mais seria?

          — Essa pergunta pode ter mais de uma resposta minha Rainha...  Não era sonho... a maldita herege estava aqui, mas pelo visto, ela já se foi...

       Sem conter sua euforia, Albert beija e abraça sua amada apaixonadamente com predileção.  Ao findar o beijo, a esposa sorri maldosamente, com uma expressão familiar ao Duque.

       — É tão fácil enganá-lo... — Disse finalmente.

       — Tessa! — Gritou afastando-se do leito com indignação.

       — Que falta me fazem os seus beijos...

       — Realmente deviam te fazer muita falta bruxa... até me amaldiçoou para tê-los e agora me fez de tolo para me beijar...

       — Você pensa que é muito esperto Albert, mas na verdade é um ingênuo que eu posso manipular ao meu bel prazer... — Respondeu gargalhando debochadamente.

       — Maldita! — Praguejou o Duque limpando a boca na manga da camisa.

       — Vamos parar com joguinhos Sr. Drummond... sei que deseja morder Wynnie e beber de sua seiva até a última gota.... O sangue dela, é tão saboroso, a pele de seu pescoço é tão macia, tão delicada, o calor que emana de seu corpo é tão intenso que fazem despertar o que você tem de pior... afloram o predador que habita em você. — Disse Tessália em direção a ele abraçando-o.

       — Me solte meretriz imunda! — Decretou em tom agressivo.

       — Eu sei que você deseja se alimentar dela... faça-o... não reprima seus instintos naturais...

       Albert a segura pelos pulsos e se desvencilha do abraço indesejado.

       — Sua sorte é que eu não posso te ferir, mulher desprezível. Se novamente morrer... faça o favor de continuar morta. — Disse tomado pela profunda repulsa que Tessália lhe causava.

       — Seu senso de humor é horrível Sr. Drummond...

       — A você... dedico o pior de mim...

       — Não é prudente me deixar zangada Albert... posso antecipar o nascimento de seus filhos mestiços.... Só mesmo um tolo como você para contaminar a linhagem Drummond.... Pura a séculos descendente direta dos primeiros vampiros filhos de Cain e Lilith...

       — Como ousa ameaçar meus filhos e insinuar que tornei minha linhagem impura? — Perguntou Albert dominado pelo profundo ódio que a herege lhe provocava.

       — Isso mesmo querido... revele seu verdadeiro “eu”... ridículo você se preocupar com reles humanos... deveriam ser meros peões no nosso tabuleiro... uma fonte inesgotável de alimento e nada mais.  Eu sei que você a quer meu Senhor... está se esforçando demais para resistir...

       Nesse instante Tessa recolhe do chão um caco de vidro da garrafa de vinho quebrada e faz um arranhão no pescoço de Wynnie... o cheiro inebriante invade o olfato e o paladar do vampiro fazendo-o salivar.   A herege passa as mãos no corte e toca o rosto do Duque com as mãos sujas de sangue dizendo em um delírio sensual e sedutor:

       — Venha... venha meu Senhor... entregue-se a sua sede...

       — Não ouse me chamar de “meu Senhor” ... — Respondeu o Duque tentando inutilmente se desvencilhar das garras maléficas e sedutoras da serva de Hazahell.

       — Claro... era assim que ela te chamava logo que se conheceram.... Meu Senhor...

       Albert sem forças respirou fundo e o doce aroma do sangue de sua amada impregnou seus sentidos, não mais poderia resistir... a voz de Tessália invadia seus ouvidos e sua alma como uma perversa sirena que deseja arrastá-lo para as profundezas do oceano, divertindo-se ao ver a embarcação do Duque chocar-se contra os rochedos.   O vampiro a tomou em seus braços com evidente desejo e descontrole, rosnou, preparou-se e finalmente a mordeu.  Tessa gemeu de satisfação.   Entretanto a senhorita sorte, sempre estava disposta a sorrir para o nobre vampiro, e nesse mesmo instante, Eduard e Wendy correndo adentram o quarto sem bater.

      — Pai!   Olha que bonitas as gravuras desse livro que eu e Wendy estamos lendo! — Grita o garoto.

      Graças a interrupção do filho e de sua pequena dama, Albert consegue despertar do transe e se afastar.

      A herege, ao vê-lo, ao invés de amolecer o seu coração de pedra, só consegue pensar que o menino mais uma vez atrapalhou os seus planos.   Ela nunca amou o filho, ele apenas foi um mero instrumento para tentar prender Albert ao seu lado.

      — Pai!  Está tudo bem?  Você estava...

      — Procurando minhas abotoaduras! — Respondeu Albert apressadamente.

      — Mas... estão aí nos seus punhos...

      — Não são estas Ed... são outras. — Desconversou.

      — Então vou ajudar a procurar!

      — Não! Não precisa...

      — Eduard... venha aqui dar um abraço na sua mamãe...        — Disse Tessa ao presenciar os acontecimentos tentando tirar proveito da situação.

      — Afaste-se do meu filho... mulher monstruosa! Maldita! Sádica! — Bradou Albert extremamente descontrolado, afastando o garoto dela, no limite da loucura.

      — Pai... porque está falando assim com a mamãe?  E o que é sádica?

      — Nada importante filho... são apelidos carinhosos que inventei para chamar sua mãe... — E de fato, isso de alguma forma era verdade.

      — Por uns dias, não venha a esse quarto ver sua mãe... ela está muito doente, não sabemos o que ela tem... faça companhia a seu tio Richard e conte a ele porque ficarei uns dias afastado...

      — Está bem pai...

      Albert ajoelhou e abraçou seu primogênito com carinho e disse com afeição:

      — Eu te amo filho...

      — Beijo tio. — Disse Wendy beijando o nobre no rosto antes de sair, o Duque era a única figura paterna que conhecia.

      Após os pequenos saírem, Tessa no desespero de agredir Albert com todas as armas disponíveis, usou uma que conhece muito bem.... A mentira.

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